Título:
Manobras de
reposicionamento.
Autor: Ilka
do Amaral Soares, Fernanda Amaral Carlos, KazuoTaguchi.
Este
material foi adaptado pelo Laboratório de Acessibilidade da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, em conformidade com a Lei 9.610 de 19/02/1998,
não podendo ser reproduzido, modificado e utilizado com fins comerciais.
Adaptado
por: Helem Andrade.
Adaptado
em: Janeiro de 2025.
Padrão
vigente a partir de janeiro de 2022.
Referência:
SOARES, Ilka do Amaral; AMARAL, Fernanda.; TAGUCHI, Carlos Kazuo. Manobras de
reposicionamento. In: TAGUCHI, Carlos
Kazuo. et al. (ed.). Tratado de equilíbrio
corporal: da ciência à prática clínica. 1. ed. São Paulo: Manole, 2023. cap.
20, p. 375-396.
P. 373
Manobras
de reposicionamento
Ilka do Amaral Soares
Fernanda Amaral Carlos
KazuoTaguchi
INTRODUÇÃO
A vertigem posicionai
paroxística benigna (VPPB) é das mais frequentes afecções vestibulares e pode
variar entre 3 e 10%, 17 e 20%[Nota 1] ou entre 20 e 30%[Nota 2] da população com queixa de desequilíbrio
corporal. Tem maior prevalência no sexo feminino e em pacientes com idade entre
50 e 70 anos. O acometimento de canais semicirculares posteriores (CSCP) é o
mais frequente (86%), seguido dos laterais (CSCL) (11%), e mais raro o de
canais semicirculares anteriores (CSCA) (3%).[Nota 3] [Nota
4]
A descrição de comprometimento
de mais de um canal, chamado de comprometimento multicanal, é mais recente.[Nota 5] A
descrição primária desse tipo de alteração foi a de Bárány nos meados de 1920,
em que a tontura ou vertigem, de breve duração e concomitante à movimentação
cefálica, estavam presentes. A presença de nistagmo torcional, horizontal ou
vertical pode ser evidente, porém com latência de batimento, com paroxistimia,
com duração entre 5 e 20 segundos, fatigável e reversível quando adotada a
posição de cabeça ereta.[Nota
6]
Essa afecção, apesar de
frequente, ficou muito tempo sem tratamento em função do desconhecimento de sua
fisiopatologia, que foi descrita por Schuknech no final da década de 1960. A
partir da constatação de que era uma afecção decorrente do deslocamento de
partículas microscópicas das otoconias (debris), a concretização do tratamento
só foi possível com a introdução de manobras de diagnóstico definidas como
pesquisa do nistagmo de posicionamento, como a de Brandt-Daroff, Dix-Hallpike e
Head, entre outras. Atualmente, várias proposições de manobras de
reposicionamento, para realocar os debris soltos
P. 374
junto â mácula utricular foram descritas,
inclusive com um robusto nível de evidência cientifica que confere sua
eficácia. [Nota 1]
O propósito deste capítulo é
descrever as diferentes formas de reposicionamento nas vertigens posicionais, e
ressaltar a importância da forma correta de diagnóstico anterior à fase de
reabilitação. Destaca-se, ainda, que esse campo de atuação foi ratificado pelo
Conselho Federal de Fonoaudiologia,[Nota 7] que, em 2018, publicou a Resolução n. 526, de
27 de abril de 2018, que “Dispõe sobre a competência técnica e legal do
fonoaudiólogo para realizar avaliação e reabilitação da função vestibular e do
equilíbrio corporal humano”. É notório e urgente que se fomente e estimule a
inserção de profissionais nesse vasto campo do conhecimento.
O atendimento ao paciente com
VPPB, ou com qualquer outro tipo de queixa de desequilíbrio corporal, deve ser
iniciado como o componente mais importante no “quebra-cabeça diagnóstico do
paciente”,[Nota 8]
o que contribuiu positivamente para as sequências de exames e tratamento.
A tontura ou vertigem pode
estar acompanhada por sintomas isolados ou por uma combinação delas. As
características como tipo, duração, fatores desencadeantes, sintomas associados
e observação não instrumentadas como pesquisa de nistagmo espontâneo, o Teste
do Impulso Cefálico Clínico, testes de posicionamento e de equilíbrio estático
e dinâmico podem fazer parte da bateria inicial de investigação clínica.[Nota 8]
A investigação audiológica com
audiometria e potencial evocado pode ser útil, mas não essencial, uma vez que a
queixa é de tontura associada à movimentação cefálica. De forma geral, o exame
vestibular com prova calórica se apresenta sem alterações, o que torna a
pesquisa do nistagmo de posicionamento o ponto-chave para definir quais CSC
estão afetados, além de fornecer pistas sobre a manobra a ser utilizada em cada
caso.[Nota 8]
Na prática clínica, sugere-se
a introdução de avaliação do impacto da tontura na qualidade de vida do
paciente com escalas analógicas e visuais e, mais comumente, o Dizziness
Handicap lnventory brasileiro. Esse questionário possui 25 questões que abordam
os domínios físico, funcional e psicológico e mostram a severidade da tontura
nas atividades cotidianas, e pode ser um instrumento para avaliação de
benefício do tratamento, quando comparados os resultados da subtração dos
valores finais dos iniciais.[Nota 9]
P. 375
FUNDAMENTAÇÃO
PARA APLICAÇÃO CLÍNICA
Diagnóstico
da vertigem posicionai paroxística benigna
A história clínica e os
achados oculares durante os testes de posicionamento são considerados
padrão-ouro no diagnóstico da VPPB.[Nota 10] Entretanto, a visualização do nistagmo
provocado pode ocorrer com ou sem equipamentos auxiliares.
Registrar os movimentos dos
olhos potencializa a observação e a classificação do nistagmo durante o
diagnóstico da VPPB, sobretudo de forma didática, para auxiliar os clínicos com
pouca experiência e, ainda, estudantes em graduação ou pós-graduação. Para
tanto são utilizados os óculos de Frenzel ou registro dos movimentos oculares
por meio da videoculografia. Entretanto, na maioria dos casos, o nistagmo
também pode ser visto clinicamente sem equipamento.[Nota 3]
Muitos pacientes indicam qual
orelha está afetada durante a anamnese e, ainda, descrevem, por exemplo, os
sintomas que se apresentam quando fazem movimentos ao rolar na cama para a
direita ou para a esquerda.[Nota 10]
Entretanto a avaliação por meio das manobras posicionais diagnosticas é
essencial para identificar especificamente o(os) CSC acometido(s) e a
fisiopatologia envolvida, como a canalitíase ou a cupulolitíase.[Nota 11]
Diferenças
entre os dois tipos de acometimento segundo a fisiopatologia: canalitíase x
cupulolitíase
A VPPB ocorre de duas
maneiras, canalitíase ou cupulolitíase, e pode, de acordo com a teoria, afetar
cada um dos três CSC.[Nota 10] A diferenciação
entre elas é possível por meio da observação de características clínicas
essenciais durante o processo de diagnóstico, como latência, direção e duração
do nistagmo de posicionamento.
A canalitíase ocorre quando
partículas (as otoconias ou partículas denominadas debris) se soltam da mácula
utricular e se movem dentro de um dos CSC e provocam vertigem após um movimento
desencadeador, como um movimento cefálico brusco. Em decorrência desse fenômeno
surge um nistagmo súbito e transitório, que apresenta uma breve latência e
tende a gerar sintomas mais graves.[Nota 12]
P. 376
Na cupulolitfase, as otoconias
só desprendem da mácula utricular e se fixam na cúpula, porém a vertigem também
surge após determinadas posições cefálicas. O nistagmo característico,
entretanto, é diferente: seu início é gradual e permanece enquanto a posição
provocativa for mantida, porém com sintomas mais amenos.[Nota 12]
Tabela
1
Características do nistagmo e acometimento entre os dois tipos de vertigem
posicionai paroxística benigna, segundo o local da lesão
Cupulolitíase |
Canalítíase |
Nistagmo presente |
Nistagmo presente |
Otocônias na cúpula |
Otocônias nos canais semicirculares |
Início imediato da vertigem na posição |
Latência para o aparecimento da vertigem |
Persistência de nistagmo e vertigem enquanto
na posição |
Paroxismo do nistagmo e da vertigem |
Fonte: elaborado pelos autores.
Destaca-se que a investigação
do local e das características da lesão são essenciais para que possam ser
indicadas as manobras específicas de reposição das otoconias para a mácula
utricular. Por isso, as manobras de posicionamento, ou diagnosticas para a
VPPB, devem ser conduzidas de forma segura e confortável, uma vez que as
evidências de sucesso são robustas nessa área de atuação clínica.[Nota 13]
VPPB
de canal semicircular lateral ou horizontal
A VPPB de CSCL apresenta
remissão de sintomas mais fácil que a VPPB de CSCP, possivelmente por sua
localização anatômica.[Nota 10] Sua forma mais comum é a cupulolitíase, pois
a vertigem é muitas vezes intensa e persiste enquanto a cabeça está na posição
provocativa da tontura.
O teste considerado
padrão-ouro para o diagnóstico da VPPB de CSC horizontal é a manobra de
Pagnini-McClure, também conhecida como Roll Test supino. Nessa avaliação, o
paciente é posicionado em decúbito dorsal e sua cabeça é elevada a
aproximadamente 30 graus. Em seguida deve ser virada rapidamente, primeiro para
um lado e depois para o outro.[Nota 10][Nota
14] O nistagmo decorrente é geotrópico (com a componente rápida do
nistagmo que bate na direção do centro de gravidade) ou ageotrópico (com o
batimento nistágmico contrário ao centro de gravidade) horizontal e pode
ocorrer ao testar um ou
P. 377
ambos os lados. Mesmo quando unilateral, o lado
acometido será o que apresentar nistagmo mais intenso ou maior sensação de
vertigem,[Nota 3]
no caso de o nistagmo ser geotrópico, ou menos intenso e com menor sensação de
vertigem, no caso de o nistagmo ser ageotrópico ou apogeotrópico.
Tabela
2
Possíveis achados na manobra diagnóstica de Head Roll Test para canais
semicirculares laterais
Direção
do nistagmo |
Nistagmo
para a esquerda |
Nistagmo
para a direita |
Geotrópico |
Canalitíase E |
Canalitíase D |
Ageotrópico |
Cupulolitíase D |
Cupulolitíase E |
D: direito; E: esquerdo.
Fonte: Gonçalves et al.[Nota 15]
VPPB
de canal semicircular anterior ou superior
A VPPB de CSCA é considerada
uma condição rara. Além disso, determinar o lado afetado por meio da manobra de
Dix-Hallpike nem sempre é uma tarefa fácil, pois muitas vezes o nistagmo pode
ser detectado bilateralmente, o que pode dificultar o diagnóstico.[Nota 16]
O nistagmo provocado pela manobra
de Dix-Hallpike é torcional horário ou anti-horário e aparece imediatamente ou
após alguns segundos, com batimento vertical descendente.[Nota 13] [Nota 17]Essa
variedade de manifestações clínicas durante Dix-Hallpike pode ser atribuída a
alguns fatores, como a anatomia dos CSC ou até mesmo a extensão cefálica do
paciente durante a manobra.[Nota 16]
VPPB
de canal semicircular posterior
A VPPB de CSCP é a forma mais
comum, em geral causada por canalitíase. [Nota 10] Seu diagnóstico ocorre por meio do teste de
Dix-Hallpike, em que é observado um nistagmo ascendente vertical na posição
deitado, e pode ocorrer a reversão do nistagmo ao retornar à posição vertical.[Nota 3][Nota 10]Durante a
estimulação é muito comum o paciente apresentar vertigem intensa, sobretudo
quando se estimula o lado da orelha afetada.
A manobra de Dix-Hallpike
(Figura 1) foi descrita em 1952, e consiste em posicionar o paciente sentado em
uma maca, rotacionar a cabeça em 45 graus no sentido horizontal para um dos
lados, com os olhos abertos, e deitar de forma que a cabeça fique pendente, com
o pescoço hiperestendido aproxima
P. 378
damente em 20 graus.[Nota 18][Nota 19]Nesse
momento o examinador precisa observar a presença ou não do nistagmo, e para
isso é necessário solicitar ao paciente que fixe o olhar em um ponto. O
nistagmo surge de 3 a 30 segundos depois e persiste por vários segundos. Depois
de no mínimo 30 segundos ou após cessar a vertigem, volta à posição sentado e
mais uma vez é observada a presença ou ausência do nistagmo.[Nota 18] Em
seguida a manobra é repetida para o lado contrário.
A manobra é considerada
positiva quando o paciente apresenta nistagmo em uma ou mais posições, e é
considerada “positiva subjetiva” quando refere vertigem em uma ou mais
posições, porém não apresenta nistagmo. Durante a manobra de Dix-Hallpike é
observada a característica do nistagmo, sua latência e a ou as orelhas
afetadas. Com base nesses dados e na história clínica do paciente é
identificado o canal ou os canais afetados. Uma característica importante é que
o nistagmo posicionai sempre bate ao estimular o canal afetado e na direção
esperada para excitação ou inibição do canal.
Pode acontecer também de o
nistagmo não ser visível durante a manobra de Dix-Hallpike, porém, se o
paciente apresentar a vertigem clássica durante o posicionamento, a VPPB está
confirmada. Esse fenômeno é chamado de VPPB “subjetiva”.[Nota 10] A
ausência do nistagmo pode ser explicada por um nistagmo sutil, que não foi
visualizado pelo examinador, nistagmo fatigável ou uma forma mais leve da VPPB,
que provoca vertigem sem estimular a via vestíbulo-ocular.[Nota 20]
Figura
1
Manobra de Dix-Hallpike, utilizada para diagnóstico de vertigem posicionai
paroxística benigna (VPPB).
Fonte: arquivo dos autores.
P. 379
Entretanto, a manobra de
Dix-Hallpike apresenta algumas limitações, como no caso de pacientes muito
tensos, que por medo da vertigem não conseguem relaxar o pescoço o suficiente
para permitir movimento da cabeça para trás, ou quando o paciente tem restrição
de amplitude de movimento cervical, por limitações musculoesqueléticas ou
obesidade. [Nota 19]
Tabela
3
Características do nistagmo durante a manobra de Dix-Hallpike na vertigem posicionai
nos canais semicirculares posteriores
Características do nistagno |
Surgimento com latência entre 3-30 segundos |
|
Duração entre 30 segundos e 1 minuto |
|
Reverte ao sentar |
|
Fatigável |
Fonte: elaborado pelos autores.
Vertigem
posicionai multicanais
A VPPB pode acometer mais de
um canal simultaneamente, com várias combinações de nistagmo, o que pode
interferir no diagnóstico e ser confundido com uma vertigem posicionai de
origem central. Pode envolver os CSC da mesma orelha ou de ambas, entretanto vale
salientar que casos que afetam as duas orelhas ocorrem geralmente em virtude de
traumatismo craniano, enquanto a VPPB multicanal unilateral é mais comum em
pacientes com história prévia de VPPB.[Nota 20]
Para seu diagnóstico efetivo é
imprescindível realizar manobras de posicionamento que avaliem todos os CSC,[Nota 12] como
Dix-Hallpike e Roll Test supino.[Nota 3] A combinação mais comum na VPPB multicanal
unilateral é de CSCP e CSCL, por outro lado o CSCA é menos provável.[Nota 21]
ATUAÇÃO
FONOAUDIOLÓGICA NA VPPB
O tratamento para a VPPB é
realizado pelo profissional nos seguintes passos:
P. 380
As manobras de
reposicionamento constituem uma série específica de movimentos da cabeça,
realizados pelo profissional, que usa a gravidade para guiar os cristais de
volta ao utrículo, local onde originalmente deveriam estar. Alguns exemplos
são: manobra de Epley, manobra de Gufoni, de Yacovino, entre outras.
Na manobra liberatória
indicada, principalmente nos casos de cupulolitíase, o profissional move
rapidamente a cabeça do paciente no plano do canal afetado para primeiro
desalojar os cristais aderidos à cúpula e, em seguida, guiá-los de volta ao
utrículo. Um exemplo é a manobra de Semont. Uma manobra usada para o tratamento
do tipo mais comum de VPPB é chamada de manobra de Epley, no entanto isso não
funcionará para todas as apresentações da VPPB. Muitas vezes as pessoas
tentaram a manobra de Epley por conta própria ou a executam sem sucesso.
Avaliações posteriores revelam que, na verdade, é uma manobra diferente que
deveria ter sido usada ou que não se trata da VPPB. É por isso que se deve ter
cuidado com o autotratamento ou com alguém que não esteja capacitado para
identificar as muitas variantes da VPPB e respectivas manobras de reposição.
Além disso, antes de testar ou tratar a VPPB, o fonoaudiólogo deve realizar uma
varredura oculomotora cuidadosa e outras investigações relacionadas à segurança
para determinar se certos movimentos e posições precisam ser modificados ou
evitados.[Nota 22]
Manobras
de reposicionamento para CSCP
Manobra de Epley
Esta foi descrita inicialmente
por Epley em 1992. Os pacientes são movidos sequencialmente por meio de uma
série de mudanças de posição da cabeça, projetadas para utilizar a gravidade
para mover partículas flutuantes pelo alinhamento do CSCP de volta ao
vestíbulo, que alivia assim o estímulo que causava a vertigem na VPPB.[Nota 23] A
seguir apresenta-se a sequência dessa manobra ilustrada na Figura 2.
P. 381
Figura
2
Manobra Epley.
Fonte: arquivo dos autores.
O que observar nessa manobra:
P. 382
Manobra de Semont ou manobra liberatória de
Semont
Essa manobra foi desenvolvida
por Semont[Nota 24]
e utiliza forças de inércia e gravidade para mover os pacientes rapidamente
para uma posição deitada de lado (lado envolvido) e depois por meio de um arco
rápido de 180 graus para o lado não envolvido. Foi projetada para mover as
partículas de otoconias do CSCP de volta para o vestíbulo, deslocando-as da
cúpula (cupulolitíase) e/ou reposicionando otólitos flutuantes (canalitíase).
Quando usar: para tratar casos
de VPPB de canal posterior, quando se prefere movimentar o paciente no plano
frontal ou de frente para o avaliador.
A seguir apresenta-se a
sequência da manobra liberatória de Semont ilustrada na Figura 3.
Figura
3
Manobra liberatória de Semont.
Fonte: arquivo dos autores.
P. 383
O que observar:
Manobras
de reposicionamento para CSCL
Manobra de Gufoni
Em 1988, Gufoni et al.
descreveram esta manobra para tratar VPPB de CSCL do tipo canalitíase. As taxas
de sucesso relatadas para a manobra de Gufoni na variante geotrópica de VPPB de
CSCL após uma ou duas aplicações são bastante altas (78,1 a 86% e 93 a 100%,
respectivamente).[Nota
25]
A seguir apresenta-se a
sequência da manobra ilustrada na Figura 4.
P. 384
Figura
4
Manobra de Guffoni segundo Appiani.
Fonte: arquivo dos autores.
O que observar:
Manobra de Barbecue 270 graus ou manobra de
Lempert
As manobras do tipo Barbecue
operam por inércia e são executadas por meio de rotações abruptas da cabeça do
paciente em passos de 90 graus em direção ao lado sadio com o paciente em
supino.
Quando usar: para tratar VPPB
de canal horizontal do tipo geotrópica.
P. 385
Cada rotação da cabeça de 90
graus é realizada rapidamente em meio segundo. As posições da cabeça são
mantidas por 30 a 60 segundos até que todo o nistagmo desapareça, e a sequência
apresenta-se a seguir, juntamente com a Figura 5.
Manobra de Zuma e Maia
Em 2016, Zuma e Maia[Nota 27]
propuseram uma nova estratégia de tratamento para VPPB de canal horizontal
ageotrópica (presença de nistagmo horizontal que bate no sentido da orelha mais
alta) que é projetada para destacar tanto os
Figura
5
Manobra de Lempert.
Fonte: arquivo dos autores.
P. 386
debris otoconiais do braço anterior do CSC
quanto os debris que estão presos ao lado utricular da cúpula com o uso da
inércia e gravidade.
Quando usar: para tratar VPPB
de CSCL do tipo ageotrópico e geotrópico (manobra de Zunia e Maia modificada).
Apresenta-se a seguir a sequência de reposição, que está ilustrada na Figura 6.
Figura 6 Manobra de Zuma e Mala.
Fonte:
arquivo dos autors
P. 387
O que observar: caso os
otólitos estejam soltos no braço anterior do canal horizontal (partículas
flutuam livremente no canal):
Caso os otólitos estejam
localizados na cúpula do lado do canal horizontal:
Caso os otólitos estejam
localizados na cúpula no lado utricular:
Teoricamente, com base em um
modelo biomecânico 3D dos CSC, a manobra de Zuma e Maia original também poderia
ser realizada para pacientes com VPPB de CSCL geotrópica. Na posição 1 dessa
manobra, os otólitos, inicialmente localizados no braço posterior do CSCL,
fluem na direção do braço anterior (afastando-se do utrículo e em direção à
ampola) e provocam uma corrente endolinfática excitatória utriculípeta. Durante
as etapas restantes da manobra, os otólitos fluiriam de volta para o braço
posterior antes de entrar no utrículo.[Nota 29]
P. 388
Mas, para evitar um estímulo
excitatório desnecessário e o movimento dos otólitos para longe do utrículo, é
indicado realizar a manobra de Zuma e Maia modificada. A modificação em relação
à manobra original é um giro da cabeça de 45 graus para o lado não afetado na
posição sentada (posição 1). O paciente é então solicitado a deitar-se sobre o
lado afetado (posição 2). Em seguida, o paciente se move para decúbito dorsal e
a cabeça é girada 45 graus em direção ao lado não afetado (posição 3). A cabeça
é então girada 90 graus em direção ao lado não afetado (posição 4). Finalmente,
a cabeça do paciente é levemente inclinada para a frente, seguida de um retorno
lento à posição sentada (posição 5). Com essa modificação as partículas se
movem apenas em direção ao utrículo, causando um estímulo inibitório.[Nota 27]
Outra consideração importante
deve ser mencionada. Na última etapa tanto da manobra de Zuma e Maia quanto da
variante modificada, antes que o paciente retorne à posição sentada, a cabeça
pode ser levemente inclinada para a frente para estimular as partículas a se
moverem em direção ao utrículo, caso contrário os otólitos podem se mover de
volta para o lúmen do CSCL[Nota 27] [Nota 28] (Figura 7).
Manobra de Kim
A manobra de Kim, proposta em
2012, é um método de tratamento para cupulolitíase do CSCL que pode ser
aplicado independentemente do lado da cúpula onde os otólitos são fixados. É
uma manobra rica em detalhes e que precisa da atenção do clínico.[Nota 30]
Quando usar: para tratar VPPB
de canal horizontal do tipo ageotrópico. É mais utilizada nos casos de nistagmo
persistentemente ageotrópico apesar de testes e manobras repetitivas. Isso pode
representar cupulolitíase do canal horizontal na porção mais próxima do
utrículo, isto é, o lado utricular.[Nota 30]
A seguir apresenta-se a sequência dessa
manobra, que está ilustrada na Figura 8.
P. 389
Figura
7
Manobra de Zuma e Maia modificada.
Fonte: arquivo dos autores.
O vibrador utilizado pelo
autor da manobra foi o portátil de 60 Hz.
P. 390
Figura
8
Manobra de Kim
Fonte: arquivo dos autores
O que observar:
P. 391
Manobras
de reposicionamento para CSCA
Manobra de Yacovino
Em 2009, Yacovino et al. [Nota 17]
idealizaram uma manobra com quatro etapas, que visa ao tratamento específico da
VPPB de CSCA. A seguir apresenta-se a sequência de reposicionamento, que está
ilustrada na Figura 9.
Figura
9
Manobra de Yacovino,
Fonte: arquivo dos autores.
P. 392
O que observar:
VPPB
multicanais
Embora o canal posterior seja
de longe afetado no maior número de pacientes com VPPB, um possível
envolvimento de outros canais deve sempre ser considerado. Na VPPB de
multicanais, os canais comprometidos, sejam unilaterais ou bilaterais, devem
ser tratados individualmente, quase sempre com a necessidade de diversas
manobras e algumas sessões.[Nota 34]
Complicações
durante ou após a manobra
As manobras causam o
desencadeamento de alguns sintomas, como náuseas, vômitos, sudorese e
taquicardia. Podem ser vistos alguns sinais, como o fenômeno de Tumarkin, que é
uma reação de sobressalto para trás com tontura intensa, o Canalith Jam; a
conversão de canal; aparecimento de dores na coluna cervical e lombar; e sensação
de instabilidade ao levantar-se. Alguns pacientes podem apresentar a síndrome
do dia seguinte, que consiste nos seguintes sintomas: sensação de cabeça leve
ou oca, sensação de desequilíbrio e instabilidade posicionai e, ainda, tontura. [Nota 32]
Cuidados
e orientações pós-manobra
As orientações após a manobra
irão variar de acordo com a manobra realizada. Após manobras para o tratamento
do CSCL poderá ser solicitado ao
P. 393
paciente que durma do lado afetado nos casos de
uma cupulolitíase para ajudar no deslocamento dos otólitos aderidos à cúpula,
ou do lado são para o reposicionamento de otólitos ao utrículo no caso de uma
canalitíase.[Nota 35]
Solicita-se que o paciente não realize movimentos bruscos da cabeça para o lado
tratado, e destaca-se que o uso de manobras para o tratamento da VPPB é uma
opção simples e de resultados satisfatórios e independem das restrições
posturais mais recomendadas.[Nota 33]
ESTUDO
DE CASO
MSF, paciente do sexo
feminino, casada, dona de casa, 57 anos na data de admissão no Ambulatório de
Equilíbrio. Paciente com ensino fundamental incompleto, com queixa de tontura
associada à movimentação cefálica, dor de cabeça e zumbido. Nega hipertensão
arterial, diabetes ou outras comorbidades. Trouxe exame vestibular que referia
apresentar hipofunção vestibular periférica deficitária unilateral à esquerda,
sem queixas de alteração auditiva. Fez 68 pontos na aplicação do Dizziness
Handicap lnventory brasileiro (DHI), compatível com impacto moderado da tontura
nas atividades cotidianas. No Dy-natnic Gait Index (DGI) - Brazilian brfez 10 pontos, compatível com risco
para quedas, e realizou o teste Timed Up and Go (TUG) em 8 segundos, compatível
com bom equilíbrio dinâmico e independência funcional. Na primeira manobra
diagnostica de Dix-Hallpike apresentou nistagmo ageotrópico no posicionamento
para a direita e geotrópico para a esquerda que correspondem à cupulolitíase e
canalitíase de CSC horizontais direito e esquerdo, respectivamente. Foram
realizadas a manobra de Zuma e Maia para a direita, e a de Casani para a
esquerda, com remissão de queixas posturais. A paciente continuou em
atendimento para adequação do reflexo vestíbulo-ocular (RVO) por apresentar
queixa residual. Seis meses após o tratamento, a paciente referiu tontura
associada à movimentação cefálica. Naquela data realizou-se nova manobra
diagnostica, com presença de nistagmo torcional rotatório no sentido
anti-horário para o lado direito. Na mesma data foi realizada a manobra de
Epley, com remissão de queixa. No momento da alta, o DHI foi zero, o
DGI-Brazilian brief 15 pontos e o TUG realizado em 9 segundos. Todos os escores
finais foram compatíveis com benefício do atendimento e eliminação do risco
para quedas.
P. 394
CONCLUSÃO
Atualmente existem várias
manobras para o tratamento da VPPB, e os diversos estudos demonstram os
resultados com diferentes tipos de manobras de reposicionamento descritos que
se apresentam eficazes e com resolução do problema. A experiência clínica é
muito importante para definir uma estratégia de manejo desses pacientes, mas o
conhecimento da anatomia e dos mecanismos fisiopatológicos dos CSC é essencial
para o tratamento das vertigens posicionais.
As evidências científicas
apontam que a recuperação do equilíbrio associado à movimentação cefálica
ocorre em mais de 93% dos pacientes quando realizada a manobra de reposição, e
pode alcançar até 98% nos pacientes com alteração do tipo multicanal. A
expectativa de correção em uma única manobra é relevante e eficaz, podendo ser
necessárias até três manobras nos casos mais refratários e difíceis. A chave
mais importante para o sucesso terapêutico é a correta identificação de
qual(is) canal-semicircular(es) está(estão) afetado(s).
CONCEITOS-CHAVE
P.
395
REFERÊNCIAS
14. Lee
S-H, Kím JS. Benign paroxysmal positional vertigo. J Clin Neurol. 2010;6:51-63.