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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DE PROCESSOS INSTITUCIONAIS
USABILIDADE E ACESSIBILIDADE
NO REPOSITÓRIO DE INFORMAÇÃO ACESSÍVEL DA UFRN: AVALIAÇÃO
ERGONOMICA DE INTERFACES WEB
MARGARETH MACIEL FIGUEIREDO DIAS FURTADO
NATAL - RN 2016
MARGARETH MACIEL FIGUEIREDO DIAS FURTADO
USABILIDADE E ACESSIBILIDADE
NO REPOSITÓRIO DE INFORMAÇÃO ACESSÍVEL DA UFRN: AVALIAÇÃO
ERGONOMICA DE INTERFACES WEB
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Gestão de Processos Institucionais (PPGGPI) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Gestão de Processos Institucionais.
Orientador: Prof. Dr. Sebastião Faustino
Pereira Filho
NATAL - RN 2016
MARGARETH MACIEL FIGUEIREDO DIAS FURTADO
USABILIDADE
E ACESSIBILIDADE NO REPOSITÓRIO DE INFORMAÇÃO
ACESSÍVEL DA UFRN: AVALIAÇÃO ERGONOMICA DE INTERFACES WEB
Natal, de de 2016. Nota:
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Gestão de Processos Institucionais (PPGGPI) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Gestão de Processos Institucionais.
Prof. Dr. Sebastião Faustino Pereira Filho - PPGGP/UFRN
Presidente/Orientador
Prof. Dr. Antonio Roberto Faustino da Costa - PPGFP/UEPB
Membro Examinador Externo à Instituição
Prof. Dr. Jefferson Fernandes Alves - PPGED/UFRN
Membro Examinador Externo ao Programa
Prof.ª Dr.ª Cynara Carvalho de Abreu - PPGGP/UFRN
Membro Examinador Interno
A Deus, o Senhor de minha vida. Aos meus pais, pela minha educação e pelos valores ensinados ao longo da vida.
A Claudio (esposo) e Gabriela (filha querida)
Primeiramente a Deus, que me deu força e coragem nessa trajetória para mais esta conquista em minha vida acadêmica.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Sebastião Faustino Pereira Filho, que acreditou na minha pesquisa e me incentivou, auxiliando em todos os momentos de concepção da dissertação e me transmitindo novos conhecimentos.
A grande amiga Christiane que em sua trajetória e experiência de trabalho com acervos inclusivos, me fez perceber os usuários invisíveis de uma biblioteca. Uma pessoa ímpar que tenho como exemplo de humanidade e amizade. Obrigada pelo incentivo para o meu crescimento acadêmico, assim como pelo carinho, pela compreensão e pela amizade.
Aos professores Dr. Jefferson Fernandes Alves e Dr.ª Cynara Carvalho de Abreu, membros da banca examinadora, pela disponibilidade e pelas sugestões, discussões e contribuições pertinentes dadas no sentido de aprimorar a minha dissertação.
Aos professores do Programa de Pós-graduação em Administração (PPGPI) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) com quem convivi durante os últimos dois anos, pela contribuição a minha formação acadêmica e ao meu enriquecimento intelectual.
Aos meus colegas e companheiros de trabalho que acompanharam minha trajetória no mestrado – Ana Paula, Erica Simony, Nadson, Sidney, Vanessa, Erika Luzia, pelo apoio incondicional na execução desta pesquisa.
À amiga em especial Milena pela amizade e confiança desde meus primeiros anos de trabalho na UFRN, guardo sempre lembranças do trabalho em equipe na BSE do CCHLA.
Agradeço às minhas amigas Elizabeth (EMUFRN) Maria Ilza (IFRN), Ana Claudia (TJRN) e Márcia (BCZM) pelos conselhos e palavras de carinho, incentivo, encorajamento, conforto e superação.
Aos colegas da turma de mestrado Pedrinho, Rainete, Giselle, Camila, Elmo, Bruno, Franklin, Walter, Denise, Maristela e Alberto pela amizade construída, diálogos de conforto e ajuda nos momentos necessários.
A Biblioteca Central Zila Mamede por viabilizar recursos e serviços na realização da pesquisa.
A todos os participantes do teste de usabilidade, pois sem os quais, certamente, esta pesquisa não poderia ter sido realizada.
Enfim, agradeço a todas as pessoas que, de maneira direta ou indireta, contribuíram tão significativamente para meu crescimento profissional e acadêmico, com gestos ou palavras de encorajamento.
“O amor de Deus me sustenta”.
Salmo. 94,18.
Esta pesquisa visa avaliar os requisitos ergonômicos de usabilidade e acessibilidade presentes na interface do Repositório de Informação Acessível, considerando a opinião dos usuários com baixa visão e cegueira. A operacionalização deste objetivo geral deu-se por meio dos seguintes objetivos específicos: a) verificar a funcionalidade de botões e links apresentados na interface do Repositório de Informação Acessível da Universidade Federal do Rio Grande do Norte; b) identificar os entraves e inconsistências de usabilidade e acessibilidade na interface; c) conhecer os pontos passíveis de melhorias da interface do Repositório de Informação Acessível que contribuam com subsídios para elaboração de proposta de intervenção a ser realizada na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. A pesquisa se caracterizou como exploratória, descritiva e aplicada, empregando a estratégia metodológica de estudo de caso, com base em uma abordagem quanti-qualitativa. A coleta de dados foi feita com o desenvolvimento de teste de usabilidade, observação participante e questionário semiaberto. Para a análise quantitativa dos dados foi empregado o método estatístico; e para a análise qualitativa foi adotada a análise de conteúdo. Para a convergência dos resultados foi empregada a triangulação dos dados para múltiplos instrumentos. A amostra investigada foi composta por oito usuários cadastrados no Repositório de Informação Acessível, representando 25% dessa população. Quanto à caracterização dos participantes, a análise evidenciou o seguinte perfil: mulheres (50%), entre 31 e 40 anos, três com baixa visão e uma com cegueira, sendo três na graduação e uma na pós-graduação; homens (50%), entre 34 e 53 anos, todos com cegueira, sendo dois na graduação e dois na pós-graduação. Os resultados revelaram pontos necessários de mudanças na interface do repositório. Identificação de pontos de entraves para as funções: legendas descritivas e tamanho inadequado de botões e ícones, como botões de contraste, mapa do site e botões iniciar e encerrar sessão; não funcionalidade do mapa do site e atalhos, bem como inexistência de uma função retorno. Verificou-se ainda que, independentemente dos entraves, os participantes aplicaram outras medidas para concluir os testes. Quanto ao registro de recomendações, destacam-se a necessidade de legenda descritiva, aumento de ícones, ativação de links inativos, implantação de novos recursos e avaliação técnica periódica. A pesquisa também comprovou que os participantes conceberam a identificação de inconsistências e sugestões de melhorias como fator de aprimoramento para a interface, confirmando que o estado do site no momento do teste foi considerado como aceitável. Considera-se que devido às constantes
mudanças das tecnologias e possíveis demandas dos usuários reais e potenciais do repositório, serão necessárias novas avaliações, no futuro, para confirmar a qualidade do serviço.
Palavras-Chave: Bibliotecas Digitais Acessíveis. Interface Acessível. Ergonomia. Pessoa com Deficiência Visual. Acessibilidade Comunicacional.
This research aims to evaluate the ergonomic requirements of usability and accessibility present in the Accessible Information Repository interface, based on the opinion of users with low vision and blindness. The implementation of this overall goal was given by the following specific objectives: a) check functionality of buttons and links in the Accessible Information Repository interface of Federal University of Rio Grande do Norte, b) identify obstacles and inconsistencies in the interface usability and accessibility, c) know the points liable to improvements in the Accessible Information Repository interface that contribute with subsidies to the elaboration of intervention proposal to be held at the Federal University of Rio Grande do Norte. The research is characterized as exploratory, descriptive and applied, using the methodological strategy of case study, based on a quantitative and qualitative approach. Data collection was made with the development of usability testing, participant observation and semi-open questionnaire. For quantitative analysis of the data was used the statistical method; and for the qualitative analysis was used content analysis. For the convergence of the results it used the triangulation of data for multiple instruments. The sample studied was composed of eight registered users in the Accessible Information Repository, representing 25 % of this population. As for the characterization of the participants, the analysis showed the following profile: women (50%), between 31 and 40 years, three with low vision and one with blindness, being three undergraduate and one a graduate student; men (50%), between 34 and 53 years, all with blindness, two undergraduate and two graduate students. The results showed points with necessity of changes in the interface repository. Identification of points of obstacles to the functions: descriptive captions and inadequate size of buttons and icons, such as contrast buttons, site map and start and end session buttons; lack of functionality in the map of the site and shortcuts, as well as lack of a return function. It was also found that regardless of obstacles, participants applied other measures to complete the tests. As for the registration recommendations, we highlight the need for descriptive caption, increase of icons size, activation of inactive links, implementation of new features and periodic technical evaluation. The survey also proved that the participants conceived the identification of inconsistencies and suggestions for improvements as enhancement factor for the interface, confirming that the condition of the site at the time of the test was considered acceptable. It is considered that due to constant
changes in technologies and possible demands of the actual and potential users of the repository, it will be required new evaluations in the future to confirm the quality of service.
Keywords: Accessible Digital Libraries. Accessible Interface Ergonomics. People with Visual Impairment. Communicational Accessibility.
Quadro 1 - |
Referências a estudos
anteriores |
26 |
Quadro 2 - |
Demonstrativo de tecnologias assistivas destinadas a pessoas
com deficiência visual |
39 |
Quadro 3 - |
Bibliotecas acessíveis |
42 |
Quadro 4 - |
Ergonomia
nos aspectos da atividade humana |
45 |
Quadro 5 - |
Componentes de interface |
49 |
Quadro 6 - |
Norma ISO
9241 – Critérios ergonômicos de usabilidade |
52 |
Quadro 7 - |
Critérios
de usabilidade |
53 |
Quadro 8 - |
Documento
com diretrizes de acessibilidade
- WCAG 2.0 |
57 |
Quadro 9 - |
Critérios
de acessibilidade |
58 |
Quadro 10 - |
Comparativo entre
número de usuários para a realização de testes de usabilidade |
66 |
Quadro 11 - |
Categorias
e subcategoria |
73 |
Quadro 12 - |
Caracterização da amostra |
77 |
Quadro 13 - |
Combinação de teclas e
funções para os atalhos utilizados no repositório |
104 |
Quadro 14 - |
Lista de recomendações para o aprimoramento da interface do repositório |
171 |
13
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - |
Interação mediada por computador |
50 |
Figura 2 - |
Estrutura de Usabilidade |
52 |
Figura 3 - |
Página principal do Repositório de Informação Acessível |
65 |
Figura 4 - |
Descrição e roteiro
da pesquisa |
71 |
Figura 5 - |
Triangulação de dados
dos instrumentos |
75 |
Figura 6 - |
Página principal do Repositório de Informação Acessível |
80 |
Figura 7 - |
Localização dos recursos
de contraste e sem contraste |
82 |
Figura 8 - |
Função contraste: fundo preto com
fonte amarela |
83 |
Figura 9 - |
Função contraste: fundo verde com fonte
branca |
83 |
Figura 10 - |
Função contraste: fundo azul com fonte
branca |
84 |
Figura 11 - |
Percepção dos
botões contraste e sem contraste: participantes com baixa
visão |
|
|
85 |
|
Figura 12 - |
Percepção dos
botões contraste e sem contraste: participantes com cegueira |
87 |
Figura 13 - |
Localização do mapa do site |
89 |
Figura 14 - |
Percepção da função mapa do site: participantes com baixa visão |
91 |
Figura 15 - |
Percepção da função mapa do site:
participantes com cegueira |
92 |
Figura 16 - |
Indicação da função
“meu espaço” |
94 |
Figura 17 - |
Página secundária: iniciar sessão |
95 |
Figura 18 - |
Indicação da função
“encerrar sessão” e apresentação da página secundária |
|
|
95 |
|
Figura 19 - |
Identificação do ícone do botão “encerrar sessão”: participantes com baixa
visão |
|
|
97 |
|
Figura 20 - |
Identificação do ícone do botão “encerrar sessão”:
participantes com cegueira |
|
|
98 |
|
Figura 21 - |
Identificação do link “documentos” |
100 |
Figura 22 - |
Página secundária referente à função
“documentos” |
101 |
Figura 23 - |
Página principal com a indicação da função atalhos |
103 |
Figura 24 - |
Página secundária referente à função atalhos |
104 |
Figura 25 - |
Navegação mediante utilização do teclado: participantes com baixa
visão |
|
|
105 |
|
Figura 26 - |
Navegação mediante utilização do teclado: participantes com cegueira |
|
|
107 |
|
Figura 27 - |
Página principal do repositório com
a identificação dos
recursos |
|
|
de busca: comunidades e coleções e campo
de busca |
109 |
Figura 28
- |
Sistema de busca por comunidades e coleções |
110 |
Figura 29
- |
Página 1: comunidade “artigos de revistas” -
coleção “educação” |
111 |
Figura 30
- |
Página 2: coleção “educação” - botão “assunto” |
111 |
Figura 31 - |
Página 3: coleção
“educação” - assunto “educação - jovens e
adultos” |
|
|
112 |
|
Figura 32 - |
Página 4: localização do item
por título “o silêncio é de ouro e a palavra é de prata” |
|
|
112 |
|
Figura 33
- |
Página 5: dados bibliográficos do item “o silêncio é de ouro e a palavra
é de prata” e disponibilização dos arquivos em três formatos (PDF, HTML e DOC/
Microsoft Word) |
|
|
113 |
|
Figura 34
- |
Sistema de busca por
comunidades e coleções: capítulos de livros |
113 |
Figura 35 - |
Página 1: comunidade
“capítulos de livros” - coleção “ciências
sociais” |
|
|
114 |
|
Figura 36
- |
Página 2: coleção “ciências sociais” - botão
“título” |
114 |
Figura 37 - |
Página 3: coleção
“ciências sociais” - título “elementos básicos do método científico” |
|
|
115 |
|
Figura 38
- |
Página 4: dados bibliográficos do item “elementos básicos do método científico” e disponibilização
dos arquivos em três formatos (PDF, HTML e DOC/ Microsoft
Word) |
|
|
115 |
|
Figura 39
- |
Sistema de busca por
comunidades e coleções: livros |
116 |
Figura 40
- |
Página 1: comunidade “livros” - coleção “educação” |
116 |
Figura 41
- |
Página 2: coleção “livros” - botão “autor” |
117 |
Figura 42
- |
Página 3: coleção “educação” - autor “Melo, José
Pereira de” |
117 |
Figura 43 - |
Página 4: localização do livro “livro didática: o ensino de artes e educação física
na infância” por autor “Melo, José Pereira de” |
|
|
118 |
|
Figura 44
- |
Página 5: Dados bibliográficos do livro “livro
didático: o ensino
de artes e educação física na infância” e disponibilização dos arquivos em três formatos (PDF, HTML e
DOC/ Microsoft Word) |
|
|
118 |
|
Figura 45 - |
Sistema de busca por campo de busca e aplicação
do descritor “metodologia” |
|
|
119 |
|
Figura 46
- |
Página 1: resultado para
o descritor “metodologia” |
120 |
Figura 47
- |
Página 2: dados bibliográficos do item “metodologia científica aplicada
à psicologia” e disponibilização dos arquivos em três formatos (PDF,
HTML e DOC/ Microsoft Word) |
|
|
120 |
|
Figura 48
- |
Sistema de busca por campo de busca: autor |
121 |
Figura 49
- |
Página 1: resultado
processo de busca por autor - nome de autor
“Adrião, Teresa |
|
|
121 |
|
Figura 50 - |
Página 2: resultado do processo de busca por autor “Adrião, |
|
|
Theresa (Org.)” - item “o ensino fundamental |
122 |
Figura 51
- |
Página 3: dados bibliográficos do item “o ensino fundamental” e disponibilização
dos arquivos em três formatos (PDF, HTML e
DOC/ Microsoft Word) |
|
|
122 |
|
Figura 52
- |
Sistema de busca por campo de busca: título |
123 |
Figura 53 - |
Página 1: resultado do
processo de busca por título - título “a
administração escolar no contexto da nova república” |
|
|
123 |
|
Figura 54
- |
Página 2: dados bibliográficos do item “a administração
escolar no contexto da nova
república” e disponibilização dos arquivos
em três formatos (PDF,
HTML e DOC/
Microsoft Word) |
|
|
124 |
|
Figura 55
- |
Sistema de busca por campo de busca: assunto |
124 |
Figura 56 - |
Figura 1: resultado do
processo de busca por assunto - assunto “administração escolar” |
|
|
125 |
|
Figura 57 - |
Página 2: resultado do processo de busca por assunto “administração escolar” - item
“alfabetizar letrando” |
|
|
125 |
|
Figura 58
- |
Página 3: dados
bibliográficos do item “alfabetizar letrando” e disponibilização dos arquivos em três formatos (PDF, HTML e DOC/ Microsoft Word) |
|
|
126 |
|
Figura 59 - |
Funcionalidade dos sistemas de busca: participantes com baixa visão |
|
|
127 |
|
Figura 60
- |
Tempo de resposta do sistema: participantes com baixa visão |
128 |
Figura 61 - |
Funcionalidades dos
sistemas de busca:
participantes com cegueira |
|
|
130 |
|
Figura 62
- |
Tempo de resposta do sistema: participantes com cegueira |
131 |
Figura 63
- |
Visualização dos formatos disponibilizados pelo repositório |
132 |
Figura 64 - |
Disponibilização dos formatos e contemplação das necessidades dos
usuários: participantes com baixa visão |
|
|
134 |
|
Figura 65 - |
Disponibilização dos
formatos e contemplação das necessidades dos
usuários: participantes com cegueira |
|
|
135 |
|
Figura 66 - |
Página principal do repositório para
observação da função
retorno |
|
|
136 |
|
Figura 67 - |
Retorno à página principal e anteriores: participantes com baixa visão |
|
|
137 |
|
Figura 68 - |
Retorno à página principal e anteriores: participantes com cegueira |
|
|
139 |
|
Figura 69 - |
Página principal do repositório com
destaques para a descrição do site |
|
|
141 |
|
Figura 70 - |
Identificação das informações de descrição do site:
participantes com baixa
visão |
|
|
142 |
|
Figura 71 - |
Identificação das informações de descrição do site:
participantes com cegueira |
|
|
142 |
Figura 72 - |
Aplicações de tecnologias assistivas |
144 |
Figura 73
- |
Compatibilidade do acesso ao repositório e os sistemas de ampliação e contraste |
146 |
Figura 74
- |
Demora no tempo de resposta dos sistemas de ampliação e contraste somado ao tempo de resposta do
sistema |
147 |
Figura 75
- |
Compatibilidade do acesso ao repositório e o sistema
de leitor de
tela |
148 |
Figura 76
- |
Demora no tempo de
resposta dos leitores de tela somado ao tempo de resposta do sistema |
149 |
Figura 77
- |
Disposição das informações da página principal do RIA com
base na legibilidade |
151 |
Figura 78
- |
Presença de informação legível e compreensível: participantes com baixa visão |
152 |
Figura 79
- |
Presença de informação legível e compreensível: participantes com cegueira |
153 |
Figura 80
- |
Análise de consistência com base no sistema de busca |
155 |
Figura 81
- |
Apresenta consistência nos resultados obtidos no processo de
navegação: participantes com baixa visão |
156 |
Figura 82
- |
Apresenta consistência nos resultados obtidos no processo de
navegação: participantes com cegueira |
156 |
ABNT |
Associação Brasileira de Normas Técnicas |
BCZM |
Biblioteca
Central Zila Mamede |
BDTD |
Biblioteca
Digital Brasileira de Teses e Dissertações |
IBICT CONSAD
CONSEPE CONSUNI |
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência
e Tecnologia Conselho de Administração Conselho de Ensino,
Pesquisa e Extensão Conselho
Universitário |
IES LDB MEC PDI REUNI TCLE |
Instituições de Ensino Superior Lei de Diretrizes e Bases de Educação Ministério da Educação e Cultura Plano de Desenvolvimento
Institucional Programa do Governo Federal
de Apoio a Planos
de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais Termo de Consentimento Livre e Esclarecido |
TIC |
Tecnologia
de Informação e Comunicação |
TI |
Tecnologia
de Informação |
UFRN |
Universidade Federal do Rio Grande do Norte |
UNB UNESCO |
Universidade de Brasília Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência
e Cultura |
SUMÁRIO
1 |
INTRODUÇÃO |
20 |
2 |
POLÍTICAS DE ACESSO À INFORMAÇÃO |
31 |
3 |
DEFICIÊNCIA VISUAL
E DISCENTES NA UFRN |
36 |
4 |
TECNOLOGIAS ASSISTIVAS DE ACESSO À INFORMAÇÃO |
38 |
5 |
BIBLIOTECAS DIGITAIS ACESSÍVEIS E INICIATIVAS NAS
INSTITUIÇÕES DE ENSINO
SUPERIOR |
41 |
6 |
ERGONOMIA |
45 |
6.1 |
ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO |
47 |
6.2 |
INTERFACE
E INTERAÇÃO HUMANO-COMPUTADOR |
48 |
6.3 |
USABILIDADE |
50 |
6.4 |
ACESSIBILIDADE |
54 |
7 |
ASPECTOS METODOLÓGICOS |
60 |
7.1 |
CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA |
60 |
7.2 |
OBJETO DA PESQUISA |
61 |
7.3 |
UNIVERSO
E AMOSTRA DA PESQUISA |
66 |
7.4 |
TÉCNICA
DE COLETA DE DADOS |
67 |
7.5 |
PROCEDIMENTO DE COLETA DADOS |
69 |
7.6 |
PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DOS
DADOS |
72 |
8 |
ANÁLISE E DISCUSSÃO |
77 |
8.1 |
CARACTERIZAÇÂO DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA |
77 |
8.2 |
VERIFICAÇÃO DA
FUNCIONALIDADE DA INTERFACE DO REPOSITÓRIO DE INFORMAÇÃO ACESSÍVEL COM BASE NA EXECUÇÃO DAS TAREFAS |
78 |
8.2.1 |
Endereço público |
79 |
8.2.2 |
Contraste e sem contraste |
81 |
8.2.3 |
Mapa do site |
88 |
8.2.4 |
Iniciar e encerrar sessão |
93 |
8.2.5 |
Documentos |
99 |
8.2.6 |
Atalhos e uso
do teclado |
102 |
8.2.7 |
Busca |
108 |
8.2.8 |
Opções de formatos |
132 |
8.2.9 |
Retorno |
135 |
8.2.10 |
Descrição do site |
140 |
19
8.3 |
AVALIAÇÃO
GERAL DOS SERVIÇOS DISPONIBILIZADOS PELA INTERFACE DO REPOSITÓRIO DE INFORMAÇÃO ACESSÍVEL |
|
|
143 |
|
8.3.1 |
Tecnologias assistivas |
143 |
8.3.2 |
Legibilidade |
150 |
8.3.3 |
Consistência |
154 |
8.3.4 |
Alcance de objetivos: eficácia |
157 |
8.3.5 |
Recursos disponibilizados: eficiência |
161 |
8.3.6 |
Satisfação, sugestões e dificuldades |
164 |
9 |
CONSIDERAÇÕES FINAIS |
174 |
|
REFERÊNCIAS |
180 |
|
APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido |
191 |
|
APÊNDICE B – Carta Convite |
194 |
|
APÊNDICE C –
Termo
de Autorização para
Gravação de Voz |
195 |
|
APÊNDICE D – Termo de Autorização para Uso de
Imagens |
196 |
|
APÊNDICE E –
Roteiro de Tarefas |
197 |
|
ANEXO A – Parecer
emitido pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte |
204 |
|
ANEXO B – Nova Interface do Repositório de Informação Acessível |
209 |
O avanço das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) e o advento da internet ampliaram os canais de disponibilização e acesso à informação, ocasionando mudanças no sistema educacional e no desenvolvimento de bibliotecas digitais. Nesse contexto, surgiram novas demandas da sociedade no que se refere à inserção digital, informacional e educacional das pessoas com deficiência. Assim, em resposta a esses interesses ocorreram nas últimas décadas sanções de leis e decretos: Lei n. 9.394/19961; Lei n. 10.172/20012; Decreto nº 6.094/073 e a Lei n. 13.145/20154; e o desenvolvimento de políticas nacionais de educação: Plano Nacional de Educação (PNE5), regulamentada pela Lei nº 13.005/20146 que passaram a se constituir como norteadores para que tais direitos sejam respeitados.
Apesar dos benefícios gerados pelas TIC e a web7, quanto à disponibilização e troca da informação nos espaços digitais de educação e de informação, essas não garantem o acesso e a utilização democrática dos recursos tecnológicos oferecidos. Esses bens, quando projetados geralmente não consideram os indivíduos com deficiência e suas limitações. Contudo, existem dispositivos tecnológicos que ajudam as pessoas com deficiência a utilizar computadores, celulares, internet e outros. Esses recursos são denominados de Tecnologias Assistivas (TA)8, e seu intuito é proporcionar aos indivíduos com deficiência, em particular as pessoas com deficiência visual9, mais autonomia na execução de tarefas e estudo, favorecendo o acesso à informação e oportunidades de inserção desses indivíduos na sociedade.
1 Lei nº 9.394 - Lei de Diretrizes e Bases
da Educação (LDB) em vigor tem um capítulo específico para a Educação Especial. Nele, afirma-se que
“haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular,
para atender às peculiaridades da clientela de Educação Especial”
(BRASIL, 1996).
2 Lei nº 10.172/2001 - Plano Nacional de
Educação (PNE) promovido em todos os diferentes níveis de ensino e que “a garantia
de vagas no ensino regular
para os diversos graus e tipos de deficiência” (BRASIL,
2001).
3 Decreto nº 6.094 - O texto dispõe sobre a
implementação do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação do MEC. Ao destacar
o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos com deficiência, o documento reforça a inclusão deles no sistema público de ensino (BRASIL,
2007).
4 Lei Brasileira de Inclusão
da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) (BRASIL,
2015).
5 Instrumento de
planejamento do Estado democrático de direito que orienta a execução e o
aprimoramento de políticas públicas
do setor (BRASIL, 2014).
6
Lei nº 13.005 de 25 de junho
de 2014, que aprova o Plano Nacional de Educação (PNE) e
dá outras providências.
7 WEB - World
Wide Web.
8 Produtos,
equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e
serviços que objetivem promover a funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua
autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social (BERSCH, 2008).
9 Denominação para
indivíduos que apresenta estado que vai da cegueira até a baixa visão. Chama-se
baixa visão a alteração
da capacidade funcional
decorrente de fatores
como rebaixamento significativo da Acuidade visual,
A informação é apresentada por Santos (2012), como um capital estratégico de sobrevivência e instrumento de inserção social, potencialmente para indivíduos que se encontram em situação de vulnerabilidade, que por motivos socioeconômicos, faixa etária, inadaptabilidade as inovações sociais, entre outros, são impedidos e/ou limitados a poder participar de atividades e exercer com criticidade e consciência a sua cidadania, bem como de compreender a sociedade como tal.
A partir do discurso sobre a importância da informação como elemento formador dos indivíduos, entende-se que a sua disponibilização e compartilhamento, tornam-se imprescindíveis para todas as pessoas. Evidenciando que a democratização do processo de acesso e disponibilização informacional contribui para seu crescimento pessoal e profissional, possibilitando a uma compreensão da realidade em que vivem, e fornecendo-lhes instrumentos para o desenvolvimento de ações em benefício próprio e para sociedade.
As mudanças na organização da sociedade para Tarapanoff (2001) apresentam-se como fenômeno global com elevado potencial para transformações das atividades econômicas e sociais. E a aplicação das tecnologias da informação e internet podem ser usadas como veículo para ajudar a eliminar as desigualdades. Além disso, a democratização do acesso à informação na opinião de Miranda (2012) apresenta-se como tendência mundial, presente na utilização das fontes informacionais eletrônicas, de forma a suprir as necessidades de informação a serem utilizadas nas mais diversas atividades. Em razão dos meios digitais proporcionarem um acesso à informação de maneira mais fácil, rápida e imediata, as políticas públicas brasileiras de disseminação da informação privilegiaram o meio acadêmico com as inovações dessas tecnologias.
De forma que, no âmbito educacional o acesso à informação deve contemplar todas as pessoas, principalmente, com a geração de benefícios por ser um elemento indispensável para o ensino e o aprendizado. Para tanto, existe a necessidade de estudos que proporcionem discussões a respeito de melhorias para produtos de informação digital voltados para o desenho universal10. Pois, o simples fato de desenvolvimento e disponibilização de recursos digitais, obrigatoriamente significa dizer que esses recursos precisam contemplar os critérios ergonômicos necessários para a utilização por todas as pessoas.
Sob a perspectiva de democratização da informação nos espaços educacionais, o Projeto Incluir
do governo federal
por meio do edital n. 03 de 26 de abril de 2007, propõe
redução importante do campo visual e da sensibilidade aos contrastes e limitação
de outras capacidades (SILVA, 2013).
10 Diz respeito
ao desenvolvimento de produtos e ambientes para serem usados por todas as pessoas,
na maior extensão possível, sem a necessidade de adaptação ou designe especializado (MELO, 2008).
ações que garantam o acesso pleno de pessoas com deficiência às Instituições Federais de Ensino Superior (BRASIL, 2007), e mais recentemente a criação da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência - Estatuto da Pessoa com Deficiência, que recomenda que se estimule a pesquisa, o desenvolvimento, a inovação e a difusão de tecnologias voltadas para ampliar o acesso da pessoa com deficiência às Tecnologias da Informação e Comunicação (BRASIL, 2015), bem como, incentivar o emprego das TIC como instrumento de superação de limitações funcionais e de barreiras à comunicação, à informação, à educação e ao entretenimento da pessoa com deficiência.
As leis citadas tomaram como base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2006) e estão em conformidade com a Constituição Federal nos Artigos 1º - Dos Princípios Fundamentais, III - a dignidade da pessoa humana e o Artigo 5º - Dos Direitos e Garantias Fundamentais que diz: que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se, à igualdade (BRASIL, 1988) e retificadas pelo Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 200911.
Nesse contexto, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) por meio de sua Política de Inclusão autorizou a criação do Repositório de Informação Acessível (RIA), destinado a abrigar o acervo formado por textos acadêmicos digitalizados pelo Laboratório de Acessibilidade (LA) da Biblioteca Central Zila Mamede (BCZM). Trata-se de uma biblioteca digital que se apresenta como um recurso facilitador de busca e acesso a materiais informacionais em formatos acessíveis, em respeito à igualdade de oportunidades de acesso a informação por discentes com deficiência visual matriculados na instituição (UFRN, 2014).
O Repositório de Informação Acessível disponibiliza um acervo crescente de textos digitalizados, adaptados pelo Laboratório de Acessibilidade da instituição em conformidade com a Lei do direito autoral12 vigente, a Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998 art. 46 (BRASIL, 1998); de acordo com o Decreto n. 5.296, de 02 de dezembro de 2004, que determina a garantia da acessibilidade e utilização de serviços e atendimentos (BRASIL, 2004) e de acordo com a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência n. 13.145 - Estatuto da Pessoa com Deficiência em seu Art. 68 que determina que o poder público deve adotar mecanismos de incentivo à produção, à edição, à difusão, à distribuição e a comercialização de livros em formatos acessíveis, inclusive em publicações da administração
11 Decreto nº 6.949:
Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência e seu Protocolo
Facultativo, assinados em Nova
York, em 30 de março de 2007 (BRASIL,
2009).
12 Esclarece que não
constitui ofensa aos direitos autorais: e obras literárias, artísticas ou
científicas, para uso exclusivo de
deficientes visuais, sempre que a reprodução, sem fins comerciais, seja feita
mediante o sistema braille ou outro procedimento em qualquer suporte
para esses destinatários (BRASIL, 1998).
pública ou financiadas com recursos públicos, com vistas a garantir à pessoa com deficiência o direito de acesso à leitura, à informação e à comunicação (BRASIL, 2015).
Para que o RIA, alcance seu propósito, enquanto produto institucional da UFRN pressupõe-se que o mesmo apresente um acervo digital em formato acessível e que atenda as expectativas dos usuários a que se destina. De forma, que sustente uma garantia de funcionalidade dos recursos, serviços e navegabilidade em sua interface.
Os ambientes digitais dependem de estudos e avaliações direcionadas as suas interfaces na busca de aprimoramento constante de funções e serviços disponibilizados. Uma vez que, para o desenvolvimento desses espaços devem-se observar critérios de avaliação de usabilidade e acessibilidade que considerem o desempenho, as limitações e forma de acesso aos conteúdos pelos usuários.
A investigação proposta torna-se pertinente para o desenvolvimento bibliotecas digitais acessíveis, por contribuir para a conscientização da avaliação dos requisitos ergonômicos: usabilidade e acessibilidade. A usabilidade avalia se a interface é agradável, fácil de usar, se poupa tempo e esforço do usuário. Enquanto, a acessibilidade avalia se a interface oferece padrões básicos de acessibilidade. De forma a validar a estrutura apresentada, minimizar falhas do produto e torná-lo simples e eficaz.
Nesses termos, toma-se como base a proposição teórica dos estudos Jakob Nielsen de que: “as interfaces devem ser desenvolvidas pensando nos usuários” e “se as pessoas não puderem ou não utilizarem esse recurso, ele pode muito bem não existir” (NIELSEN, 2007, p. 17). Sendo assim, essa pesquisa não pretende mensurar ou apresentar um juízo de valor a respeito da interface, mas compreender como as recomendações ergonômicas influenciam na interação dos usuários com os recursos disponibilizados pelo RIA. De forma, que os resultados advindos da pesquisa permitam gerar recomendações que indiquem soluções para os problemas existentes, assim contribuindo para eficiência do produto.
Ao considerar essa perspectiva surge a seguinte questão norteadora: como a aplicação dos requisitos ergonômicos de usabilidade e acessibilidade presentes na interface do Repositório de Informação Acessível da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, influenciam a utilização e navegabilidade por pessoas com deficiência visual?
Para responder ao questionamento desta pesquisa foi formulado o seguinte objetivo geral: avaliar os requisitos ergonômicos de usabilidade e acessibilidade apresentados na interface do RIA, considerando a opinião dos usuários com cegueira e baixa visão. De modo a alcançar o objetivo geral desenvolvido foram elaborados os objetivos específicos desta pesquisa:
a)
Verificar a funcionalidade de
botões e links apresentados na
interface do RIA da UFRN;
b)
Identificar os entraves e inconsistências de usabilidade e acessibilidade na interface da UFRN;
c)
Conhecer os pontos passíveis
de melhorias da interface do Repositório de Informação
Acessível que contribuam com subsídios para elaboração de proposta de intervenção
a ser realizada na UFRN.
Referente às instituições bibliotecárias, os seus serviços sempre tiveram participação nas transformações da sociedade, quanto ao registro, guarda preservação, sistematização e organização da informação. Essas instituições concentram a informação num lugar físico e seus serviços ficavam restritos as comunidades que conseguiam ter acesso. Em seus estudos Marcondes et al. (2005), explicam que com o surgimento da internet ocorreu uma evolução no que se refere à coleta e reunião de informações, bem como a capacidade de atender ao público no sentido mais amplo possível. Em que, as bibliotecas digitais se tornaram um instrumento de distribuição, cooperação e acesso ao conhecimento. Portanto, o modelo de biblioteca tradicional passa a dar espaço ao paradigma da biblioteca digital13, que começa a se projetar como pilar de sustentação as possibilidades das formas atuais de disponibilização e acesso à informação em formato digital, tornando-se um potencializador na atualidade da democratização da informação.
O desenvolvimento das bibliotecas digitais
está relacionado com os avanços
tecnológicos da comunicação e da informação. O que fez surgir, uma nova
concepção de biblioteca, sem
limitações físicas e quebrando as barreiras de tempo e espaço, bem como os
fluxos, forma de acesso e troca de informações. Durante
sua evolução incorpora
o desenvolvimento dos
repositórios14 digitais e posteriormente os princípios do movimento
de Iniciativa dos Arquivos Abertos
- Open Archives Initiative (OAI)15 e do Movimento de Acesso
Livre (Open Access)16, na
dinamização do processo de comunicação científica. O conceito da Iniciativa
de Arquivos Abertos representa o anseio da comunidade científica
em
13
Biblioteca pensada como nova estratégia de resgate de informações, na qual o texto completo
está disponível online
(ROMANI; BROSZCZ, 2006).
14 Os repositórios digitais podem ser definidos como bibliotecas, ou seja, uma infraestrutura de banco de dados capaz
de armazenar coleções de documentos em meio eletrônico (KURAMOTO, 2008).
15
(Open Archvies Initiative), a qual define
um modelo de interoperabilidade entre bibliotecas e repositórios digitais, possibilitando alternativas para a
comunicação científica (TOUTAIN, 2005).
16
(Open Access) significa
a disponibilização livre na internet
da literatura acadêmica
(TOUTAIN, 2005; MÁRDERO
ARELLANO, 2008).
formar um fórum aberto para aprimorar o desempenho do modelo de comunicação no campo dos estudos científicos.
Com a expansão dos repositórios ocorreu o crescimento de tipos variados de repositórios digitais, esses desdobramentos de desenvolvimento foram baseados em padrões abertos de arquitetura e de software. Sem esses padrões, teríamos poucas e caras ilhas de acervos digitais que só poderiam ser acessadas via sistemas especiais projetados para cada uma delas (LIMA, 2009)
Contudo, mesmo com o desenvolvimento de repositórios digitais, observa-se na prática, elementos que não atendem as demandas dos usuários com deficiência, principalmente quanto ao seu direito de acesso à informação. Uma vez que os textos publicados nesses espaços deveriam estar em formatos acessíveis para que as pessoas com deficiência conseguissem desenvolver a leitura sem restrições. E também constata-se que as interfaces não apresentarem recursos de usabilidade e acessibilidade que possibilitem a utilização de todas as pessoas.
Atualmente existem iniciativas com bibliotecas digitais para armazenar acervos acessíveis voltados para pessoas com deficiência visual (SILVA; MELO, 2014). Diante das demandas de alunos de instituições de ensino, no que se refere ao referencial teórico necessário a sua formação, há uma preocupação para o desenvolvimento de coleções que atendam essas expectativas. Portanto, ressaltam-se as iniciativas: Biblioteca Digital Sonora (BDS) da Universidade de Brasília e Biblioteca Digital Acessível (BDA) do Ministério da Educação.
A finalidade das bibliotecas digitais inclusivas destinadas a usuários com surdez, cegueira, baixa visão ou com mobilidade reduzida é proporcionar formas de autonomia, de independência e qualidade de vida aos usuários. Uma vez que, a aplicação de elementos de acessibilidade e de usabilidade compatíveis com as tecnologias assistivas disponíveis podem viabilizar a criação de ambientes digitais adequados à democratização da informação com a participação social, digital e inclusiva de usuários infoexcluídos de ambientes informacionais digitais (CORRADI; VIDOTTI, 2007).
Na área de bibliotecas e repositórios digitais, encontram-se pesquisas científicas (Quadro 1), cujos enfoques estão voltados para questões de ergonomia e usabilidade e acessibilidade de sistemas. Pois a relação entre esses temas, favorecem a criação de bibliotecas digitais acessíveis destinadas à usuários com deficiência visual, bem como da forma como esse público acessa a informação disponibilizada nesses locais.
O levantamento bibliográfico abaixo apresenta teses, dissertações e artigos científicos que desenvolveram estudos na área de ergonomia com o foco para usabilidade, acessibilidade, bibliotecas acessíveis, Interação Humano-Computador e ergonomia em sites da web. O Quadro 1 mostra um recorte de pesquisas desenvolvidas no período que fundamentaram esta pesquisa.
Quadro 1 - Referências a estudos anteriores
Autor (a) |
Título |
Instituição |
Tipo/ano |
Banco de dados |
Contribuição |
MELO, André Ricardo |
Ergonomia
de websites Interface Humano- Computador |
UFPB |
Dissertação, 2010 |
BDTD |
O detalhamento dos erros proporciona a correção das interfaces, minimizando problemas ergonômicos
e de usabilidade, que dificultam o acesso das
pessoas com deficiência
visual aos sites e sistemas. |
LAZZARIN, Fabiana Aparecida |
Da
informação à compreensão: reflexões sobre a
Arquitetura da Informação, Usabilidade e Acessibilidade no campo da Ciência da Informação. |
UFPB |
Artigo,
2012 |
RIPB |
Um projeto de AI deve ampliar sua visão, considerando a Usabilidade e Acessibilidade
dos sistemas de informação como fatores condicionantes e determinantes para a criação e estruturação de uma interface interativa, de boa qualidade,
de fácil uso e acesso. |
FANTINEL, Rosemary Gay |
Bibliotecas digitais em Arquitetura e urbanismo: um estudo sobre a arquitetura
da informação digital. |
UFRN |
Dissertação, 2009 |
BDTD |
Os princípios, as técnicas, os métodos e os elementos principais da Arquitetura da Informação
de websites que permitem o desenvolvimento. De ambientes informacionais
digitais eficientes. |
KOSHIYAM |
Análise
da |
UFRN, |
Dissertação, |
BDTD |
O redesign
de |
A, Débora
Costa Araújo Di Giacomo |
usabilidade e da arquitetura da
informação do Repositório Institucional da UFRN. |
|
2014 |
|
interfaces baseado na proposta de recomendações de aspectos
de usabilidade e na de arquitetura
contribuirá para uma
mudança no acesso e visibilidade das informações. |
MALHEIROS , Tania Milca
de Carvalho |
Necessidade de informação do usuário com deficiência visual: um estudo
de caso da Biblioteca Digital e Sonora da Universidade de Brasília. |
UNB |
Tese, 2013 |
BDTD |
Mesmo sendo fundamental a informação em meio digital para
os usuários com
deficiência visual. Existem dificuldades de acesso às informações
e falta acessibilidade dos sites. |
CORRADI,
J. A. M.; VIDOTTI, Silvana Aparecida Borsetti Gregório |
Elementos de acessibilidade em ambientes informacionais digitais: bibliotecas digitais e inclusão social |
USP |
Anais, 2007 |
USP |
A aplicação de elementos de acessibilidade e de usabilidade compatíveis com as tecnologias assistivas disponíveis possibilitam a criação de ambientes digitais adequados
à democratização da informação. |
MARI,
Carina Morais Magri |
Os recursos de acessibilidade e usabilidade para a inclusão de deficientes visuais, dependem de ajustes, de acordo com as necessidades |
UFSCar |
Dissertação, 2011 |
BDTD |
Os recursos de acessibilidade e usabilidade para a inclusão
de deficientes visuais dependem de ajustes, de acordo com as necessidades. |
SANTA ROSA, José Guilherme
da Silva |
Ergonomia e usabilidade em formulários eletrônicos na internet: um estudo de caso sobre
comércio eletrônico. |
Pontifícia Universidad e Católica do Rio
de Janeiro |
Dissertação, 2005 |
Puc-RJ |
Os
testes de usabilidade possibilitaram a observação e análise
de como os usuários interagiam
com o sistema, e conhecer como
os usuários executam tarefas. |
KULPA, Cinthia Costa |
A interação entre
o usuário e o sistema computacional através
da interface, levou ao conhecimento da
usabilidade como um atributo
de qualidade relacionado à facilidade
do uso de uma interface, e apresentando- se
como fator de qualidade. |
UFRGS |
Dissertação, 2009 |
BDTD |
A usabilidade é um atributo de qualidade relacionado à facilidade do uso de uma
interface, e apresentando-se como fator
de qualidade. |
ROCHA, Janacy Aparecida Pereira |
A importância de
se conhecer as especificidade s e demandas dos usuários com deficiência visual para que os
websites se tornem cada vez mais acessíveis e inclusivos. |
UFMG |
Dissertação, 2013 |
BDTD |
Comprovou-se a importância de se conhecer as especificidades
e demandas dos usuários com deficiência visual para que os sites se tornem cada
vez mais acessíveis e inclusivos. |
SONZA, Andréa Poletto |
Evidência a necessidade
de modificações estruturais que possam ser aplicadas
aos mais variados contextos relacionados à construção
de interfaces para usuários limitações visuais. |
UFRS |
Tese, 2008 |
BDTD |
Evidência a necessidade de modificações estruturais que possam ser aplicadas aos mais variados contextos relacionados à construção de interfaces
para usuários limitações visuais. |
Fonte:
Elaborado pela autora deste trabalho (2015).
Esses estudos mostram que a presença dos recursos de acessibilidade e usabilidade em
sites da web favorece a inclusão das pessoas com deficiência visual. Contudo, esses recursos
demandam ajustes de acordo com as limitações dos usuários do sistema (MARI, 2011). Para Melo (2010) a identificação e detalhamento dos erros podem proporcionar melhorias às interfaces, minimizando problemas ergonômicos de usabilidade que dificultem o acesso das pessoas com deficiência visual aos sites da web e sistemas. Por sua vez, Malheiros (2013) constata que mesmo sendo fundamental a disponibilização da informação em meio digital para os usuários com deficiência visual, ainda existem dificuldades de acesso às informações. Ou seja, falta acessibilidade nos sites.
Para Koshiyama (2014), o redesign da interface baseado na proposta de recomendações de aspectos de usabilidade e da arquitetura da informação, contribuem para uma mudança no acesso às informações. Complementando essa linha de pensamento, Fantinel (2009) esclarece que os princípios, as técnicas, os métodos e os elementos principais da arquitetura da informação de sites permitem o desenvolvimento de ambientes informacionais digitais eficientes.
Sonza (2008) evidencia a necessidade de modificações estruturais nos sites que possam ser aplicadas aos mais variados contextos relacionados à construção de interfaces para usuários com limitações visuais. Nesse sentido, Rocha (2013) considera a importância de se conhecer as demandas e especificidades dos usuários com deficiência visual para que os sites da web se tornem cada vez mais acessíveis e inclusivos.
No contexto das bibliotecas digitais acessíveis, os autores Corradi e Vidotti (2007) afirmam que a aplicação de elementos de acessibilidade e de usabilidade compatíveis com as tecnologias assistivas disponíveis, possibilitam a criação de ambientes digitais adequados à democratização da informação. Por sua vez, Santa Rosa (2005) defende que os testes de usabilidade são instrumentos que possibilitaram a observação e análise de como os usuários interagiam com o sistema, possibilitando conhecer como os usuários executam tarefas.
Na visão de Kulpa (2009) a usabilidade representa um atributo de qualidade relacionado à facilidade do uso de uma interface. Nessa perspectiva, Lazzarin (2012) considera que a usabilidade e acessibilidade dos sistemas de informação são fatores condicionantes e determinantes para a criação e estruturação de uma interface interativa de boa qualidade, de fácil uso e acesso.
Alinhado a esses pensamentos, percebe-se que notadamente as bibliotecas digitais necessitam de adequações ergonômicas de usabilidade e acessibilidade que considerem a limitação do usuário. Entende-se que somente a partir da visão dos indivíduos que utilizam o produto, torna-se possível um planejamento de melhorias desses recursos de informação. Bem como, compreender que a utilização desses ambientes depende necessariamente de fatores,
que estão interligados, como: a funcionalidade da interface dos sistemas; a presença de recursos e instrumentos de usabilidade e acessibilidade que proporcionem a navegação do usuário com deficiência visual e a disponibilização do acervo em formatos acessíveis legíveis. Diante da ampliação de bibliotecas digitais e acervos acessíveis por Instituições de Ensino Superior (IES), a viabilidade deste estudo ocorre por tratar de um processo de avaliação com a participação do usuário e que pode propiciar mudanças e melhorias, a respeito da utilização e acessibilidade a interface do RIA. Assim, acredita-se que este estudo justifica-se sob os pontos de vista teórico, prático, social, institucional e pessoal descritos a
seguir.
Do ponto de vista científico esta pesquisa justificou-se pela contribuição na geração de informações que potencializem discussões para o desenvolvimento de Bibliotecas Digitais Acessíveis e a qualidade de interfaces web voltadas para pessoas com deficiência visual.
Quanto à relevância prática deste estudo, observou-se na participação do usuário final durante o processo de avaliação, e no registro de recomendações direcionadas aos desenvolvedores; considerando também que a adequação da interface pode servir como referência para construção de outras bibliotecas digitais da instituição.
Pode-se verificar também, a importância da pesquisa para a instituição, considerando o papel da UFRN, enquanto espaço educacional inclusivo no exercício do seu fazer acadêmico, consolidando ações em prol da democratização da informação, desenvolvimento e humanização da sociedade.
Por fim, a pesquisa se justificou pela afinidade pessoal e profissional da mestranda com a temática, acessibilidade informacional e bibliotecas digitais acessíveis, uma vez que o RIA apresenta-se como objeto de estudo e trabalho em suas atividades na UFRN.
Os grupos de pessoas com deficiência tiveram um protagonismo na Constituição Federal brasileira, um referencial de proteção por parte do Estado dos Direitos Humanos, que permitiu conquistas de direitos e garantias em várias áreas da existência humana: educação, saúde, transporte, espaços arquitetônicos e informação. De forma que, os direitos conquistados e reconhecidos advindos desse processo, ganharam uma dimensão que serviram como fator de empoderamento de cidadania das pessoas com deficiência e consequentemente a inserção na estrutura do Estado (LANA JUNIOR, 2010).
Entende-se que o poder público deve promover a eliminação de barreiras na comunicação e estabelecer mecanismos e alternativas técnicas que tornem acessíveis os sistemas de comunicação às pessoas com deficiência sensorial e com dificuldades de comunicação para garantir-lhes o direito de acesso à informação (BRASIL, 2000). Nessa perspectiva, a portaria normativa n.14/2007 (BRASIL, 2007) criou o Programa Incluir visando à acessibilidade na educação superior que consiste em implantar e promover ações que garantam uma política de inclusão, tornando acessível todo ambiente físico, portais, sites, práticas educacionais, dando respostas às diferentes formas de exclusão, cuja intenção principal é fomentar a criação e a consolidação de núcleos de acessibilidade nas universidades federais.
As Instituições de Ensino Superior (IES) trazem consigo a responsabilidade de garantir ações para o acesso, a permanência e a conclusão de curso com sucesso de discentes com necessidades educacionais especiais, a partir da política educacional vigente no Brasil. Entende-se que a legislação citada deve ser aplicada fortalecendo condições que sustentem a permanência e sucesso na conclusão dos estudos por parte do educando com deficiência visual (cegueira17 e baixa visão18). Nesse sentido a aplicabilidade das leis começa a partir do momento em que são oferecidas as mesmas condições de aprendizado a todos, representando equidade de oportunidades independente da condição dos alunos.
Destaca-se que nas bibliotecas físicas das IES os acervos
destinados às pessoas com deficiência
visual são desatualizados em várias áreas do conhecimento (MALHEIROS, 2009). De fato, diante
da observância e cumprimento das leis de inclusão, as universidades estão
17 A perda total ou
resíduo mínimo de visão, que leva as pessoas a necessitar do sistema braille ou
recursos tecnológicos, tais como
ledores de textos com sintetizador de voz, por meio dos quais estabelece o
diálogo entre percepção e cognição
(SILVA, 2013).
18 Alteração
significativa da capacidade funcional, decorrente de fatores isolados ou
associados, tais como: baixa acuidade
visual significativa, redução importante do campo visual, alterações para visão
de cores e sensibilidade aos contrastes, que interferem ou limitam o desempenho visual (ROCHA,
1987 apud SILVA, 2013).
procurando se adequar para o atendimento a essa parcela da comunidade acadêmica, no que se refere ao referencial teórico em formato acessível necessário a sua formação acadêmica. Mas, na realidade os acervos acessíveis das IES são formados por coleções em braille, livros em áudio, textos digitalizados e adaptados, conforme solicitações de alunos. Contudo, os títulos pertencentes a essas coleções são notoriamente limitados e não contemplam as necessidades informacionais desses indivíduos.
Embora, essa demanda informacional não seja nova, as dificuldades resultantes pela ineficiência ao cumprimento às leis têm causado prejuízos irreparáveis à formação dos discentes, que mesmo conseguindo concluir o curso, preocupam-se com a falta de leituras complementares. Devido à escassez de materiais em formato apropriado disponibilizados pelas bibliotecas físicas e digitais e a pouca oferta no mercado editorial de títulos acessíveis.
Dessa forma, devem-se considerar investimentos e pesquisas em estruturas de apoio, recursos e produtos informacionais acessíveis para inserção desses indivíduos no ambiente educacional. Como exemplo: bibliotecas digitais acessíveis com interfaces ergonomicamente planejadas e focadas nos requisitos de usabilidade e acessibilidade para que esse público possa utilizá-las com facilidade.
A literatura aponta a necessidade de quebrar barreiras à comunicação interpessoal, escrita e virtual. Uma vez que a inclusão não pode ser concebida deixando os indivíduos segregados, seja por estruturas físicas, e muito menos com limitação de acesso aos conteúdos informacionais necessários à sua formação (PUPO; MELO; FERRÉS, 2006). Soma-se a esse aspecto, a questão do esquecimento e desconhecimento das necessidades das pessoas com deficiência visual. Considerando-se a necessidade do desenvolvimento de serviços e materiais, de modo a dar suporte e oferecer-lhes as mesmas condições de aprendizagem (MALHEIROS, 2009, 2013). Conjectura-se também que a apreensão das formas como as pessoas com deficiência visual percebem o processo de acesso à informação, possibilita compreender a realidade das demandas e necessidades dessa população, bem como aponta caminhos para transformações de serviços e produtos referentes à disponibilização de informação (SANTOS, 2012).
Diante das constatações dos autores citados, observa-se que nas IES mesmo considerando a aplicação dos recursos das tecnologias da informação e comunicação, ainda existe pouca divulgação no que se refere ao depósito e disseminação de textos acessíveis para utilização da pessoa com deficiência visual. Nas instituições, a oferta de recursos informacionais em formatos acessíveis é baseada em demandas específicas dos alunos matriculados em cursos, fazendo com quê esse público tenha direito apenas aos conteúdos
informacionais solicitados para acompanhamento de disciplinas e não os necessários a sua formação. Desse modo, fica evidenciado que o respeito ao direito à igualdade de oportunidades, que o acesso à informação não contempla a todos.
Portanto, tornam-se necessários investimentos e pesquisas em produtos por parte das IES que permitam as pessoas com deficiência visual terem acesso a conteúdos informacionais acessíveis. O que retorna a questão inicial do respeito à dignidade humana e cumprimento das leis inclusivas, especialmente no âmbito das instituições de ensino.
O Plano de Desenvolvimento Institucional da UFRN no que se refere às políticas voltadas para o atendimento aos estudantes com necessidades educacionais especiais, preconiza como diretrizes: acompanhar e avaliar o ingresso, o acesso, a permanência e a término dos estudos, visando assegurar as condições adequadas para o sucesso acadêmico e social; estimular e fortalecer a articulação entre os serviços e setores em prol de ações voltadas para inclusão dessas pessoas; desenvolver e executar ações para eliminação de barreiras atitudinais, arquitetônicas, pedagógicas e de comunicação visando garantir o exercício da cidadania; desenvolver estudos e tecnologias com abordagem interdisciplinar voltados para as demandas e melhorias da qualidade de vida das pessoas (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, 2010). O Plano de Desenvolvimento Institucional afirma sobre sua política de inclusão:
[...] a UFRN se obriga à formação do cidadão, integrando os conteúdos à realidade social vigente, ressaltando as políticas de inclusão, a igualdade de acesso e o respeito às diferenças econômico-sociais e àquelas referentes aos discentes com necessidades educacionais especiais, tomando essas diferenças como parte das características que dão unidade ao trabalho da UFRN. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, 2010, p. 54).
Sobre essa questão Melo (2006, 2008, 2010) esclarece que a política institucional voltada para inclusão foi impulsionada e fortalecida a partir de projetos institucionais aprovados pelo Programa Incluir, com o Ministério da Educação.
O programa Incluir, como uma das ações afirmativas no âmbito das Instituições Federais de Educação Superior, com o objetivo de fomentar a criação e a consolidação de núcleos de acessibilidade, os quais deverão responder pela organização de ações institucionais que garantam a inclusão de pessoas com deficiência à vida acadêmica, através da eliminação das barreiras pedagógicas, arquitetônicas, comunicacionais e atitudinais, promovendo o cumprimento dos requisitos legais de acessibilidade. (MARTINS; PIRES; PIRES, 2014. p. 358).
Nesse contexto, podem-se citar alguns projetos voltados para a inclusão de alunos com deficiência na UFRN: Promovendo Ambientes Acessíveis; Criação do Núcleo de Apoio e Orientação ao Acesso e Permanência a Alunos com Deficiência na UFRN e estruturação e fortalecimento de ações voltadas para o ensino de estudantes com deficiência visual na instituição (MARTINS; PIRES; PIRES, 2014).
De forma que, a UFRN diante dessas demandas criou uma comissão, denominada Comissão Permanente de Apoio a Estudantes com Necessidades Educacionais Especiais (CAENE), por meio da Portaria n. 203/10-R, de 15 de março de 2010, com a incumbência de apoiar e orientar a comunidade universitária sobre o processo de inclusão de estudantes com Necessidades Educacionais Especiais, no âmbito da instituição (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, 2010).
A CAENE tem a missão de propor ações para a eliminação de barreiras arquitetônicas, atitudinais, de comunicação e pedagógicas, visando a garantir o acesso, a permanência e a conclusão de curso com sucesso de estudantes com necessidades educacionais especiais. De forma, a apoiar e acompanhar a trajetória desse estudante, mediando o suporte educacional para o desenvolvimento de seu processo de ensino-aprendizagem, além de articular e programar ações com serviços, setores e profissionais da UFRN e extra institucional para a melhoria do atendimento (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, 2010).
Desde então, a CAENE vem unindo esforços com o corpo docente e setores para garantir a inclusão de discentes com necessidades educacionais especiais, por meio de parcerias locais, como a firmada com a Biblioteca Central Zila Mamede (BCZM).
A BCZM abriga hoje nas suas instalações o Laboratório de Acessibilidade (LA) que tem por objetivo garantir o direito às pessoas com necessidades educacionais especiais, a acessibilidade ao acesso à informação e condições de acesso ao conteúdo didático necessário à sua formação acadêmica. Um setor integrante da Coordenadoria de Apoio ao Usuário (CAU) da biblioteca, em conformidade com o seu regimento interno (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, 2013). O laboratório encontra-se localizado no prédio anexo da biblioteca, seguindo as diretrizes administrativas da BCZM e técnico financeiro da CAENE (LABORATÓRIO DE ACESSIBILIDADE, 2014).
Em 2011, por meio de recursos orçamentários advindos do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) e Programa Incluir, foi realizado redimensionamento do espaço físico e adaptações arquitetônicas da BCZM que implantou o setor. O LA atende as demandas de diversos cursos de graduação e
pós-graduação, acompanhando os discentes com dificuldades e limitações na leitura do material impresso: deficiência visual, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDH19) e dislexia20, dispondo de uma estrutura tecnológica assistiva apropriada à digitalização de textos e a produção de materiais em formatos acessíveis (MELO et al., 2014).
Dentre os principais serviços oferecidos, têm-se a digitalização de textos, elaborada em conformidade com a Lei de Direitos Autorais n. 9.610/98 (BRASIL, 1998); transcrição e impressão de materiais para o sistema braille; produção de textos em fontes ampliadas/conversão de textos para áudio em MP3; treinamento para utilização de software acessíveis; orientação à pesquisa bibliográfica e digital; agendamento de visita guiada ao laboratório e; Repositório de Informação Acessível (RIA).
O RIA representa um recurso de promoção à igualdade de condições no acesso ao conhecimento. Logo, entende-se que a criação de bibliotecas digitais acessíveis no que refere ao atendimento das demandas informacionais das pessoas com deficiência visual representa um esforço para diminuir as desigualdades no acesso ao conhecimento.
19
Transtorno neurobiológico, definido como um padrão persistente de sintomas de desatenção e ou hiperatividade-impulsividade que ocorre com mais intensidade e frequência (SANTOS;
VASCONCELOS, 2010)
20 É um distúrbio de aprendizagem,, om base neurobiológica
determinada geneticamente (PERES; BALEN, 2013).
As pessoas com deficiência conquistaram espaço e visibilidade na sociedade, mas historicamente a intolerância para com estes indivíduos, tanto esteve presente em relação à restrição de seus direitos civis, à tutela da família e também a respeito das instituições. Havia pouco ou nenhum espaço para que participassem das decisões em assuntos que lhes diziam respeito. Somente a partir da década de 1970, ocorreram os primeiros movimentos político das pessoas com deficiência, por meio de organizações associativas, onde passaram a atuar como protagonistas e agentes proativos da própria história (LANA JUNIOR, 2010).
Quanto ao preconceito, segregação e assistencialismo as autoras Pupo e Martins (2014) explicam que foram essas questões que começaram a abrir caminhos para a dignidade e respeito às limitações de cada indivíduo. As pessoas começaram a ser compreendidas como um ser único, considerando aspectos que imprimem uma identidade própria, de forma que não há porque discriminar e isolar pessoas com deficiência.
No que se refere ao processo participativo das pessoas com deficiência visual, Santos (2013) mostra que o convívio social perante o quadro de incompreensões, e o histórico processo de exclusão social, reforça a evidência na problemática da deficiência, o que ofusca as capacidades e potencialidades dos indivíduos e o enfrentamento de barreiras relacionadas aos direitos à educação e ao acesso a informação, como forma de adquirirem condições necessárias de participar plenamente das oportunidades, mudanças e desenvolvimento social.
No que se refere ao acesso à informação por indivíduos com cegueira e baixa visão para formação educacional e profissional, eles enfrentam dificuldades como: a baixa produção de materiais especiais adaptados, livros em braille ou em fonte ampliada que contemplem as mais variadas áreas do conhecimento, entre outros. Embora, que as tecnologias apresentem recursos que possam mudar essa realidade, a minimização dessa situação acontecerá de maneira gradual.
Passos e Ferreira (2014) esclarecem que pessoas com deficiência podem fazer uso das tecnologias, porém são suas competências informacionais, no que se refere à utilização dessas ferramentas, que favorecem o seu desenvolvimento e, consequentemente, a sua inclusão. Mostrando-se que essas pessoas, encontram-se inseridas na sociedade com possibilidades de atuarem de acordo com suas potencialidades, independente de suas limitações.
No contexto do ensino superior, a condição das pessoas com deficiência visual deve ser compreendida numa perspectiva em que se considere uma articulação entre o fisiológico e as políticas de inclusão sociocultural. Pois, mesmo não enxergando o mundo por meio da
visão, as pessoas com deficiência visual continuam a serem sujeitos de percepção com características próprias de ser, estar e perceber o mundo. Portanto, a falta de visão não impede que o ser humano continue a ver o mundo (HOFFMANN, 2002; MELO, 2013). Entende-se que a limitação visual restringe as mais diversas atividades para esses indivíduos, mas, não é incomum que os mesmos encontrem caminhos de superação da realidade a sua volta. E que as barreiras sociais são as mais difíceis de ser ultrapassadas por serem repetidoras de um estima pautado numa ótica de incapacidade associada a essas pessoas.
Os indivíduos com deficiência visual encontraram na tecnologia, instrumentos que podem suprir suas limitações, facilitando suas atividades e auxiliando no processo de acesso à informação de forma fácil e rápida. Contudo, quando o acesso à informação ocorre nos espaços de bibliotecas, fazem-se necessárias adequações para o desenho universal de produtos, serviços e espaços, no sentido de atendimento igualitário para contemplar todas as pessoas, independente de suas limitações. Pinho Neto (2014) esclarece que os indivíduos com deficiência são considerados usuários especiais e por isso devem ser alvo de políticas específicas, capazes de lhes possibilitar o acesso à informação, proporcionando-lhes, meios de ascenderem à condição de verdadeiros cidadãos, capazes de desenvolver a capacidade crítica e reflexiva necessária para lutarem por seus direitos e também participarem como sujeitos dos processos de conscientização e transformação da sociedade.
A UFRN por meio da CAENE, atualmente possui um mapeamento de atendimento das pessoas com deficiência visual num total de 35 (trinta e cinco) discentes, sendo 26 (vinte e seis) com baixa visão e 9 (nove) com cegueira (SISTEMA INTEGRADO DE GESTÃO DE ATIVIDADES ACADÊMICAS, 2016). Desses alunos atendidos pela CAENE, 18 (dezoito) foram encaminhados ao Laboratório de Acessibilidade nesse semestre para a adaptação de material bibliográfico. Sendo 06 (seis) discentes com cegueira que recebe o material de estudo no formato DOC, PDF acessível; e discentes com baixa visão 12 (doze) que solicitam livros, capítulos de livros, artigos científicos, apostilas e outros em fonte ampliada impressa ou digital e áudio (LABORATÓRIO DE ACESSIBILIDADE DA UFRN, 2016).
As mudanças na tecnologia da informação ocorridas durante as últimas décadas reorganizaram atividades, e promoveram alterações nas relações de disponibilização e forma de acesso à informação no cotidiano da sociedade. Tais modificações imprimiram uma conotação democrática às tecnologias da informação, bem como aos benefícios proporcionados por esses recursos. Porém, no âmbito social nem todos foram contemplados com o acesso pleno a esses produtos, ou mesmo possuem competência informacional para acessar e utilizar esses instrumentos tecnológicos.
As tecnologias da informação proporcionaram o desenvolvimento de ferramentas que simplificaram as atividades executadas pelas pessoas com deficiência, principalmente quanto ao acesso à informação, leitura de documentos e aprendizado. Nesse sentido, Pode-se exemplificar o uso do computador no desenvolvimento intelectual e social desses indivíduos.
A utilização de tal recurso foi viabilizada pelos leitores automatizados e ampliadores de tela que compõem o conjunto de recursos das tecnologias assistivas, que correspondem a produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social (BRASIL, 2007).
A importância desses recursos tecnológicos é incontestável na vida educacional dos indivíduos com cegueira e baixa visão. Uma vez que a maioria das pessoas com deficiência visual no Brasil, não tem acesso às modernas tecnologias assistivas. De forma que, o acesso a esses suportes não ocorre de forma democrática, devido a seu alto valor comercial, e também pelo quantitativo de pessoal capacitado para o treinamento dos usuários as tecnologias. No entanto, devido ao alto custo, essas pessoas conseguem fazer uso de versões livres e/ou gratuitas, que permitem acessar e interagir com sistemas operacionais, e vários aplicativos.
Existe um mercado desenvolvedor e produtor de tecnologias assistiva, formado por instituições públicas e privadas, para o atendimento das demandas das pessoas com deficiência visual, conforme o Quadro 2 a seguir:
Quadro 2 - Demonstrativo de Tecnologias Assistivas destinadas a pessoas com deficiência visual
Ferramenta |
Produtor |
Funcionalidade |
Indicação |
Ampliador de tela
MAGIC |
Microsystems Software, Inc. |
Software para leitura e ampliação de tela, possui
o recurso Speech que lê em voz alta o conteúdo. |
Para uso de pessoas com
baixa visão ou cegueira.
Apresenta vários níveis de alto
contraste e níveis de ampliação de tela. Além
de poder ser
executado ao Jaws. |
LentePro (DosVox) |
Núcleo de Computação Eletrônica da UFRJ |
Software que amplia
a tela em uma janela tendo a função de uma lupa. |
Para uso de pessoas com
baixa visão. Este software aceita os controles convencionais de todos
os programas para Windows. |
ZoomText |
Aisquared |
Amplia tamanho do que é mostrado
na tela. |
Para uso de pessoas com
baixa visão. Este software é capaz de ampliar até 36 vezes o conteúdo da tela
com alta definição. |
Jaws |
Freedom Scientific Blind |
Software que lê o conteúdo da tela através de síntese de fala |
Para uso de pessoas com cegueira. Utilizado por mais de 50.000 usuários, este software processa leitura
integral, durante a utilização do Windows
programas da Microsoft. |
Virtual Vision |
MicroPower |
Software que lê o conteúdo da tela através de síntese de fala. |
Para uso de pessoas com
cegueira. Software leitor de tela que pode ser utilizado em diversas versões do Windows, possuindo um módulo de treinamento
é considerado autoexplicativo. |
Window-Eyes |
GW Micro |
Software que lê o conteúdo da tela através de síntese de fala. |
Para uso de pessoas com
cegueira. Capaz de ser utilizado em
todas as versões do Windows ele conta também
com a compatibilidade com diversos dispositivos braille. |
DOSVOX |
Núcleo de Computação Eletrônica da UFRJ |
Software que lê o conteúdo da tela através de síntese de fala. |
Para uso de pessoas com baixa visão
ou cegueira. |
Fonte:
Mari (2011).
Pinho Neto (2014) registra em sua pesquisa que o acesso às tecnologias depende das especificidades de cada grupo para escolher os equipamentos mais apropriados a sua forma de trabalho, no sentido de criar competências informacionais para uma adequada utilização dos mesmos. Para o grupo de pessoas com cegueira que necessite de um acesso à informação específica, elas podem fazer uso do sistema braille (caso seja alfabetizada) e para aquelas que tem acesso às tecnologias computacionais, utiliza-se de leitores de tela21. Essas pessoas navegam via teclado, ou comandos de voz, recorrendo-se a um software (leitor de tela) que
21
Os leitores
de tela são programas criados para reproduzir
em voz tudo o que está sendo mostrado no vídeo do computador (SILVA,
2013).
capta a informação e envia para um sintetizador de voz ou para um terminal em braille (QUEIROZ, 2012).
Pode-se ilustrar como leitores de tela para uso de pessoas com cegueira: JAWS22, NVDA23, DOSVOX24, ORCA25, que conseguem ler textos digitais em formatos acessíveis26 (MELO, 2010; MARI, 2011). Por sua vez, os indivíduos com baixa visão por possuírem comprometimento parcial da visão, mesmo tendo passado por procedimento específico e correções, precisam ler textos ampliados ou com auxílio de instrumentos ópticos apropriados que são denominados como recursos de ampliação de fonte ou tela.
No campo da informática, os ampliadores de tela possibilitam a utilização do computador, cujo funcionamento compreende a ampliação do conteúdo na tela permitindo que textos e imagens fiquem em tamanhos maiores. Exemplos de ampliadores disponíveis no mercado: MAGIC27, Lente Pro (DOSVOX)28 e ZoomText29. No Windows é disponibilizado um aplicativo ampliador, denominado de lente do Windows,30 que pode ser ativado em menu acessórios e na opção acessibilidade (ROCHA, 2013; ACESSIBILIDADE, 2014).
Diante da perspectiva de uma constante evolução das tecnologias de informação e variantes de recursos acessíveis, no que se refere ao acesso à informação, o desenvolvimento e aperfeiçoamento das bibliotecas digitais devem considerar aspectos de ergonomia em suas interfaces, levando em conta a especificidade de cada indivíduo, de forma a oferecer possibilidades de executar suas tarefas e alcançar os objetivos com auxilio das tecnologias assistivas.
22 Leitor de tela que
interage com o sistema operacional Windows,
verbalizando todos os eventos que ocorrem no
computador. Os usuários com deficiência visual podem utilizar o
computador com de teclas de atalho (SONZA, 2013).
23 Software com código aberto para o
ambiente Windows, que disponibiliza
síntese de voz em diversos idiomas, incluindo
o português brasileiro (SONZA,
2013).
24 Interface
especializada que se comunica com o usuário, em português, por meio de síntese
de voz (SONZA, 2013).
25 Leitor desenvolvido
pela comunidade Gnome, padronizado
com sistemas operacionais Solaris, Linux, entre outros (MARI, 2011).
26
Consideram-se formatos
acessíveis os arquivos
digitais que possam ser reconhecidos e acessados por softwares leitores de telas ou outras
tecnologias assistivas que vierem a substituí-los, permitindo leitura com voz sintetizada,
ampliação de caracteres, diferentes contrastes e impressão em braile
(MARI, 2011).
27 Software desenvolvido pela Freedom Scientific Blind, é um dos
ampliadores de tela mais utilizados por quem
tem baixa visão, pois disponibiliza diversas ferramentas que facilitam a
visão da tela, através de vários níveis de auto-contrastes
e ampliação de tela. E pode ser utilizado simultaneamente com o Jaws
(ACESSIBILIDADE, 2014).
28 Recurso de ampliação mais acessível
aos usuários, já que o mesmo vem instalado por padrão em sistemas Windows (ACESSIBILIDADE, 2014).
29 Software desenvolvido pela AiSquared, é um software que amplia até
36x com alta definição. Está disponível na versão
9.1 e acompanha também um leitor de tela
(ACESSIBILIDADE, 2014).
30
Software que amplia a tela em uma janela tendo a
função de uma lupa (ROCHA, 2013).
A biblioteca digital possui como base informacional conteúdos em formatos digitais para livros, periódicos, teses, imagens, vídeos e outros, que são armazenados e disponibilizados, segundo processos padronizados, em servidores próprios ou distribuídos e acessados via rede de computadores em outras bibliotecas ou redes de bibliotecas da mesma natureza (TOUTAIN, 2005).
Nos estudos de Vidotti e Sant’ana (2005) a infraestrutura tecnológica para o desenvolvimento de uma biblioteca digital, se baseia no planejamento de uma biblioteca convencional, em todos os seus processos, contemplando: aquisição, processamento técnico, desenvolvimento de coleções, disseminação, atendimento ao usuário e preservação. E que se faz necessário estudo ergonômico das interfaces e funcionalidades dessas bibliotecas que considerem o público-alvo.
Na literatura podem ser encontradas diversas definições para bibliotecas digitais ou repositórios. Os autores Viana, Mardero Arellano e Shintaku (2007), apresentam o repositório digital como uma forma de armazenamento de objetos digitais, que tem a capacidade de manter e gerenciar materiais informacionais por longos períodos de tempo e prover o acesso apropriado. Kuramoto (2006), explica que os termos repositórios ou bibliotecas digitais são relativamente novos e ainda não existe uma definição muito precisa do significado e da diferença entre os conceitos. Na literatura, os termos são utilizados indistintamente, denominando biblioteca digital aquilo que alguns classificam como repositório, e vice-versa.
Na visão de Fantinel (2009) as bibliotecas digitais são consideradas como sistemas de informação extremamente complexos suportando a criação, gestão, distribuição e preservação de fontes de informação, permitindo uma interação eficaz e eficiente entre as diversas sociedades que se beneficiam do conhecimento armazenado nesses ambientes.
Atualmente, existem no Brasil bibliotecas digitais institucionais, temáticas, nacionais, locais, escolares e outras, mas os acervos disponibilizados não contemplam os formatos acessíveis para atender ao público com deficiência visual (RECK, 2010; MALHEIROS, 2013; SILVA; MELO, 2014). Pois, nem sempre esses espaços digitais oferecem estrutura e coleções nos formatos acessíveis que permita o acesso por todos.
A biblioteca digital acessível é apresentada por Malheiros (2013) como sendo uma biblioteca com um acervo digitalizado, adaptado e organizado para ser recuperado por pessoas com deficiência visual e que principalmente possa ser lido pelos leitores de tela. De forma que
sua concepção somente é possível com a adoção de padrões que promovam a navegabilidade por leitores de tela, bem como na produção de materiais informacionais acessíveis.
No contexto inclusivo Silva e Melo (2014), consideram que a biblioteca digital on- line, deve possibilitar o uso por todas as pessoas, entre elas indivíduos com deficiência que adotem algum recurso de tecnologia assistiva para acessá-la. De forma que, esses usuários naveguem por suas páginas, pesquisem, acessem e leiam as publicações disponibilizadas.
Nesse sentido, as bibliotecas digitais acessíveis devem ser desenvolvidas considerando estruturas e produtos compatíveis com recursos acessíveis, que permitam os usuários utilizá- las. Mas, no que se refere aos acervos, há de ser consideradas coleções de conteúdos abertas e fechadas voltadas as especificações dos usuários. Por exemplos, os acervos destinados as pessoas com deficiência visual, observam o Art. 46 da Lei de Direito Autoral, no que diz respeito à exclusividade de acesso a conteúdos independente dos formatos.
A seguir, no Quadro 3, apresenta-se o demonstrativo de iniciativas de bibliotecas digitais acessíveis retirados do estudo de Malheiros (2013).
Quadro 3 - Bibliotecas acessíveis
Bibliotecas acessíveis públicas |
Endereço |
Acervo |
Laboratório de Acessibilidade |
http://www.todosnos.unicamp.br:808 0/lab/acervo |
Acervo de vídeos, artigos científicas, capítulos de livros, livros digitalizados pelo Laboratório de Acessibilidade. |
Biblioteca Digital
e Sonora (BDS) |
Acervo
digitalizado de livros adaptados e
acervo sonoro de livros gravados - voz humana. |
|
Biblioteca do Núcleo de Computação Eletrônica da UFRJ |
http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox/hori zonte.htm |
Acervo livros
no formato Daisy,
livros digitais sonoros. |
Biblioteca Virtual Sonora da Universidade Estácio de Sá de Campos dos Goytacazes |
Acervo para
deficientes visuais e videntes. |
|
Biblioteca Digital Acessível - Ministério
da Educação |
Acervo para pessoas com deficiência visual a pesquisa por autor,
título e assunto. |
|
Bibliotecas acessíveis privadas |
Endereço |
Acervo |
Biblioteca Digital para Cegos da
Universidade Metodista de São Paulo |
Acervo digitalizado de textos, livros para pessoas com deficiência visual. |
|
Biblioteca da Escola Superior de Propaganda e Marketing |
Fornece a pessoas com deficiência visual acesso aos
livros técnico-científicos. |
Biblioteca da Fundação Dorina Nowill |
Desenvolve um
acervo de livros no formato Daisy
e disponibiliza o aplicativo
(Daisy Reader) para leitura dos
livros. |
|
Instituto de Responsabilidade e Inclusão Social (IRIS) |
http://www.iris.org.br/projetobibliote cadigital.asp |
Mantém convênio com a Escola Superior
de Propaganda e Marketing para
utilizar acervo para pessoas com
deficiência visual. |
BibVirt |
Acervo de literatura
brasileira, estilos literários, autores e obras. |
|
Biblioteca da Fundação Memorial da América Latina |
Acervo de livros de autores latino
americanos. |
Fonte: Malheiros (2013).
Entende-se que as bibliotecas digitais acessíveis representam uma infraestrutura de banco de dados capazes de armazenar, preservar e disponibilizar coleções de documentos em diversos formatos em meio digital. No entanto, deve-se considerar a condição preliminar de requisito de acessibilidade no processo de planejamento desses ambientes digitais, de modo a contemplar o público que se pretende atender. “A acessibilidade desses sistemas é essencial para que todos os interessados possam utilizá-los de maneira autônoma. Esse requisito contemporâneo deve ser contemplado desde sua concepção, o que ainda não é muito comum.” (SILVA; MELO, 2014, p. 69).
O usuário é apresentado por Miranda (2014) como o ator principal na construção de um sistema de informação digital, cujas demandas informacionais precisam ser sempre observadas. Outra questão importante a ser considerada entre biblioteca digital acessível e o usuário, é a necessidade de investigação dos processos de navegabilidade de suas funcionalidades e recuperação da informação.
No que se refere à utilização das bibliotecas e repositórios, Nielsen e Loranger (2007) explicam que a ampla utilização da informática, por praticamente todas as áreas do conhecimento, aumenta a preocupação com o processo de desenvolvimento de software com qualidade de uso, exigindo que os profissionais da área busquem modelos eficazes, capazes de atender a qualquer tipo de usuário. Uma vez que, o usuário precisa sentir-se confortável ao realizar a navegação da interface da biblioteca, de forma que possa atingir seus objetivos. Por isso, a necessidade de aplicação de métodos avaliativos que validem a qualidade de uso dos sites desenvolvidos nos ambientes digitais.
Tammaro e Salarelli (2008) em seus estudos afirmam que a avaliação do uso da biblioteca digital ainda permanece cheia de lacunas, quando se trata de entender a perspectiva
do usuário. Pois, supõe-se que os mesmos devam sentir-se satisfeitos com os serviços. No estudo de Lima (2012) as remodelações dos ambientes digitais advêm do levantamento de problemas e busca de soluções por meio de um processo que procure conhecer, identificar e medir o desempenho do usuário em relação à utilização do sistema.
De forma que, o desenvolvimento de bibliotecas digitais com foco nos usuários com deficiência visual merece considerável atenção, no sentido de melhor acolher opiniões e expectativas dos usuários, tornando o produto aceitável e utilizável para um público a que inicialmente foi projetado. Portanto, faz-se necessário conhecer as peculiaridades inerentes a pessoas com deficiência visual, bem como os recursos tecnológicos e aspectos ergonômicos para interfaces que possam favorecer a sua autonomia na utilização da biblioteca digital. Pois, a partir de estudos avaliativos pode-se, a médio e longo prazo, desenvolver ou aprimorar as bibliotecas digitais acessíveis.
A ergonomia sempre esteve relacionada com a história do trabalho, progresso e desenvolvimento de tecnologias, movimentos sociais, ideias e as ciências. E por muito tempo manifestou a preocupação em diminuir o sofrimento do homem em suas atividades (LAVILE, 2007). Quanto ao termo ergonomia, oficialmente passa a ser utilizado logo após a Segunda Guerra Mundial, em 1949, na Inglaterra, como consequência do trabalho interdisciplinar com vários profissionais que tiveram o pensamento de criar a sociedade de ergonomia (IIDA, 2005). Na década de 1970, a definição de ergonomia começou a ser fortemente relacionada à adaptação do trabalho ao homem. E mais precisamente, na aplicação de conhecimentos científicos relativos ao homem, voltados a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos que gerassem conforto, segurança e eficácia.
No ano de 2000, a International Ergonomics Association (IEA) apresentou a ergonomia como disciplina científica e como prática da adaptação do trabalho ao homem (FALZON, 2007). Essa conceituação tornou-se referência internacional, sendo a mais empregada atualmente.
A ergonomia pode ser definida como adaptação do trabalho ao homem ou, mais precisamente, como a aplicação de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários para conceber ferramentas, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo conforto, segurança e eficácia. (FALZON, 2007, p. 03).
A ergonomia designa o conjunto de disciplinas que estuda a organização do trabalho no qual existe interações entre seres humanos e máquinas. Ou seja, preocupa-se com o entendimento das interações entre seres humanos e elementos de um sistema. Quanto a sua finalidade, busca desenvolver e aplicar técnicas de adaptação do indivíduo ao seu trabalho, e formas eficientes e seguras de desempenhá-lo visando a otimização do bem-estar e, consequentemente, aumento da produtividade (MELO, 2010). O estudo de Falzon (2007, p. 5), mostra uma explanação da presença da ergonomia em todos os aspectos da atividade humana (Quadro 4), em que ocorre a confirmação de sua aplicação nas seguintes dimensões:
Quadro 4 - Ergonomia nos aspectos da atividade humana
Ergonomia física |
Trata de características anatômicas, antropométricas, fisiológicas relacionadas com a atividade física. Os tópicos
relevantes que incluem
postura no trabalho, manuseio de materiais, movimentos repetitivos, segurança e saúde do trabalhador. |
Ergonomia Cognitiva |
Trata de processos mentais: percepção, memória, raciocínio e respostas motoras
com relação entre as pessoas e os outros elementos dos sistemas. Os tópicos importantes incluem a carga mental,
tomada de decisões, interação homem-computador, estresse e treinamento. |
Ergonomia organizacional |
Trata da otimização dos sistemas sócio
técnicos, abrangendo as estruturas
organizacionais, políticas e processos. Inclui comunicações, projeto de trabalho, trabalho
cooperativo e cultura organizacional e gestão
de qualidade. |
Fonte:
Falzon (2007).
Torres (2007) aborda o conceito de ergonomia relacionado ao trabalho humano, com destaque para uma abordagem global do trabalho, e na análise cognitiva do homem que trabalha. A compreensão dessa realidade torna-se possível mediante a análise de duas dimensões: a primeira chamada de visível, em que se encontram as prescrições do que deve ser feito, o ambiente, os equipamentos, o comportamento observável dos sujeitos; e a segunda denominada de invisível, na qual se encontram os sentimentos, os pensamentos dos trabalhadores, suas experiências acumuladas, ou seja, a cognição e a subjetividade que permeiam toda ação de trabalho. Para a autora, quando a ergonomia passa a ser direcionada para o uso das tecnologias de informação e comunicação, faz-se necessário observar a interação entre homens e seu trabalho (sistema). De maneira que, ao conhecer o processo como um todo, tanto os elementos do trabalho, quanto as questões relativas aos sujeitos, é possível compreender o funcionamento da estrutura e o impacto de influências, e com isso, minimizar possíveis impactos negativos dessas relações.
Ainda sobre as definições de ergonomia, ressalta-se o caráter interdisciplinar do Repositório de Informação Acessível, e a ocorrência da interação entre o homem e o trabalho no sistema homem-máquina-ambiente, na qual se deve “[...] procurar facilitar o processo, ou seja, melhorar a visibilidade da tarefa” (DESNOYERS, 2007, p. 59). Nesse sentido, a ergonomia se apresenta como facilitadora no diálogo entre o homem e a tecnologia, fornecendo técnicas e subsídios para melhor adaptar o trabalho ao ser humano.
De acordo com Cybis, Betiol e Faust (2010), a ergonomia se faz presente na origem da usabilidade, considerando-se que, quanto mais adaptado for o sistema interativo, maiores serão os níveis de eficácia, eficiência e satisfação alcançados pelo usuário durante o uso do sistema. Significando com isso, que os estudos ergonômicos realizados esclarecem sobre os pontos de funcionalidade dos sistemas e dispositivos, bem como se estão direcionados à maneira como o usuário pensa, comporta-se e trabalha a informação.
Na abordagem ergonômica defendida por Oliveira (2001), o trabalho deve se adaptar ao homem; e quando ocorre à transferência desse princípio para a informática, é o computador
que deve se adaptar ao usuário, e não o contrário. No caso do desenvolvimento de interfaces, deve-se considerar o propósito do site e os usuários a que se destina. De forma que, uma avaliação ergonômica de interfaces web proporciona a verificação da funcionalidade e entraves relacionados aos recursos e conteúdos disponibilizados, podendo gerar informações que contribuam com melhorias para o sistema.
Ao considerar a perspectiva apresentada nos parágrafos anteriores, a ergonomia se constitui como norteadora de padrões para tornar os instrumentos utilizáveis às pessoas de maneira que não ocasione perda de tempo, falhas na interação humano-computador e o comprometimento na execução das tarefas. Bem como, tornam-se imprescindíveis estudos voltados para opinião do usuário, o que permite identificar ações passíveis ou não de adaptação. De forma que, a aplicação dos parâmetros ergonômicos aos produtos, deve ser diretamente associada a atender as expectativas do usuário.
A ergonomia de interfaces representa um aspecto importante na busca de melhorias na utilização dos recursos web, e também se apresenta como facilitador na adaptação ao trabalho do homem à máquina. Com relação às interfaces web, precisam ser compreensíveis quanto à funcionalidade das arquiteturas apresentadas, de forma que ofereçam caminhos capazes de aumentar a integração de recursos e interação dos sistemas com o usuário.
6.1 ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO
A arquitetura da informação determina os princípios, as técnicas, os métodos e os elementos principais da arquitetura de sites permitindo um desenvolvimento de ambientes informacionais digitais mais eficientes. Comparando-se a uma estrutura organizacional, que por meio de desenhos, mostra caminhos aos usuários de como utilizar determinado produto (FANTINEL, 2009).
No desenvolvimento de uma biblioteca digital, a estrutura que compõe a disponibilização das informações e serviços se assemelha aos processos, métodos e ferramentas utilizadas pelas bibliotecas tradicionais. O planejamento desses ambientes requer o estudo da arquitetura dos dados e implantação de um sistema computacional (software) para integração e gerenciamento dos serviços, conteúdos e acesso pelos usuários.
Além dos sistemas de organização, rotulagem, navegação e busca, vale destacar a usabilidade que enfoca a analise do design da web site, verificando a possibilidade um pleno funcionamento, identificando e solucionando possíveis erros, tornando-os fáceis de usar em prol do usuário.
Pode ser aplicada durante a criação ou na remodelação de um website. (VIDOTTI; SANT'ANA, 2005, p. 85).
Nesse sentido, entende-se que no desenvolvimento de uma arquitetura da informação de um produto de informação digital, seja consistente e clara com informações que realmente apresentem e possibilitem o acesso à informação nela contida. Para tanto, os sites devem apresentar em sua interface: um desenho, cuja interação, precisa se desenvolver de maneira simples, de modo a gerar uma confiabilidade dos serviços e conteúdos ao usuário.
Um sistema bem estruturado deve atender as necessidades dos usuários, oferecendo um ambiente virtual organizado, facilita n d o a navegabilidade do visitante, com uma abordagem centrada no usuário, conduzindo a personalização das interfaces de comunicação no processo de recuperação e visualização dos conteúdos digitais. (VICENTINI, 2005. p. 250).
Ainda acerca da estruturação de páginas de sites, os projetos de arquitetura da informação na concepção de Lazzarri (2012), devem ampliar sua visão, considerando a usabilidade e acessibilidade dos sistemas de informação como fatores condicionantes e determinantes para a criação e estruturação de uma interface interativa, de boa qualidade, fácil uso e acesso. Nesse processo, “os usuários esperam sites que organizem informações que façam sentido para eles” (NIELSEN; LORANGER, 2007, p. 173). Portanto, torna-se fundamental estabelecer canais de diálogo com os usuários. Inclusive, sobre o funcionamento e a respeito do acesso e interação aos conteúdos apresentados e dispostos na interface.
6.2 INTERFACE E INTERAÇÃO HUMANO-COMPUTADOR
O desenvolvimento de bibliotecas digitais implica, necessariamente, na construção de interfaces de comunicação via web. Ou seja, correspondendo à implantação de um site da web, que possibilite aos usuários a realização de buscas e visualização do acervo de objetos digitais. Evidenciando-se que a estruturação dessas interfaces sejam desejáveis, no que se refere a utilização de padrões de ergonomia, com vistas a facilitar o uso por parte dos usuários (VIDOTTI; SANT'ANA, 2005).
Compreende-se por interface, “a parte de um sistema computacional utilizada pelo usuário para interagir física, perceptiva e conceitualmente com o próprio” Moran (1981 apud FERREIRA; SOUTO, 2005, p. 188). Para melhor compreensão desse conceito no Quadro 5, Ferreira e Souto (2005) apresentam dois componentes complementares:
Quadro 5 - Componentes de interface
Componentes físicos |
Recursos tangíveis
compostos por dispositivos de hardware com os quais os usuários realizam as atividades motoras e perceptivas
(teclado, mouse, teclado, tela, impressora, ícones,
comandos, menus, ferramentas, dentre outros) e,
dispositivos de software que possibilitam que o usuário interaja com o sistema. |
Componentes cognitivos |
Recursos abstratos
desenvolvidos pelo sistema a partir de diretrizes, conceitos e valores pré-definidos, para priorizar os processos
cognitivos voltados ao raciocínio, à interpretação e ao processamento de informações do usuário durante a realização
de suas tarefas. |
Fonte: Ferreira e Souto (2005).
Nesse sentido, as interfaces compreendem a parte em que o usuário mantém contato físico ou interativo com o sistema. Logo, deve ser percebida como canal de diálogo ou comunicação do usuário com o sistema (BARBOSA; SILVA, 2010).
Na opinião de Ferreira e Nunes (2011), as interfaces web têm como objetivo proporcionar a interação entre a pessoa e o computador, considerando que devem ser fáceis de navegação, apresentar etapas simples e consistentes de interação, oferecer de modo claro as alternativas disponíveis, sem confundir, permitindo que os usuários realizem suas tarefas. Evidenciando-se que a facilidade de interação entre o usuário e a interface não pode depender apenas dos aspectos de usabilidade e sua aplicação, mas também da capacidade do usuário detectar, interpretar e responder apropriadamente às informações disponibilizadas. De modo que, a interface não seja simplesmente o que se observa na tela do computador, pois o seu desenvolvimento envolve atividades, recursos e ferramentas específicas. Portanto, deve ser cuidadosamente projetada de forma a promover interação entre usuário e o sistema.
A interação humano-computador se propõe a compreender como e por que os indivíduos utilizam e executam suas tarefas ao interagir com as interfaces computacionais (SANTA ROSA; MORAES, 2012).
Na web, as pessoas estão no controle, com uma quantidade de escolhas infinitamente superior e com possibilidades de interação bem mais complexas do que um simples zapeamento. A navegação exige comportamento ativo, que demanda certo esforço intelectual para o aprendizado e uso da interface. (NIELSEN, 2007, p. 408).
Primo e Cassol (1999) esclarecem que a criação e a manutenção de ambientes interativos mediados por computador podem ter eficiência, se por trás de sua implementação houver um profundo conhecimento da comunicação humana. Evidenciando-se que pouco adianta os sofisticados recursos informáticos, a complexidade envolvida nas linhas de
programação e a estética das interfaces se o usuário tem sérias dificuldades de interagir. Esses autores apresentam um esquema (Figura 1) para explicar a interação mediada por computador.
Figura 1- Interação mediada por computador
Fonte: Primo e Cassol (1999).
Ao considerar o modelo acima, entende-se que o web designer planeja a estrutura da parte visível do sistema que é o site, cuja representação ocorre por meio da interface que é disponibilizada via web, a qual o usuário acessa para navegação no site e interagir com o sistema.
A interação mediada por computador é reconhecida por Primo e Cassol (1999) como um tipo de comunicação que ocorre entre duas ou mais partes, bem como quando a ação de uma delas provoca uma reação da outra ou das restantes. Para esses autores, o que antecede o processo de interação é a necessidade de disponibilizar interfaces amigáveis, de forma que não apresentem dificuldades para o usuário, mas que facilitem a navegação. A interação entre o usuário e a interface está condicionada a vários aspectos: ergonômicos, humanos, comunicacionais, capacidade de o usuário detectar, interpretar e responder corretamente as informações apresentadas pelo sistema.
Ao considerar o processo de interação na perspectiva do usuário com deficiência visual, é imprescindível a aplicação correta dos requisitos de usabilidade e acessibilidade que favoreçam o processo, e respeitem as limitações dos usuários.
6.3 USABILIDADE
Na literatura, a definição de usabilidade é diversificada. A norma 9241-11, que trata das recomendações ergonômicas, conceitua a usabilidade como sendo a capacidade que apresenta um sistema interativo de ser operado de maneira eficaz, eficiente e agradável, em um determinado contexto de operação, para a realização das tarefas de seus usuários. Somando-se a essa definição, a abrangência das características físicas do hardware, as sinalizações e as informações prestadas ao usuário para uma utilização eficiente do sistema (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 1998).
Para Nielsen (2007) a usabilidade representa a facilidade de manuseio de um produto, assim como a qualidade que caracteriza o uso dos programas e aplicações, sendo descrita a partir de cinco critérios de qualidade: facilidade de aprendizado, eficiência de uso, facilidade de memorização, baixa taxa de erros e satisfação subjetiva.
À medida que não oferecem facilidades para que ocorra sua utilização, as interfaces apresentam entraves significativos que dificultam o acesso e navegação por usuários experientes ou não, tornando o produto inapropriado e sem atrativo. Na verdade, constituem- se em problemas de usabilidade, que na visão de Cybis, Betiol e Faust (2010), são quaisquer características observadas em determinadas situações, que pode retardar, prejudicar e, até mesmo, inviabilizar a realização de uma tarefa, aborrecendo, constrangendo ou traumatizando. Esses entraves são classificados como: barreiras - (quando impedem a realização da tarefa, acarreta perda de tempo); obstáculo - (o usuário esbarra várias vezes, mas consegue ultrapassar) e ruído - (quando causa diminuição no desempenho de realização das tarefas).
Os critérios de usabilidade são baseados na norma ISO 9241-11 (INTERNACIONAL STANDARD ORGANIZATION, 1998; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCICAS, 2002) como mostra a Figura 2, apresentam diretrizes para o estabelecimento do fator da qualidade para interfaces, e facilidade de uso em sistemas web. Uma vez que, o nível de usabilidade está relacionado ao desempenho e satisfação dos usuários trabalhando com o produto.
Figura 2 -
Estrutura de Usabilidade
Fonte: NBR 9241-11(2002).
A ISO 9241-11 enfoca a usabilidade e contribui positivamente para os objetivos ergonômicos, tal como a redução de possíveis efeitos de uso adversos do sistema de computadores sobre a saúde, segurança e desempenho humano. O Quadro 6 mostra três critérios ergonômicos de usabilidade fundamentais nesse processo.
Quadro 6 - Norma ISO 9241 – Critérios ergonômicos de usabilidade
Eficácia |
A capacidade que os sistemas
conferem a diferentes tipos de usuários para alcançar seus
objetivos em número
e com a qualidade necessária. |
Eficiência |
A quantidade de recursos (por exemplo, tempo, esforço físico
e cognitivo) que os sistemas
solicitam aos usuários
para a obtenção de seus objetivos com o
sistema. Tempo das tarefas. |
Satisfação |
A emoção que os sistemas
proporcionam aos usuários em face dos resultados obtidos e dos recursos necessários para
alcançar tais objetivos. Escalas de satisfação e reclamações. |
Fonte:
Cybis, Betiol e Faust (2010); Santa Rosa e Moraes (2012).
Camargo e Vidotti (2011) apresentam 35 princípios ou diretrizes sobre usabilidade de interfaces (Quadro 7) baseados nos critérios da norma ISO 9241-11 (INTERNACIONAL STANDARD ORGANIZATION, 1998).
Quadro 7 - Critérios de usabilidade
Critérios de usabilidade |
1
- Exibir o nome da empresa e/ou logotipo ou slogan. 2 - Enfatizar as tarefas de mais alta
prioridade. 3-
Agrupar informações da empresa por
assunto. 4- Incluir
um link da homepage para uma seção "Sobre Nós" e "Fale
Conosco". 5 - Possibilitar retorno à página
principal. 6 - Usar seções
e categorias de rótulo, usando
a linguagem do cliente. 7 -
Evitar conteúdo redundante. 8 - Padronizar as páginas do site 9 - Empregar padrões e estilo com consistência. 10 - Explicar o significado de abreviações. 11
- Usar exemplos para revelar o conteúdo do site. 12 -
Facilitar o acesso aos itens apresentados recentemente na homepage. 13 - Diferenciar links e torná-los fáceis de serem
visualizados. 14
- Não usar instruções genéricas, como "clique aqui", como um nome
de link. 15 - Permitir links coloridos para
indicar os estados
visitados e não visitados. 16
- Usar nomes
de links significativos. 17 - Disponibilizar uma caixa de entrada na homepage
para inserir consultas de pesquisa. 18-
Não oferecer um recurso
para "pesquisar na web", na função de pesquisa do site. 19 - Rotular gráficos e fotos se os respectivos significados não estiverem claros.
20 - Permitir que o usuário decida ver uma introdução animada de seu site. 21 - Usar texto com muito contraste e cores de plano
de fundo. 22 - Evitar a
rolagem horizontal. 23
- Usar raramente menus suspensos. 24 - Incluir uma descrição resumida do site no título da janela. 25 -
Os títulos devem
ser sucintos, mas descritivos. 26
- Evitar janelas pop-up. 27 - Não dê boas-vindas aos usuários no site. 28 -
Se o website ficar paralisado ou
não estiverem funcionando, informar na homepage. 29
- Ao fazer uma
atualização, atualizar somente o conteúdo
realmente modificado. 30 - Explicar para
os usuários os benefícios e a frequência de publicação. 31
- Mostrar aos usuários a hora da última atualização de conteúdo. 32 - Disponibilizar
mapa de navegação 33 - Reduzir o tempo de resposta 34
- Diminuir textos
longos 35 - Não utilizar de forma excessiva as ilustrações e animações |
Fonte:
Camargo
e Vidotti (2011).
A avaliação de usabilidade é importante para a visualização da complexidade das interações entre o usuário, objetivos, características da tarefa e outros elementos do contexto de uso (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2002), de forma que o
conhecimento do funcionamento do sistema, bem como a forma como os usuários utilizam um produto, podem determinar não apenas o nível de usabilidade, mas também pontos que precisam ser otimizados.
Os critérios ergonômicos de usabilidade propostos no Quadro 7, adicionados às diretrizes das normas ISO/ABNT, e às diretrizes de acessibilidade apresentadas no Quadro 8 (ver subtópico 6.4), constituem direcionamentos para interfaces de bibliotecas digitais acessíveis para identificação de entraves para usuários com limitação a leitura que utilizam tecnologias assistivas de acesso à informação.
6.4 ACESSIBILIDADE
A acessibilidade preconiza as condições para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, serviços de transporte, dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida (BRASIL, 2004, 2015). Considerando-se que a ideia da acessibilidade, contemple o desenvolvimento de espaços acessíveis e utilizáveis, com base na concepção de um desenho para todos.
De acordo com Kranz (2014), o conceito de desenho universal31 é apresentado como um modificador de processos inclusivos, uma vez que concebe o mundo como projetado a priori para as diferenças. A autora toma como base, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006), e confirma a perspectiva de que o design de produtos e ambientes deve ser desenvolvido para o uso de todas as pessoas, na maior extensão possível, sem que haja necessidade de adaptação ou desenho especializado, bem como sua utilização seja de forma equitativa e simples, de modo que os projetos de produtos questionem a concepção de homem padrão, e ampliem o sentido de acessibilidade customizada em respeito à diversidade humana.
A concepção e a implantação de projetos que tratem do meio físico, de transporte, de informação e comunicação, inclusive de sistemas e tecnologias da informação e comunicação, [...], devem atender aos princípios do desenho universal, tendo como referência as normas de acessibilidade. (BRASIL, 2015, Art. 55).
31
Concepção de espaços, artefatos
e produtos que visam atender
simultaneamente todas as pessoas, com diferentes
características antropométricas e sensoriais, de forma autônoma, segura e
confortável, constituindo-se nos
elementos ou soluções que compõem a acessibilidade (BRASIL, 2004); concepção de
produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados por todas as pessoas,
sem necessidade de adaptação ou de projeto
específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva (BRASIL, 2015).
Quando os conceitos de acessibilidade e do desenho universal são associados a tecnologias, estes proporcionam uma qualidade no acesso à informação e interação do usuário com as interfaces de apresentação dos sites, independentemente da plataforma, equipamento, navegador ou limitação do usuário. De forma que, torna-se possível a utilização desses ambientes por pessoas com deficiência.
A acessibilidade dos ambientes digitais pode ser compreend