P. Dados do Material
Título: Brincando com Música na Sala de Aula
Autor: Bernardete Zagonel
Este material foi adaptado pelo Setor de Musicografia Braille e Apoio a
Inclusão da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, em conformidade com a Lei 9.610 de 19/02/1998, Capítulo IV, Artigo
46. Permitindo o uso apenas para fins educacionais de pessoas com
deficiência visual. Não podendo ser reproduzido, modificado e utilizado com
fins comerciais.
Adaptado por: Verônica Alves
Data: 30/03/2023 a ____/04/2023
Descrições de imagem por: Camilo Soares
Revisado por: Camilo Soares
Data: 27/06/2023
Capa
Educadores!
Este livro faz parte do acervo do Programa Nacional Biblioteca da Escola
- PNBE do Professor 2013, composto por várias obras de apoio pedagógico.
O material foi encaminhado a sua escola com o objetivo de facilitar a sua
atualização e o seu desenvolvimento profissional. Por ser um bem cultural, a
conservação deste livro é de responsabilidade de todos.
Boa leitura!
Brincando com Música na Sala de Aula
jogos de criação musical usando a voz, o corpo e o movimento
Bernadete Zagonel
Brincando соm Música na Sala de Aula
jogos de criação musical usando a voz, o corpo e o movimento
Conforme a nova ortografia
1ª edição
2012
Copyright © Editora Ibpex
Conselho editorial
Dr. Ivo José Both (presidente)
Drª Elena Godoy Dr. Nelson
Luís Dias
Dr. Ulf Gregor Baranow
Editor-chefe
Lindsay Azambuja
Editores-assistentes
Ariadne Nunes Wenger
Marcela de Abreu Freitas
Editor de arte
Raphael Bernadelli
Preparação de originais
Eliane Felisbino
Revisão
Dayene Correira Castilho
Projeto gráfico e diagramação
Caroline Novak Laprea
Capa
Raphael Bernadelli (fotografia)
André Figueiredo Müller
(ilustrações)
Roberto Querido (design e coloração)
Iconografia
Danielle Scholtz
Ilustrações
André Figueiredo Müller
Direitos reservados à
SARAIVAS. A. Livreiros Editores
Rua Henrique Schaumann, 270 - Pinheiros
05413-010-São Paulo-SP
Zagonel, Bernadete
Brincando com música na sala de aula: jogos de criação musical usando
a voz, o corpo e o movimento / Bernadete Zagonel. São Paulo: Saraiva, 2012.
Bibliografia.
ISBN 978-85-02-16166-5
1. Música - Estudo e ensino I. Título. II Série.
CDD-780.7
índices para catálogo sistemático:
1. Educação musical 780.7
2. Música: Estudo e ensino 780.7
Informamos que é de inteira responsabilidade da autora a emissão de
conceitos.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer
meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Ibpex.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/1998
e punido pelo art. 184 do Código Penal.
Sumário
Apresentação, 7
Introdução, 9
1 O gesto, a voz, a criação, a música, 15
1.1 O gesto e a escrita, 20
2 Jogos musicais: gesto e voz, 25
Jogo 1: Bola sonora, 28
Jogo 2: Dominó, 30
Jogo 3: O som que vem do gesto, 32
Jogo 4: Acumulativo, 34
Jogo 5: Refazendo músicas, 36
Jogo 6: A música da dança, 38
3 Jogos musicais: sopa de letrinhas, 41
Jogo 7: Caretas, 44
Jogo 8: Música das palavras desfeitas, 46
Jogo 9: Linhas, pontos e letras, 48
Jogo 10: Música das letras, 50
4 Jogos musicais: linhas sonoras no espaço, 53
Jogo 11: Fio sonoro, 58
Jogo 12: Desenhando o espaço, 60
Jogo 13: Música do passeio, 62
5 Jogos musicais: aprendendo música com o corpo em movimento,
65
Jogo 14: Boneco desengonçado, 68
Jogo 15: Respiração em cadeia. 70
Jogo 16: Sobe e desce, 76
Jogo 17: Vai e vem, 78
Jogo 18: Ímã, 80
Jogo 19: Som atrás, 82
Jogo 20: Marionetes, 84
Jogo 21: Ventos coloridos, 86
Jogo 22: Nuvem sonora, 88
6 Jogos musicais: materiais, texturas e formas em partituras, 93
Jogo 23: O som do gesto, 96
Jogo 24: Música dos papéis, 98
Jogo 25: Caixinhas de sons, 100
Jogo 26: Composição com texturas, 102
Jogo 27: Contrastes, 104
Jogo 28: História em quadrinhos em música, 106
Jogo 29: Uma outra mesma música, 110
7 Jogos musicais: músicas que vêm de fora, 115
Jogo 30: Mensagens de tambor, 118
Jogo 31: A floresta encantada, 120
Jogo 32: Refazendo os sons da cidade, 122
Jogo 33: Música que vem da natureza, 124
Comentário final, 127
Discografia sugerida, 131
Referências, 133
Nota sobre a autora, 136
P.7
Apresentação
Este livro é dedicado especialmente aos professores que desejam
trabalhar a música na escola de forma criativa, simples e alegre. O conteúdo
apresentado enfoca tanto o aspecto metodológico do ensino de música como
alguns temas a serem abordados, combinando três aspectos: o jogo, visto como
ação para fazer música e como meio de expressão; o desenvolvimento do hábito
de pesquisa na conscientização e exploração do som para o enriquecimento de
cada etapa de trabalho; o uso do gesto como elemento integrante do movimento
sonoro e musical. Além disso, propõe aos alunos a audição de obras musicais.
Para facilitar a atuação do professor, foram selecionadas algumas músicas do
repertório contemporâneo que o aqui descritas e que servem como
complemento do processo de aprendizagem da música. Essas peças possuem
elementos da estética e da teoria musical que estão diretamente relacionados
com os jogos, servindo então como ilustração e justificativa da prática. Dessa
forma, é possível obter uma maior compreensão das músicas em questão, pois
o trabalho com os jogos se constitui uma preparação à audição das obras, do
mesmo modo que a audição das peças complementa a atividade prática.
P.8
O que se propõe, na verdade, é uma mudança de postura ante o ensino,
no qual algumas atitudes são enfatizadas e priorizadas em relação a outras.
Entendemos que:
- despertar no indivíduo habilidades e o gosto pela música é mais
importante do que ensinar uma técnica;
- sensibilizar para a música precede o ensino de conceitos;
- a busca do crescimento pessoal vale mais que o simples ensino da
matéria;
- o fazer musical traz melhores resultados que o conhecimento teórico de
conceitos;
- a criação sobrepuja a imitação;
- a audição é privilegiada em relação à escrita;
- os desejos do aluno podem ser respeitados tanto quanto a vontade do
professor;
- a pesquisa e a descoberta de materiais sonoros é uma maneira mais
rica de se entrar na música do que o trabalho somente com as notas e
instrumentos;
- o gesto expressivo pode mais facilmente chegar ao musical do que o
movimento corporal usado somente para fixar noções.
Pensamos igualmente na importância da ampliação dos conteúdos
musicais e na inclusão de elementos da música contemporânea neste ensino
especializado, sempre dentro da perspectiva da criação musical.
P.9
Introdução
muitos anos venho trabalhando com o ensino e a prática da sica,
seja com crianças e adolescentes, seja na formação de professores.
Os jogos vêm sendo por mim desenvolvidos e aplicados mais de
quinze anos, pois eles nasceram de minhas pesquisas para a tese de doutorado
[Nota 1] que defendi em 1994. São frutos, portanto, de larga experimentação.
Durante minhas pesquisas na França, tive a oportunidade de conhecer e
conviver com vários músicos e professores cujo trabalho pedagógico está
baseado na estética da música do século XX, e que fazem uso, essencialmente,
do movimento corporal na prática musical e priorizam a criação da música no
processo de aprendizado.
Meus estudos sobre as correntes pedagógicas que propõem inovações
no ensino da música tiveram grande enfoque nas que trabalham com o gesto
musical, porém não somente nelas. Entre os autores que mais me influenciaram
estão: Cristina Agosti-Gherban e Christina Rapp-Hess, duas professoras que
propõem uma pedagogia global, unindo os padrões das sicas de tempos
anteriores aos das músicas contemporâneas; François Delalande, cujas
pesquisas o levaram à ideia de que é
P.10
necessário o desenvolvimento de condutas no indivíduo, enfocando sempre
como conteúdo musical os elementos da música contemporânea; Angélique
Fulin, focada principalmente no ensino na escola regular, tem o propósito da
prática constante da criação musical dentro dos princípios da música do século
XX; Claire Renard, que faz um estudo sobre o gesto musical na prática
pedagógico-musical, desenvolvendo uma série de dispositivos de jogos com a
finalidade da criação musical; Guy Reibel, cujo trabalho com um coro de adultos
lhe deu as bases para organizar um substancial conjunto de exercícios vocais e
gestuais para treinamento na prática coral, podendo ser utilizados como
complemento do ensino musical de modo geral; Murray Schafer, que propõe a
exploração do som de todas as maneiras, partindo da ideia da paisagem sonora
e estimulando a reflexão e a criação musical durante o processo de
aprendizagem (Zagonel, 1998).
Nesses anos em que venho desenvolvendo um trabalho voltado à
formação do professor de música, tenho observado que, nos cursos de
graduação, de extensão e mesmo de pós-graduação, uma grande
inquietação por parte dos professores e participantes em encontrar novas formas
de ensinar, e que estas consigam abranger também os conteúdos da música
contemporânea. No entanto, a maioria não sabe nem por onde começar, pois
sua formação se restringe ao conhecimento da sica tonal [Nota 2]. Com
frequência, durante congressos nacionais ou cursos que costumo ministrar em
diversas cidades do país, professores me procuram em busca de material
bibliográfico ou de sugestões práticas possíveis de serem trabalhadas em sala
de aula. Muitos expressam a vontade de desenvolver um ensino mais
aproximado da estética da música contemporânea, mas a falta de vivência os
impede de encontrar os meios pedagógicos adequados. O resultado é que,
infelizmente, sem material nas mãos sobre o qual se basear, esses professores
acabam, na maioria dos casos, abandonando seus projetos, e continuam a
ensinar dentro dos padrões tradicionais.
P.11
Em virtude disto é que surgiu o interesse em fazer esta publicação: pela
constatação da quase inexistência no Brasil de trabalhos pedagógicos voltados
à estética da música contemporânea e de propostas que estimulem a criação
musical, bem como de um ensino mais abrangente, atual e criativo.
Aqui são descritos e comentados alguns jogos baseados,
principalmente, na voz, no gesto corporal, no movimento e na criação.
Os jogos não formam uma sequência evolutiva a ser seguida com rigidez,
muito embora tenha-se pretendido organizar cada capítulo numa ordem
crescente de dificuldades. As sessões também não se sucedem de maneira
evolutiva, e sim, o apenas sugestões de maneiras diferentes de trabalhar com
a criação musical.
Qualquer jogo pode ser desenvolvido de maneira independente, sendo
que o mais importante reside no modo de sua aplicação. É preciso ter um
ambiente de descontração e abertura, evitando o tolhimento dos participantes e
caminhando para a desinibição e a expressão espontânea.
Os jogos aqui apresentados quase não necessitam de materiais para sua
prática além das próprias pessoas envolvidas, sendo utilizado em alguns
momentos recursos simples como papel e lápis, o que vai totalmente ao encontro
da realidade em que vivemos. Além disso, este é um trabalho voltado
inteiramente para o desenvolvimento do potencial criativo do ser humano.
Os professores de música podem utilizar estes jogos para iniciar seus
participantes na sica contemporânea, ou para servir como um estímulo à
criação musical sem preconceitos, partindo da expressão espontânea do
indivíduo.
os professores de pré-escola encontram nestes jogos um meio eficaz
de preparo das habilidades requeridas para a alfabetização, uma vez que se
usa o gesto corporal, a voz e os grafismos, buscando-se a relação natural
existente entre eles.
P.12
Quanto aos orientadores de recreação em grupo, estes podem usar os
jogos em suas atividades devido ao aspecto lúdico e divertido deles, que também
ajudam a desenvolver habilidades e comportamentos necessários à
convivência social.
Os musicoterapeutas podem focar seu trabalho na expressão
espontânea dos indivíduos provocada pela prática dos exercícios, ou nas
diferentes formas de comunicação que estes jogos musicais proporcionam. O
fato de usar constantemente o corpo como forma de expressão pode auxiliar as
abordagens terapêuticas não somente com crianças, mas também com adultos
que possuam diferentes tipos de dificuldades sicas, intelectuais ou mentais.
Assim, este livro é voltado para aqueles que desejam entrar no mundo
dos sons e da música de maneira criativa, usando a voz, o corpo e o
movimento como meios de expressão. Como dito, ele pode servir tanto aos
professores de música, quanto aos professores de arte-educação, da pré-escola,
aos alfabetizadores, e ainda é apropriado para atividades recreativas em grupo.
Pelo fato de focar as atividades na expressão corporal e vocal, algumas
experiências foram igualmente realizadas com intuito terapêutico, dentro de
técnicas da musicoterapia, obtendo-se resultados bastante satisfatórios.
Todos os exercícios aqui apresentados foram longamente vivenciados
tanto com crianças quanto com adultos, estes, em geral, professores de música,
mas igualmente com os docentes de arte-educação e mesmo os de outras áreas
cujo conhecimento de música é restrito. Sua prática se mostrou possível e eficaz
para todos, ressaltando-se a necessidade de dar ênfase diferente em
determinados pontos, conforme a faixa etária e a área de interesse e de
conhecimento dos participantes.
Neste livro também são apresentadas sugestões de músicas para ouvir
que fazem parte de obras do repertório contemporâneo, cuja função é a de
complementar
P.13
o trabalho de criação. Ao mesmo tempo em que estas peças ilustram a prática
feita pelos participantes, no sentido de lhes mostrar um exemplo, em música,
dos elementos desenvolvidos, elas auxiliam na familiarização com essa
linguagem e na ampliação dos seus conhecimentos. No entanto, caso não seja
possível ter acesso a elas, não se preocupe, pois a impossibilidade de ouvir as
músicas sugeridas não interfere na qualidade da realização dos jogos. Assim,
algumas sugestões de obras serão dadas no decorrer da exposição dos
exercícios, levando sempre em consideração o tipo de abordagem feita no
momento e aproximando ao máximo as duas atividades.
Da mesma forma, desde os primeiros jogos, sugerimos trabalhar com a
criação de diferentes modos de escrita, levando os participantes à organização
de partituras.
1
O Gesto
A Voz
A Criação
A Música
P.17
O gesto corporal pode ser um elemento importante para a emissão do
som. A partir dele é que se chega a fazer música, sempre considerando a
capacidade criativa e a espontaneidade da pessoa, incitando à invenção sonora
e gráfica por meio da expressão de seus gestos.
A criação musical deve ser o ponto central do processo de ensino-
aprendizagem ou de prática musical. Mais do que o aprendizado ou a execução
perfeita de exercícios e músicas, o importante é propiciar, por meio da
musicalização, modificações internas que levem ao crescimento do indivíduo.
Essa forma de abordar a prática da sica pode servir para a formação
do professor, mas, antes de tudo, ele tem de acreditar na metodologia com a
qual pretende trabalhar e impregnar-se de suas ideias, para, assim, ter
condições de atuar adequadamente. De nada adianta um grande conhecimento
teórico sobre métodos se o professor não se identifica com sua filosofia, não se
propõe a se transformar, a crescer e, especialmente, a respeitar e a amar seus
alunos e a viver a música dentro de si. O professor tem que se dedicar com
prazer às suas atividades, procurando manter boas relações com os
participantes e com a disciplina que ensina. Com entusiasmo, seguramente,
envolverá a todos e despertará o interesse deles pela sica, não tornando as
aulas cansativas e desinteressantes. Evidentemente, procura-se a
P.18
junção da habilidade de comunicação com o conhecimento teórico, o que pode
levar à formação de um profissional mais completo. A postura do professor
influi diretamente nos resultados do trabalho.
A voz é o instrumento musical nato do ser humano, mas nem sempre os
professores de música a utilizam em todo seu potencial. Ainda, hoje em dia, é
comum ouvirmos professores de música reclamando que não podem dar boas
aulas por não terem um piano à sua disposição. Essa concepção - do piano como
base para aulas de música - não tem razão de ser. Primeiramente, se
considerarmos as ideias propagadas desde os métodos ativos, é possível
desenvolver um ensino de música global, em grupo, considerando o indivíduo e
a música em seu todo, usando o próprio corpo como instrumento musical pelo
andar, bater ritmos com mãos, pernas e pés, cantar ou imitar vocalmente o que
quer que seja, ou ainda, usar objetos do cotidiano para fazer sons etc. Além do
mais, a realidade atual de nossas escolas pouco permite o uso do piano ou de
outros instrumentos de difícil aquisição. É necessário, portanto, ver na voz um
instrumento eficaz e cheio de possibilidades e recursos para a criação sonora.
Na prática de criação não certo ou errado, mas a observação
analítica do próprio trabalho e dos colegas para uma crítica em direção ao
crescimento.
Em muitas formas de ensino de sica, a criação é uma etapa que
tem lugar quando acontece no final do processo, ou seja, quando o aluno segue
o caminho da composição. Porém, nas concepções atuais de educação musical,
a liberdade de criação é um procedimento a ser desenvolvido em todos os
estágios, da iniciação ao aprimoramento.
Criar música é inventar música, pura e simplesmente. Ao falar em
criação musical, estamos nos referindo a todo e qualquer procedimento em que
se inventam músicas, seja por meio da improvisação, espontânea e livre, feita
na hora, seja a partir da organização prévia das ideias musicais.
O termo composição normalmente sugere a utilização de um sistema
composicional determinado e prevê uma elaboração e organização das ideias
musicais antes que a música propriamente dita aconteça. A composição precede
a interpretação musical.
Já a improvisação acontece quando criamos ou modificamos uma música
enquanto ela está acontecendo, ou seja, de modo espontâneo, durante a
interpretação musical.
Alguns dos jogos aqui apresentados trabalham com a criação simples,
sem bloqueios, sem regras rígidas, e, muitas vezes, de forma improvisada.
Outros propõem uma construção elaborada e refletida de peças musicais, que
serão posteriormente interpretadas a partir da leitura da sua partitura. A intenção,
em todos os casos, é estimular alunos e professores a fazer música sempre.
Participantes diferentes, resultados variados
Os participantes com suas características pessoais, modificam os jogos,
dando ênfase a determinados aspectos conforme suas habilidades e formação.
Aqueles cuja formação básica é no domínio da dança ou do teatro, por exemplo,
privilegiam o aspecto gestual. Para eles, essa expressão se revelará
provavelmente mais forte que a sica, muito embora sempre seja possível
integrar as duas.
Aqueles em que o conhecimento de artes é superficial, ou seja, que não
têm familiarização com as linguagens artísticas, tendem a demonstrar uma
expressividade mais fraca nas composições mais elaboradas, preocupando-se
pouco com as nuanças de intensidade, construção da forma ou justaposição de
sons.
P.20
Por outro lado, os grupos familiarizados com a música, mesmo se
desconhecerem os códigos musicais contemporâneos, têm chances de
desenvolver trabalhos mais equilibrados, buscando estruturar a forma,
preocupando-se com timbres, texturas, nuanças de intensidade, duração etc.
Essas possíveis variações de resultado observadas durante a prática
desses exercícios não devem interferir negativamente no uso da metodologia.
Ao contrário, professores e participantes podem aproveitar estas circunstâncias
para comparar e analisar os resultados, com vistas sempre ao maior
aproveitamento e crescimento de todos.
Enquanto que, com as crianças, permanece-se no estágio da
sensibilização e da criação, com os adultos recomenda-se uma
complementação de informações com embasamento teórico que também os
prepare para o trabalho com outros alunos. Sugerimos aprofundar os estudos
sobre a sica contemporânea, os elementos que a compõem e os aspectos de
mudança provocados por ela, levando-os não a uma familiarização, mas,
sobretudo, a uma reflexão sobre o assunto. Assim, propomos que, sempre que
possível, e se for do interesse dos estudantes e dos professores envolvidos, seja
feito um estudo mais detalhado das obras de repertório ouvidas, em busca de
uma apreciação analítica. Da mesma forma, é essencial que sejam abordadas
as questões metodológicas, com discussões sobre as diversas propostas
pedagógicas, visando uma educação musical atualizada e adequada para os
dias de hoje.
1.1 O gesto e a escrita
A liberdade de expressão gestual que se espera alcançar vale igualmente
para a criação de grafismos. Em cada etapa ou em cada jogo é possível trabalhar
também a notação, inventada pelos participantes, a partir da percepção atenta
dos diferentes
P.21
tipos de sons emitidos. A passagem do gesto para a grafia pode se dar de modo
bastante natural, simples e fácil, tendo em vista que o próprio gesto desenha
linhas no espaço.
É claro que características e sinais convencionais e aceitos por todos
que fazem parte do “alfabeto” usado pelos compositores contemporâneos (como
a representação de altura no sentido vertical ou a da duração no horizontal).
No entanto, é preciso estar atento às propostas que emergirem dos
participantes. O fundamental não é que a representação gráfica seja correta,
exata ou bonita. O que vale é a expressão do participante, o desenvolvimento
da percepção e o aprimoramento da acuidade auditiva. De qualquer forma, é
importante desenvolver, desde o início, o hábito da escrita musical, seja dentro
dos códigos tradicionais, com notas na pauta, seja inventando novas grafias que
permitam a reprodução dos sons e a interpretação da música sempre que
desejado.
1.1.1 A escrita musical e os grafismos
A história mostra que o ser humano sempre sentiu necessidade de
documentar e, de alguma forma, eternizar suas criações artísticas para que elas
pudessem ser reproduzidas e apreciadas por muitos em qualquer tempo. Assim,
ao longo dos anos, foi-se desenvolvendo uma maneira apropriada de se escrever
música. “A grafia musical, no Ocidente, estabeleceu-se como um sistema de
notação claro e preciso durante a Idade Média.” (Zagonel, 1992a, p. 145). Os
primeiros sinais escritos buscavam orientar o intérprete quanto ao movimento
sonoro e à duração das notas, mas de maneira ainda muito relativa. Aos poucos,
foram sendo encontrados sinais que pudessem dar uma noção cada vez mais
detalhada e precisa da escrita das notas, até se chegar à definição da pauta de
cinco linhas sobre a qual são colocadas as notas de alturas e ritmos diferentes,
sistema usado até hoje.
P.22
No entanto, com a inclusão do ruído na música, em meados do século XX,
e a possibilidade de fazê-la com qualquer tipo de som, a escrita tradicional
começou a se mostrar insuficiente. Assim, os compositores passaram a sentir a
necessidade de ampliar as formas de escrita, pois se mais sons disponíveis
com os quais se pode fazer música, é preciso aumentar igualmente o número de
sinais para escrevê-los.
Em virtude da grande diversidade de sons utilizados na música
atualmente, o compositor se obrigado a inventar signos gráficos para
representá-los. Toda liberdade é permitida para expressar uma ideia musical,
sendo que suas características e aperfeiçoamentos dependem das
necessidades expressivas do compositor e também dos materiais que ele dispõe
para concretizar sua escrita, assim como das técnicas de imprensa que irão
difundir a obra (Pergamo, 1973, p. 9).
Até meados deste século, a escrita se desenvolveu de maneira a se tornar
independente do som, mas hoje, em muitos casos, ela como que “desenha” o
som no espaço, ou seja, no papel, dentro de uma medida temporal definida, em
geral, pelos centímetros. Stockhausen (1973) expressa muito bem a diferença
entre esses dois tipos de notação, apontando que a escrita tradicional não tem
um senso gráfico em si, de modo que o músico a compreende imediatamente
como simbolismo espacial de um desenvolvimento temporal. a
característica temporal de uma partitura não é compreendida pelo diletante que
não sabe ler notas. Porém, quando o desenvolvimento temporal da música entra
na imagem, as relações temporais se transformam em relações espaciais.
Assim, tem-se uma escrita que não está afastada do som que ela
representa, e sim, que reproduz ou concretiza, pelo desenho, a experiência
sonora. Essa notação, frequentemente chamada de grafismo, pode ser a
imagem de um gesto musical desenhado no papel ou a fixação de um movimento
sonoro pelo meio gráfico visual.
P.23
Segundo Stoïanowa (1973), o grafismo exterioriza o movimento do
pensamento em figura-gesto perceptível pelo olho; é como uma escrita gestual.
Uma vez transportado para o papel, um gesto feito no ar se
transforma em grafismo.
Esse tipo de notação gráfica desenvolvido pelos sicos atuais, no qual
a imagem do som está intimamente ligada a este som produzido e no qual os
códigos o fixados “no tempo”, tendo os centímetros como representação
temporal, abre portas para um rico trabalho de pesquisa, de descoberta e de
análise dos sons, e torna-se um meio eficaz de abordagem da escrita com o
iniciante.
A partir do instante em que o aluno sente a necessidade de fixar
graficamente suas ideias musicais ou sons diversos, é importante dar-lhe a
oportunidade de inventar seus próprios digos. Assim, ele também
compreende a relação existente entre um movimento sonoro e sua
representação escrita. E, para que se chegue a essa representação gráfica, é
necessário desenvolver uma escuta atenta e cuidadosa. A organização desses
desenhos gráficos permite que se desenvolva a noção de partitura, colocando
em prática as normas adotadas.
Conforme argumentam Agosti-Gherban e Rapp-Hess (1986), o trabalho
gráfico não é importante somente do ponto de vista musical, mas igualmente
como preparo para o aprendizado da escrita, e não somente no que concerne a
representação, mas também para desenvolver o desejo de comunicação e de
compreensão, o que é fundamental para a escrita. Além do lado criativo, ele
desenvolve a faculdade de análise das crianças.
P.24
1.1.2 A organização de partituras
A partitura é, para a música, o que o livro é para a literatura. Ou seja,
com o uso dos sinais de escrita dos sons, sejam eles contemporâneos, feitos
com desenhos e grafismos, ou tradicionais, feitos com as notas colocadas na
pauta de cinco linhas, o compositor organiza suas ideias no papel. Esse texto
musical grafado, estruturado e repleto de indicações, dará as coordenadas para
o intérprete tocar uma música da maneira mais próxima possível daquilo que foi
idealizado pelo compositor. A partitura é a música escrita.
Uma partitura, normalmente, segue os mesmos princípios do texto
ocidental, que começa a ser escrito da esquerda para a direita, fluindo de cima
para baixo. No entanto, na contemporaneidade, outras formas de seguir a escrita
são permitidas, como em círculo ou mesmo com os sinais distribuídos
aleatoriamente.
No processo de aprendizagem musical, é extremamente importante que
o aluno se familiarize com as diferentes maneiras de se escrever e organizar as
músicas, e que ele mesmo se habitue a grafar suas ideias musicais em forma de
partitura.
2
JOGOS MUSICAIS:
gesto e voz
P.27
Esta primeira série de jogos propõe a prática da exploração e da
manipulação sonora e busca familiarizar os alunos com o mundo dos sons e da
música. Serão enfatizadas algumas qualidades do som, como, por exemplo,
altura e intensidade. Ao final dessa etapa, espera-se que os alunos consigam
criar sequências musicais completas, ou seja, criar músicas, tendo como
gerador ou impulsionador do som o movimento corporal e, como ferramenta, a
emissão vocal. Os participantes aos poucos se soltam e se apropriam dessa
forma de expressão, preparando-se para a composição final.
A série é iniciada com uma improvisação espontânea por intermédio da
brincadeira da Bola sonora. Após, é trabalhada a improvisação em pequenas
estruturas com a brincadeira do Dominó e, depois, em estruturas um pouco
maiores por meio do Som que vem do gesto e do Acumulativo. Em seguida, o
aluno passa pela experiência de uma releitura, com vistas à organização, no
chamado Refazendo músicas, e chega à elaboração de uma peça pensada em
seu todo, sempre a partir do movimento corporal, com a Música da dança.
Em cada momento é abordada a escrita dos sons, na qual se transporta
o movimento dos gestos para o papel. Ao final da série, é possível construir
uma música e uma partitura completa.
É interessante notar, porém, que não trabalharemos com a música feita
somente com notas, mas com uma música que pode utilizar todo tipo de sons e
ruídos.
Jogo 1
Bola sonora
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados, principalmente por meio da improvisação, os
seguintes elementos ligados à exploração sonora:
- Altura dos sons: execução e percepção do movimento sonoro do grave
para o agudo e vice-versa.
- Intensidade: execução e percepção de diferentes nuances de forte e
fraco do som.
- Timbre: características vocais ou instrumentais, que possibilitam a
identificação da origem do som.
- Duração do som: enfocando, principalmente, contrastes entre sons
longos e curtos.
- Noção de frase musical.
- Escrita dos sons com grafismos.
- Organização de partituras.
- Relação entre gesto e som.
Este primeiro exercício, juntamente com os três que o seguem,
trabalha basicamente com os mesmos conteúdos musicais, mas de forma
progressiva.
Objetivos
- Iniciar uma atividade de improvisação. Este jogo pode ser um primeiro
contato com a expressão vocal e gestual espontâneas.
- Desinibir os participantes, soltar a imaginação e levá-los a inventar
gestos e sons de maneira natural, como uma brincadeira.
- Iniciar, desde que executada a variação sugerida para este jogo (que
propõe a escrita) uma primeira relação entre a expressão sonora e as
possibilidades de representação gráfica a partir do gesto. O fato de escrever a
trajetória da bola no papel concretiza e auxilia a percepção da altura do som,
mesmo que de maneira ainda inconsciente. Essa escrita é, na verdade, a
transposição do gesto grande, feito no ar, para o papel, em tamanho menor e
com maior controle motor.
- Auxiliar a alfabetização de crianças, preparando-as.
- Levar os participantes a perceber e a realizar variações de altura, de
intensidade, timbre e de sons longos e curtos, mas de maneira espontânea, não
direcionada.
Disposição dos participantes: em pé, formando um círculo
Descrição do jogo
Um participante inicia o jogo fazendo de conta que está segurando uma
bola em suas mãos. Ele deve arremessá-la a um colega do círculo, adicionando
um som vocal ao movimento de arremesso para melhor indicar o tipo de caminho
feito pelo objeto imaginário (semelhante ao que fazem as crianças ao brincar de
carrinhos ou aviões em movimento). Este pega a bola imaginária e, por sua vez,
a joga a outro, fazendo um som diferente do anterior, sempre com a intenção de,
pelo som e pelo gesto, dar a ideia do caminho percorrido por essa bola. É bom
que, durante o decorrer do jogo, a bola imaginária mude de tamanho, de peso,
pule, role pelo chão, escape para fora do círculo etc., tudo isso mostrado pela
mudança dos gestos e dos sons emitidos.
Variações
- Dissociação: um participante faz a trajetória da bola com gestos e outro
a sonoriza.
- Grafismo: cada participante inventa e desenha em um papel (o desenho
pode ser feito de modo individual ou em grupo) por meio de linhas, a trajetória
feita por qualquer uma das bolas enviadas durante o jogo, para que o colega, ou
o grupo, leia e sonorize.
P.29
Observação
A bola não precisa ser enviada de um participante para outro na sequência
do círculo, mas é importante que se mantenha a continuidade no envio. O
participante com a bola na mão apenas olha para o colega a quem ele a enviará,
sem precisar falar, o que requer a atenção de todos sobre o que detém a bola
nas mãos.
Em geral, este é um jogo bastante apreciado e divertido e a tendência é
que a imagem e a alusão à bola retornem às aulas subsequentes. Ele serve
também como aquecimento e introdução ao que será desenvolvido na sequência
dessa proposta.
P.30
Jogo 2
Dominó
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados, principalmente por meio da improvisação, os
seguintes elementos ligados à exploração sonora:
- Altura dos sons: execução e percepção do movimento sonoro do grave
para o agudo e vice-versa.
- Intensidade: execução e percepção de diferentes nuances de forte e
fraco do som.
- Timbre: características vocais ou instrumentais.
- Duração do som: enfocando, principalmente, contrastes entre sons
longos e curtos.
- Noção de frase musical.
- Escrita dos sons com grafismos.
- Organização de partituras.
- Relação entre gesto e som.
Objetivos
- Desenvolver a memória auditiva e gestual pela repetição de propostas
feitas pelos colegas.
- Introduzir a noção de frase musical [Nota 3] e ligação de uma ideia
existente a outra nova.
- Estimular a improvisação.
- Observar diferentes tipos de expressão vocal.
Disposição dos participantes: pares em pé, formando um círculo.
Descrição do jogo
O primeiro participante faz um gesto no ar com os braços ou o corpo todo
e emite um som vocal para acompanhá-lo. O colega à sua direita repete o mesmo
gesto com som e adiciona mais um inventado por ele, formando uma pequena
sequência de dois gestos sonoros. Em seguida, o terceiro repete somente o
gesto sonoro feito pelo vizinho anterior e inventa mais um. O quarto participante
repete apenas o gesto sonoro do que o antecedeu e adiciona mais um, e assim
por diante.
Variações
- Repetir o mesmo jogo somente com gestos, sem som, mas imaginando
que tipo de som o movimento poderia sugerir.
- Grafismo: cada participante pode inventar e desenhar no papel, usando
linhas, a sequência de gesto-som feita por sua dupla, para então comparar com
a de seus colegas.
Observação
O som que acompanha o gesto deve estar intimamente ligado a ele. É
preciso compreender as qualidades dinâmicas do gesto e relacioná-las com o
som. Um gesto liso e contínuo do braço no espaço não dará um som
interrompido. Se, por exemplo, o gesto for o de um braço deslizando no espaço
de baixo para cima, espera-se que o som vocal seja contínuo indo do mais grave
para o mais agudo. Se o gesto for de vários dedos se mexendo rapidamente no
espaço, o som poderá ser descontinuo como o de várias gotas de água. No
entanto, é importante que o próprio aluno descubra a sua maneira de se
expressar, gestual e sonoramente, mesmo que sua expressão não seja aquela
imaginada pelo professor. O mais importante não é a representação exata de um
som ou de um gesto, mas a sua expressão espontânea e a descoberta das
relações que podem existir entre um e outro. O jogo do Dominó é uma
preparação para O som que vem do gesto.
Figura 1 - Representação gráfica feita por aluno [Nota 4] referente ao jogo
Dominó
Nota: A primeira parte do desenho refere-se ao gesto feito pelo primeiro
participante da dupla e a segunda, separada por pequeno espaço em branco,
refere-se ao gesto feito pela segunda pessoa. Juntos, eles formam uma ideia só.
P.32
Jogo 3
O som que vem do gesto
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados, principalmente por meio da improvisação, os
seguintes elementos ligados à exploração sonora:
- Altura dos sons: execução e percepção do movimento sonoro do grave
para o agudo e vice-versa.
- Intensidade: execução e percepção de diferentes nuances de forte e
fraco do som.
- Timbre: características vocais ou instrumentais.
- Duração do som: enfocando, principalmente, contrastes entre sons
longos e curtos.
- Noção de frase musical.
- Escrita dos sons com grafismos.
- Organização de partituras.
- Relação entre gesto e som.
Objetivos
- Estimular a imaginação sonora.
- Iniciar a dissociação entre gesto e som, para torná-los independentes.
- Intensificar a compreensão da relação entre som e escrita.
Disposição dos participantes: em pé, formando um círculo.
Descrição do Jogo
Um participante faz um gesto com os braços ou com o corpo todo, sem
som, e o seguinte, à sua direita, repete o mesmo gesto, associando a ele um
som vocal que inventou para essa gesticulação. Segue-se um em seguida do
outro até completar o círculo, como no jogo Dominó.
Variações
- O primeiro aluno do círculo faz um gesto, o seguinte desenha a
gesticulação no papel e o terceiro a lê vocalmente.
- O primeiro aluno do círculo faz um som e o seguinte inventa um gesto
para ele (somente o gesto, sem som).
P.33
Observação
É importante que os participantes imaginem o som que poderia ser emitido
a partir dos gestos ao mesmo tempo em que estes são feitos. Isso desenvolve a
imaginação e os deixa atentos ao processo. Ao final, ao comparar o tipo de som
que cada um imaginou, o jogo torna-se bastante enriquecedor. É possível
perceber que o gesto se traduz em uma mesma forma dinâmica de som na
imaginação de todos, mas que, por outro lado, o timbre provoca resultados
diversos.
Com relação à segunda variação, é interessante observar como som e
gesto estão tão intimamente ligados que, muitas vezes, as pessoas m
dificuldades em dissociar um do outro, e acabam produzindo gestos enquanto
emitem os sons.
Figura 2 - Representação gráfica, feita por aluno, referente ao jogo O
som que vem do gesto
P.34
Jogo 4
Acumulativo
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados, principalmente por meio da improvisação, os
seguintes elementos ligados à exploração sonora:
- Altura dos sons: execução e percepção do movimento sonoro do grave
para o agudo e vice-versa. Intensidade: execução e percepção de diferentes
nuances de forte e fraco do som.
- Timbre: características vocais ou instrumentais.
- Duração do som: enfocando, principalmente, contrastes entre sons
longos e curtos.
- Noção de frase musical.
- Escrita dos sons com grafismos.
- Organização de partituras.
- Relação entre gesto e som.
Objetivos
- Iniciar a prática de sequências mais longas de expressão sonora e
gestual.
- Trabalhar a noção de continuidade. Desenvolver a memoria auditiva e
visual.
- Estimular a improvisação e a criação espontânea.
- Observar a dinâmica do som.
Disposição dos participantes: em pé, formando um círculo.
Descrição do jogo
O primeiro participante faz um gesto curto acompanhado de um som vocal
- da mesma maneira que no jogo Dominó - e todos o repetem. O aluno seguinte,
à direita, refaz o mesmo movimento e som e adiciona outro inventado por ele.
Todos repetem os dois gestos e sons na sequência, como se fossem um só. O
terceiro repete os dois anteriores e adiciona o gesto e som dele. Todos repetem
a sequência, e assim por diante. A repetição por todos antes que se acrescente
mais um gesto ajuda a memorização e evita a interrupção da sequência.
Variações
- Refazer o mesmo tipo de sequência, mas agora sem som, apenas com
os gestos.
- Ao final do jogo Acumulativo com som, cada participante pode
transportar a sequência toda para a escrita com grafismos e comparar os
diferentes resultados com os companheiros. É possível também escrever a
sequência em conjunto, no quadro de giz, e fazer uma leitura vocal geral.
P.35
Observação
Quando houver um número muito grande de participantes, que
impossibilite memorizar a ordem dos sons que o sendo criados até o fim, é
possível reiniciar uma nova sequência várias vezes.
Figura 3 - Representação gráfica, feita por um aluno, referente ao
resultado de uma sequência realizada por seis participantes do jogo Acumulativo
Nota: Cada parte da sequência de gestos que originou este desenho foi
executada por um participante diferente, mas escrita por um aluno. Assim, o
primeiro fez um gesto simples de baixo para cima, o segundo, um gesto em
espiral para baixo, o seguinte fez algumas linhas retas com pequenos intervalos,
o conseguinte, um gesto semelhante ao que reproduz duas montanhas, o
penúltimo aluno fez um movimento ascendente tortuoso e, para dar a ideia de
término, foi feito um gesto significando um ponto.
P.36
Jogo 5
Refazendo músicas
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos ligados à organização musical:
- Estrutura musical.
- Partitura.
- Interpretação musical.
Os jogos 5 e 6 iniciam o aluno na organização e na estruturação
musical a partir da releitura de peças existentes. Assim, um deles propõe
recriar uma música a partir de outras movimento.
Objetivos
- Proceder à criação de urna peça musical completa, de maneira refletida
e não mais de modo improvisado, tendo como base outra ouvida anteriormente.
- Elaborar uma partitura para execução da peça.
- Descobrir as relações existentes entre a peça reelaborada e a que deu
origem a ela (elementos estruturais, timbres, pontos de conexão).
Disposição dos participantes: em grupos de aproximadamente cinco
pessoas [Nota 5], dispostas livremente.
Recursos necessários: cartolina ou folha de papel e lápis.
Descrição do jogo
Os participantes devem ouvir quatro peças selecionadas, uma em seguida
da outra. Durante a audição de cada música o aluno escreve uma partitura do
que ouve, anotando principalmente a sua estrutura, sem atentar muito para os
detalhes. Terminada a escuta, todos se dividem em grupos e cada um escolhe
uma das peças ouvidas. A partir das partituras feitas individualmente, cada grupo
deve remontar outra e sonorizá-la, criando uma nova versão da peça ouvida.
Após isso, cada grupo deve apresentar sua criação aos outros, para que tentem
descobrir qual é a peça de origem.
Observação
Trata-se de uma etapa mais avançada em relação ao exercício anterior,
na qual os participantes farão a organização da sua criação musical. É uma
elaboração completa que, no entanto, ainda não parte do nada, mas tem um
estímulo inicial de apoio.
Sugestão de repertório para a realização deste jogo
Seguem ao lado algumas sugestões de músicas, com caráter e estilo
bastante distintos entre si. No entanto, é importante ressaltar que qualquer tipo
de repertório pode ser trabalhado, ou seja, o professor ou o orientador podem
escolher outras obras musicais que estejam à sua disposição e que atendam aos
objetivos propostos.
Músicas sugeridas
Tabula rasa [Nota 6], de Arvo Pärt. Utilizar da parte inicial até
aproximadamente três minutos.
Trois rêves d’oiseaux [Nota 7], de François Bayle. Executar uma parte
inicial de aproximadamente três minutos.
Deep night (Ye Shen Chen) [Nota 8], (música tradicional chinesa), de
Zhang Suying. Executar aproximadamente dois minutos.
Action-Situation-Signification, de Magnus Lindberg. Executar a música
Fire [Nota 9].
Figura 4 - Partitura criada por equipe de alunos com base na audição de
Tabula rasa
P.38
Jogo 6
A música da dança
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos ligados à organização e à
escrita:
- Escrita musical com grafismos.
- Partitura musical.
- Interpretação musical.
Objetivos
- Trabalhar na elaboração de sequência organizada, com início, meio e
fim. Agora, não se trata mais da expressão espontânea de uma ideia musical,
mas sim, de uma expressão elaborada, que parte do visual (gesto) e chega ao
musical.
- Desenvolver a noção de organização e de elaboração de uma partitura
musical, sendo a anotação dos gestos feita de maneira improvisada.
- Praticar o processo inverso, ou seja, criar uma música a partir da
partitura.
- Instigar o hábito de inventar códigos para grafar sons, provocando a
familiarização com a notação. Provocar a descontração e a desenvoltura para
usar o próprio corpo de maneira expressiva.
Disposição dos participantes: divididos em grupos com o mesmo
número de pessoas, sendo aproximadamente cinco [Nota 10], dispostos
livremente.
Recursos necessários: cartolina ou folha de papel e lápis.
Descrição do jogo
Este exercício dispõe de três fases diferentes:
1ª fase - Elaboração da sequência de gestos e apresentação: cada grupo
elabora uma sequência de gestos, semelhante ao que já foi feito no jogo
Acumulativo, mas, dessa vez, de maneira estruturada, para ser apresentada
aos outros. Enquanto um grupo se apresenta, cada participante vai tomando
nota, em forma de partitura gráfica, dos gestos executados.
2ª fase - Sonorização dos gestos e apresentação: uma vez concluídas as
apresentações, os grupos voltam a se reunir para escolher, a partir das
anotações feitas, qual das partituras irão sonorizar. Ou seja, o que anteriormente
foi apresentado somente com gestos, agora, será reapresentado, por outro
grupo, somente com sons. Novamente cada grupo apresenta sua sequência
sonora, para que os outros identifiquem a que coreografia corresponde.
3ª fase - Integração gesto/som: para concluir, cada grupo de origem (que
elaborou a peça gestual) apresenta-se novamente, desta vez acompanhado dos
sons do segundo grupo, integrando, assim, a sica aos gestos.
P.39
Observação
É importante ressaltar que os gestos devem ser realizados de forma
semelhante ao de uma coreografia de dança e não representar uma história ou
uma situação, como o ato de escovar os dentes ou dirigir uma motocicleta, por
exemplo. Trata-se de um exercício bastante completo, exigindo do participante
diversas habilidades, que devem ter sido adquiridas no decorrer das práticas
descritas anteriormente, pois este jogo começa a trabalhar com o todo, ou seja,
com uma ideia musical inteira.
3
JOGOS MUSICAIS:
sopa de letrinhas
P.43
Neste grupo de jogos são usados sons de letras e palavras como base
para a criação musical, enfocando a exploração de suas possíveis sonoridades
e relações rítmicas.
Os jogos são totalmente independentes e não formam uma sequência
progressiva, com exceção do primeiro deles, Caretas, que tem o intuito de
preparar os participantes, estimulando-os a buscar novos sons vocais que
poderão servir de material para as composições musicais a serem desenvolvidas
posteriormente.
As partituras, sempre presentes, podem ser construídas tanto com
desenhos quanto com letras, buscando-se a melhor representação possível dos
sons pretendidos.
As músicas sugeridas para audição complementam o trabalho, tendo em
vista que elas usam princípios semelhantes aos aqui expostos. No entanto, vale
ressaltar que o fato de não ouvi-las de modo algum inviabiliza ou diminui o
trabalho prático.
P.44
Jogo 7
Caretas
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos ligados à exploração
sonora:
- Timbre.
- Tipos de emissão vocal: cantar, falar, entoar, cantar falando
(sprechgesang), sussurrar, gritar, chorar, rir etc.
- Intensidade (forte e fraco).
Objetivos
- Instigar a pesquisa sonora, partindo do corpo, no caso, a face.
- Repertoriar diferentes tipos de emissão vocal.
- Reafirmar o trabalho de organização sonora, com intuito de se chegar à
criação musical.
- Inventar uma grafia apropriada e organizar as ideias em forma de
partitura, preparando sempre o participante para a composição musical.
- Desinibir o indivíduo para o fazer musical.
Disposição dos participantes: sentados em círculo.
Descrição do jogo
Com as mãos tapando as orelhas de maneira a provocar ressonância e
percepção diferente e mais intensa dos sons emitidos vocalmente, fazer caretas
para emitir sons, à procura de sonoridades diferentes. Todos devem fazer a
atividade ao mesmo tempo, mas de forma independente, cada qual prestando
atenção no som produzido por si próprio. Terminada a pesquisa, cada
participante escolhe o som que achou mais interessante para mostrar aos outros.
P.45
Variação
Escolher alguns dos sons encontrados e elaborar uma sequência, em
grupo, colocando nuanças de intensidade. Também é possível criar sinais
gráficos para representá-los e, então, organizar uma partitura.
Observação
Partir da careta para encontrar diferentes sons vocais estimula o
participante a pesquisar e a descobrir novas sonoridades de maneira
descontraída e engraçada. Em geral, todos se divertem muito ao fazê-lo.
Jogo 8
Música das Palavras Desfeitas
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos ligados à composição
musical e à construção de partituras:
- Timbres.
- Composição musical.
- Escrita de sons.
- Organização de partituras.
- Tipos de emissão vocal: cantar, falar, entoar, cantar falando
(sprechgesang), sussurrar, grilar, chorar, rir etc.
Objetivos
- Aprofundar a prática da criação musical e de partituras, nesse caso, a
partir da palavra.
- Fazer variações sonoras com base em uma palavra.
- A partir dos sons das palavras, dos fonemas e das letras, abordar
noções como: fragmentação, repetição, sobreposição, supressão, alargamento
etc.
- Reconstruir fonemas, inventar palavras e sílabas.
- Descobrir diversos tipos de emissão vocal: cantar, falar, entoar, cantar
falando (spreschgesang), sussurrar, gritar, chorar, rir etc.
Disposição dos participantes: grupos de quatro pessoas, dispostas
livremente.
Recursos necessários: cartolina ou folha de papel e lápis.
Descrição do jogo
Cada grupo escolhe uma palavra qualquer. Ela será o único elemento
para conceber uma composição, a ser feita a partir de sua transformação. Ela
pode ser cortada, desintegrada, repetida por partes, por vogais ou consoantes
etc., pensando-se, antes de tudo, na sonoridade que emerge das modificações.
Cada integrante pensa em uma maneira de trabalhar a palavra musicalmente e
em como escrevê-la. Em seguida, utilizando uma cartolina, cada elemento do
grupo deve se posicionar em um dos quatro lados e, a partir de seu local,
escrever as ideias que desenvolveu a partir da palavra. Chega-se ao resultado
de uma partitura não convencional que será trabalhada de forma a se
transformar em uma composição única, interpretada na ordem e da maneira que
for decidida por todos, colocando-se nela também os sinais de dinâmica
necessários à composição. Depois de ensaiar, os grupos apresentam cada qual
sua música aos outros, que tentarão descobrir a palavra escolhida.
Observação
A sugestão de se fazer uma partitura escrita a partir dos 4 cantos do papel
é no sentido de levar os participantes a mudar sua perspectiva de escrita
musical, tendo em vista as inúmeras possibilidades oferecidas pela música na
atualidade. Dessa forma, a leitura pode ser feita a partir de diversos lugares
diferentes, o que ocasionará um resultado sonoro igualmente diverso. Trata-se
de uma mudança de paradigmas, mas nada impede que se escreva uma
partitura linear, em que a leitura se faça da esquerda para a direita e de cima
para baixo.
P.47
Figura 5 - Partitura feita por grupo de alunos com a palavra apocalipse
Música para ouvir
- Nouvelles aventures [Nota 11], de Ligeti.
Pode-se ouvir apenas uma parte de Nouvelles aventures - para três
cantores e sete instrumentos - tendo em vista que a obra toda leva mais de 11
minutos.
Sobre a obra musical
Esta peça de György Ligeti (1923-2006) é bastante expressiva e
emocional. Contém um texto escrito numa língua que não existe, inventada pelo
compositor. A instrumentação não tem a função de acompanhar o canto, ao
contrário, vozes e instrumentos se intercalam e se complementam. Conforme
explicações dadas pelo próprio Ligeti no encarte do CD, o aspecto puramente
musical ocorre tanto pela emoção intensificada quanto pelos gestos e pela
mímica que dela resultam, do qual é possível construir mentalmente uma ação
cênica imaginária não definida quanto ao seu conteúdo, mas sim,
emocionalmente (Ligeti, 1985, tradução nossa).
Ao ouvi-la, tem-se a real impressão de que existe o desenrolar de uma
cena, em que diálogos se fazem, situações acontecem, emoções são reveladas.
Relação do repertório sugerido com os jogos
O trabalho realizado com os jogos precedentes foi muito focado na
expressão vocal e corporal dos participantes. Não houve preocupação com
significados semânticos nem intenção de transmitir ideias com palavras, mas
apenas a emissão sonora como um meio de expressão e um preparo para a
composição musical. Os gestos, usados como propulsores de som, são parte
intrínseca do todo sonoro e, de alguma forma, conferem um caráter nico ao
jogo.
Percebe-se, então, uma relação entre as práticas desenvolvidas e a obra
musical de Ligeti. Sua audição vem ilustrar o trabalho desenvolvido e enriquecer
o repertório dos participantes. Ao mesmo tempo, ela serve para dar sentido a um
trabalho que, à primeira vista, e para alguns, tem características mais de
brincadeira do que de realização musical.
Se o orientador das atividades não tiver acesso ao repertório aqui
sugerido, é sempre importante que ele atente para as relações existentes entre
a prática criativa e a obra musical a ser escolhida, observando detalhes de sua
construção e dos materiais sonoros utilizados para melhor conduzir os
participantes em direção à composição musical.
P.48
Jogo 9
Linhas, ponte e letras
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos ligados à composição
musical e à construção de partitura:
- Contrastes de sons curtos e sons longos (caráter rítmico).
- Contrastes de sons contínuos e descontínuos (som/silêncio).
- Grafia de sons.
- Organização de partitura.
Objetivos
- Trabalhar com os contrastes de sons curtos e longos e de sons contínuos
e descontínuos.
- Sobrepor elementos com caráter rítmico vindos da emissão das
consoantes aos elementos melódicos vindos da emissão das vogais.
- Estabelecer convenções para grafar os tipos de sons abordados.
Disposição dos participantes: andando livremente pela sala.
Recursos necessários: cartolina ou folha de papel e lápis.
Descrição do Jogo
Toma-se uma nota de base para ser entoada por todos ao mesmo tempo,
sobre uma vogal escolhida, como se fosse um coral. Cada um escolhe,
aleatoriamente, duas consoantes de som curto, como, por exemplo, t e p, com
as quais improvisa em cima da base entoada sobre a vogal, cada qual no seu
tempo, enquanto anda livremente pela sala, deslocando, assim, o som pelo
espaço. O resultado sonoro deve ser o de várias vozes cantando uma massa
sonora de sons melódicos contínuos (exemplo: /АААААА/) interrompidos
esporadicamente por sons curtos (exemplo: /pppp/ptptpt/ttt/). Em seguida, cada
participante desenha no papel um lapso de tempo do resultado sonoro da
atividade do grupo e todos discutem e analisam os diferentes grafismos.
P.49
Observação
O uso de vogais e de consoantes auxilia na distinção entre os sons longos,
connuos, e os sons curtos, descontínuos. É importante que, enquanto um
participante estiver improvisando sua música, cada um ouça o que está
emergindo do grupo, para que se possa interferir nele com maior consciência.
Figura 6 - Partitura: tramas e letras
Jogo 10
Música das Letras
Atividades e conteúdos musicais
Composição musical e construção de partitura:
- Contrastes de sons curtos e sons longos (caráter rítmico).
- Contrastes de sons contínuos e descontínuos (som/silêncio).
- Texturas sonoras (linhas e tramas sonoras).
- Grafia de sons.
- Organização de partitura.
Objetivos
- Organizar criativamente eventos sonoros (sons longos e curtos a partir
de consoantes e vogais) em uma sequência musical.
- Organizar uma partitura da música inventada.
- Manusear os contrastes de: som longo e curto, linha e trama sonora
[Nota 12], forte e fraco.
Disposição dos participantes: em grupos dispostos livremente.
Recursos necessários: cartolina ou folha de papel e lápis.
Descrição do jogo
Cada grupo escolhe duas letras: uma apropriada para fazer sons longos
(como a, m, s, por exemplo), outra para sons curtos (como t, p, b, por exemplo).
Os sons longos devem ser contínuos, sem interrupção e devem ter nuanças de
intensidade; os curtos podem ser repetidos conforme ritmo e intensidade
determinados. Uma vez escolhidas as letras, montar com elas uma sequência
musical, escrever a partitura, ensaiá-la e apresentá-la.
Observação
Mais complexo que o exercício anterior, este jogo exige a organização em
sequência das sonoridades, com vistas à composição musical.
Figura 7 - Partitura Música das letras, feita por grupo de alunos
P.51
Música para ouvir
- Sequenza III [Nota 13], de Berio.
Sobre a obra musical
A Sequenza III, de Luciano Berio (1925-2003), para voz feminina, é
escrita sobre um poema de Markus Kutter (1925-2005), cujo texto vai
aparecendo aos poucos na música. Primeiro vêm as letras, depois se formam os
fonemas, as palavras e, por último, as frases. Fica claro que o som é mais
importante do que o significado do texto, muito embora a estrutura da peça siga
a ideia gerada pelo poema, que é de construção. momentos cujo cater é
mais rítmico e outros mais melódicos, mas sempre dentro de uma abordagem
não tradicional. Nessa obra, o compositor traz uma diversidade muito grande de
sons possíveis de serem feitos com a voz, como por exemplo, gritos, choros,
murmúrios, estalos, gemidos, e agrega a eles diferentes tipos de sentimento
como tensão, nervosismo, alegria, frenesi [Nota 14].
Relação com os jogos
O tratamento dado às palavras dessa música vai ao encontro dos jogos
de criação aqui descritos, em que a manipulação dos sons provenientes da fala
é o mais importante. Assim, ela complementa a prática desenvolvida em sala de
aula e um notável exemplo de transformação e de uso dos sons das palavras
em música, inclusive diferenciando sonora e musicalmente as consoantes das
vogais.
Mas rios outros elementos também se correlacionam, como a variedade
de sonoridades e de expressões vocais apresentadas, os aspectos rítmicos e
melódicos tratados de maneira o convencional e relacionados com letras e
palavras, bem como a partitura usando sinais tradicionais e outros inventados ou
usados de maneira livre. Além disso, essa peça tem um aspecto um tanto cômico
- o que agrada às pessoas -, é relativamente curta e sugere a presença de uma
movimentação gestual.
Figura 8 - Excerto da partitura de Sequenza III Fonte: Berio, 1968, p.5
4 JOGOS MUSICAIS:
linhas sonoras no espaço
P.55
O espaço que nos rodeia é repleto de formas, linhas e texturas, que
podem ser transformadas em som se usarmos nossa imaginação. Os contornos
das paredes ou dos móveis são, na verdade, linhas que já existem em forma de
curvas, retas ou pontos, e que estão à espera de serem descobertas para serem
transformadas em sons com diferentes alturas, texturas e comprimentos ou, até
mesmo, em silêncio, se pensarmos nos espaços vazios.
Ao apontar o dedo para seguir a linha isto é, o contorno, as arestas ou
bordas, de uma parede, por exemplo, podemos transformar esse traçado em
desenhos escritos no papel que, organizados, podem vir a se tornar partituras
musicais. Assim, os contornos das paredes, do teto, do chão, dos móveis, podem
resultar em sons, serem escritos como partituras, e, assim, transformarem-se em
música. Para tal, basta organizá-los e fazer a sua leitura de forma expressiva.
Da mesma forma que é possível transformar em sons as linhas existentes
nas paredes e nos objetos das construções, é possível também transformar as
linhas presentes na natureza, por meio dos contornos das árvores, das
montanhas, dos rios ou das nuvens no u. Tudo isso pode ser material em
potencial para brincarmos com os sons e fazermos música.
P.56
O princípio é o mesmo usado em todos os jogos, ou seja, ao seguir o
caminho de uma linha indo de baixo para cima, trabalhamos com altura do som
do grave para o agudo, e vice-versa. Uma linha de parede que pareça mais
marcada pode se transformar em um som mais forte, enquanto uma linha mais
suave pode ser representada por um som mais fraco. O importante é
desenvolver o ouvido musical, perceber as qualidades do som, brincar, cantar,
inventar diferentes maneiras de se fazer música.
Sobre o silêncio
A concepção de silêncio sofreu mudanças no decorrer do século XX, de
modo que passa a ser visto não mais apenas como o oposto do som, mas como
complementar dele. Para Cage, o silêncio o existe, pois não silêncio que
não esteja “grávido” de sons (Cage, citado por Campos, 1985, p. 14). Cage
chegou a compor a peça 4’33”, na qual os músicos não executam absolutamente
nada, permanecendo com seus instrumentos, imóveis no palco, em absoluto
silêncio. O resultado é que, em geral, é o público quem acaba se manifestando
e vai interferindo sonoramente nesse silêncio, criando, assim, um novo espaço,
sonoro. Para Koellreutter, o silêncio faz parte da obra musical tanto quanto o
som, pois ele é um outro aspecto desse mesmo fenômeno (Koellreutter, citado
por Zagonel; Chiamulera, 1985, p. 35). É possível dizer que o silêncio possui
função expressiva e deixou de ser somente um articulador, uma pausa ou um
intervalo. Por isso, é importante que se uma atenção especial ao trabalho
específico com esse elemento. E lembrar que é dele que nasce a música.
Jogo 11
Fio Sonoro
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos ligados à improvisação e
à escrita musical:
- Qualidades do som: altura, intensidade, timbre, duração (sons longos e
curtos).
- Movimento sonoro.
- Criação, execução e leitura de grafia de sons.
Objetivos
- Reduzir o gesto amplo do corpo, trabalhado até o momento, para um
gesto feito com a mão, no espaço.
- Fixar algumas regras da escrita: da esquerda para a direita e de cima
para baixo.
- Expressar diversas qualidades do som ao mesmo tempo: altura,
intensidade, timbre, duração (sons longos e curtos).
- Praticar a leitura e a execução de partituras.
- Introduzir a prática da leitura simultânea de sons (duas ou mais vozes),
elementos básicos da organização e entendimento de partituras.
Disposição dos participantes: sentados no chão, em círculo.
Descrição do Jogo
O primeiro da roda a participar coloca a mão direita em frente ao corpo,
como se fosse escrever no ar. A mão desse participante deve se posicionar como
se ele estivesse segurando um fio com os dedos. Este fio, ao começar a seguir
o movimento da mão, ganha um som vocal, improvisado pela pessoa que o tem
à mão (da mesma maneira que nos jogos do tipo Dominó, mas agora com gestos
mais comedidos e controlados). O fio sonoro faz um pequeno trajeto na frente
do indivíduo e logo é passado para o colega sentado à direita, que o segurará
com seus dedos e inventará outro percurso sonoro para ele, passando-o para o
seu próximo colega, e assim por diante.
Variações
- Fazer uma nova rodada do fio sonoro, introduzindo oscilações maiores
de timbre, de intensidade ou de altura. Quanto mais diferente for a sua rota e o
seu som, mais rico será o resultado.
- Cada participante escreve uma trajetória do fio no papel. Todos, então,
trocam os papéis entre si, aleatoriamente, e cada um o lê, por vez, emitindo sons
vocais para o caminho do fio desenhado pelo colega.
- Cada participante escreve uma trajetória do fio no papel. Escolhem-se
vários desenhos e com eles monta-se uma espécie de composição musical,
colocando-os um ao lado do outro, no sentido horizontal, de maneira a formar
uma sequência longa para uma leitura do conjunto. É possível colocar também
alguns desenhos verticalmente para serem entoados simultaneamente, como se
fosse a duas ou três vozes. É importante que seja observado o aspecto musical
da sequência, tanto ao organizar a partitura quanto ao execu-la em grupo. O
que se pretende é levar o grupo a inventar e a fazer música, e não apenas a ler
uma sequência de linhas.
P.59
Observação
O fio costuma se transformar e criar formas as mais diversas possíveis
durante sua caminhada no círculo: pode engrossar, aumentar em quantidade,
arrebentar etc. Deixar a imaginação das pessoas solta para inventarem, sem
bloqueio nem censura, é uma conduta desejável.
Sugerimos que a caminhada do fio se dê da esquerda para a direita, para
seguir os princípios de nossa escrita.
P.60
Jogo 12
Desenhando o Espaço
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos ligados à exploração sonora:
- Linhas sonoras.
- Variações de altura e de intensidade do som.
Objetivos
- Descobrir diversas linhas sonoras a partir de objetos existentes no
espaço.
- Perceber variações de altura e de perfil dinâmico do som.
- Descobrir diferentes sons a partir da observação de linhas relas, curvas,
lisas, irregulares etc.
- Disposição dos participantes: em pé, andando livremente pela sala.
Descrição do jogo
Todos os participantes saem andando à procura de linhas contínuas, retas
ou arredondadas, existentes nos contornos dos objetos e das estruturas na sala,
seguindo-as com o dedo indicador: objetos, saliências, linhas das paredes,
formas diversas. Enquanto seguem as linhas de longe, com os dedos, vão
fazendo (todos aos mesmo tempo, mas cada qual individualmente, à sua
maneira e no seu ritmo) o som que imaginam lhe corresponder.
Ao término, cada um é chamado a mostrar aos outros o que encontrou,
refazendo o percurso e o som.
Variação
Repetir а mesma busca, incluindo também as linhas descontínuas, ou
seja, pulando de um objeto para outro ou interrompendo o caminho feito em cima
de uma linha e retomando-o em outra, relacionando esses espaços sem linhas
a silêncios.
P.61
Figura 9 - Desenho feito no papel, por um aluno, a partir da linha encontrada no
contorno de uma parede
P.62
Jogo 13
Música do Passeio
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos ligados ao contraste
som/silêncio:
- Percepção e execução de contraste entre som e silêncio.
- Interpretação vocal com variação de timbre, intensidade, altura e
duração.
- Improvisação.
Objetivos
- Trabalhar com o contraste entre som e silêncio (o som que emerge do
silêncio).
- Executar diferentes formas de interpretação para um mesmo desenho
sonoro (variação de timbre, intensidade, altura, duração).
- Exercitar a prática da improvisação.
Disposição dos participantes: livre.
Recursos necessários: cartolina ou folha de papel e lápis.
Descrição do jogo
Cada participante escolhe algum fragmento das linhas encontradas no
jogo Desenhando o espaço, escreve-o em uma folha de papel em forma de
grafismo e mostra o desenho e o som imaginado aos colegas. Distribuem-se as
folhas com os desenhos pelo chão, em diferentes locais da sala. Cada um
começa a andar livremente pelo espaço, e, sempre que passar sobre um dos
desenhos, para na frente dele e canta um som que corresponda ao que nele está
escrito.
Observação
É importante que os participantes ouçam uns aos outros enquanto andam
e cantam o próprio som para que possam interagir com o grupo e, assim,
improvisar pequenos diálogos.
Música para ouvir
Nomos Gama [Nota 15], de Xenakis.
P.63
Sobre a obra musical
Em Nomos Gama, composta entre 1967 e 1968, lannis Xenakis (1922-
2001) pede que a orquestra, composta por 98 sicos, esteja distribuída entre
a plateia, permanecendo o regente posicionado no centro da orquestra e do
público. O espaço aqui tem um papel fundamental e importantíssimo, tanto
quanto os sons que são tocados pelos instrumentos. É um belo exemplo da
utilização do espaço na música, em que os diversos sons, que vem de diferentes
lugares, unem-se na percepção do ouvinte.
Relação com os jogos
Nos jogos anteriormente descritos é feito um trabalho com o som que
caminha no espaço ou que vem de diferentes partes da sala. Assim como em
Nomos Gama, nestes jogos, procura-se uma audição menos linear do som.
Tradicionalmente, os instrumentos tocam todos em um mesmo lugar, de frente
para a plateia. Aqui, pretende-se que o som seja percebido de maneira mais
circular, vindo de várias partes da sala, misturando-se e resultando em uma única
massa sonora.
5
Jogos MUSICAIS:
aprendendo música com o corpo em movimento
P.67
Neste bloco são descritos vários jogos em que noções musicais o
trabalhadas de maneira não convencional, visando facilitar a sua compreensão
a partir da concretização vivenciada.
Serão, assim, abordadas noções de ritmo irregular, regularidade
(pulsação), altura, intensidade, densidade, som/silêncio, direção, trama sonora,
indicadas logo no início de cada exercício.
Não temos a intenção de contemplar toda a teoria da música, mas apenas
de sugerir algumas opções para a prática de exercícios de maneira lúdica,
usando o corpo, a voz e o espaço. Por isso, é fortemente aconselhada a criação
de novas brincadeiras para aquisição de outras noções necessárias ao
aprendizado global da música. Para a aplicação dos jogos propostos, não há
necessidade de seguir a ordem aqui apresentada, pois cada exercício é
independente.
P.68
Jogo 14
Boneco Desengonçado
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos constituintes da música:
- ritmos irregulares.
- execução rítmica por meio do movimento corporal.
Objetivos
- Perceber e executar diferentes ritmos irregulares.
- Observar e sentir, pelo corpo, a dinâmica dos ritmos.
- Praticar a repetição de ritmos por meio do corpo.
Disposição dos participantes: duplas em pé, frente a frente.
P.69
Descrição do jogo
Um integrante da dupla bate com os pés no chão fazendo um ritmo. Na
sequência, o outro o imita usando o corpo todo como se fosse um boneco
desengonçado, mas sem usar os pés ou as mãos para obter o referido ritmo. A
ideia desse jogo é reproduzir o ritmo, construído de maneira convencional, com
batidas de pés, pela ação do corpo como um todo. É o ritmo relacionado a
movimento.
Observação
É preciso incentivar os participantes a movimentar o corpo todo, dos pés
à cabeça, e não se restringir somente aos braços ou cintura, como muitas vezes
acontece. Evidentemente, quanto mais desinibido e solto o participante estiver,
mais espontaneidade e amplitude conseguirá em seu movimento.
Atentar para o fato de que não é preciso que o participante faça um ritmo
compassado, quadrado. Pelo contrário, quanto mais irregular ele conseguir fazê-
lo, melhor.
Jogo 15
Respiração em Cadeia
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos constituintes da música:
- Regularidade e pulsação [Nota 16].
- Ritmo irregular.
- Execução rítmica a partir do movimento corporal.
Objetivos
- Perceber a regularidade, fundamental para a apreensão da noção de
pulsação a partir da observação da própria respiração.
- Praticar o ritmo irregular, pela intuição, ou seja, sem determinação de
compasso, a partir da transformação paulatina das respirações em palmas, e
pela improvisação.
- Explorar diferentes dinâmicas da respiração, como forte, fraca, lenta,
“viva”, rápida, mole” etc. (ouvir), e responder dentro do mesmo espírito
(executar).
- Reconhecer e imitar diferentes dinâmicas da respiração.
Disposição dos participantes: em pé, formando um círculo.
Descrição do Jogo
Um primeiro participante no círculo faz o movimento de inspirar de
maneira clara e visível. Todos devem acompanhá-lo com o olhar. Tão logo tenha
terminado, o segundo, à sua direita, complementa o ciclo com a ação de expirar.
O terceiro, por sua vez, novamente inspira, o quarto expira, e assim se cria uma
continuidade de inspirações e expirações.
P.71
Variações
- Um primeiro aluno inspira e o seguinte, posicionado no seu lado direito,
ao invés de expirar, bate palmas como se este ato fosse a expiração de resposta.
O bater palmas deve seguir a dinâmica da inspiração de seu colega. Ou seja, se
a inspiração for forte, expira-se igualmente forte; se a inspiração for curta, faz-se
a expiração curta.
- O primeiro bate palmas no lugar da inspiração, mas dando a entender
que seria uma inspiração, e o seguinte responde também com palmas, como se
fosse a expiração, e assim por diante, formando um diálogo contínuo, com
diferentes dinâmicas e nuances.
Observação
O importante, desde o início do exercício, é que se mantenha a
regularidade, como uma espécie de pulsação. É preciso evitar interrupções no
meio da sequência para não desconcentrar os participantes. Normalmente,
quando seguido com atenção, este jogo cria um clima de muita tranquilidade,
relaxamento e concentração. Na maioria das vezes, o gesto intuitivo que surge
a partir das palmas que fazem a inspiração segue um caminho de baixo para
cima, e o de expiração, de cima para baixo.
Orientar as pessoas para que modifiquem a dinâmica das inspirações
(rápida, curta, com interrupções regulares ou irregulares, forte, fraca etc.) em
cada participação para, assim, trabalhar com diferentes nuances sonoras.
Música para ouvir
- Upitu [Nota 17], de Chico Mello.
Sobre a obra musical
Esta peça é para flauta transversa solo e usa uma variedade enorme de
sonoridades conseguidas com о instrumento tocado de maneira não
convencional. Sons feitos com as chaves da flauta, tirando-se o bocal,
desmembrando-se a flauta em pedaços, e mesmo com a utilização da voz do
executante, fazem dela um verdadeiro repertório de sons inusitados. Ao ouvi-la,
temos a impressão de que é tocada por vários instrumentos, tamanha a
diversidade sonora, de um caráter que lembra a música indígena brasileira.
No seu desenrolar algumas partes ritmadas, outras com glissandos
[Nota 18], e são usados muitos sons de respiração produzidos vocalmente, com
ou sem o uso do instrumento. Somente ao final uma curta linha melódica feita
com o som tradicional da flauta.
Relação com os jogos
Upitu vem como uma ilustração perfeita, pois, assim como os exercícios
propostos anteriormente, a peça mostra uma grande diversidade de material
sonoro proveniente de pesquisa realizada pelo compositor com a flauta, bem
como o uso da respiração como um elemento musical expressivo.
Sua partitura é repleta de grafismos, com sinais inventados pelo
compositor e descritos em uma espécie de bula que detalha cada tipo de som a
ser feito, bem como de que maneira ele pode ser conseguido pelo executante.
Apesar de aparecerem algumas figuras rítmicas, estas não vêm com todas as
características da notação tradicional. É uma partitura que, devido a suas
características gráficas e aos tipos de sinais utilizados, pode ser lida mesmo por
pessoas sem conhecimento da teoria musical. Ela aparece aos olhos do leitor
como um desenho dos sons em sequência, da mesma forma como os
desenvolvidos pelos jogos criativos descritos.
Observe que, na partitura Upitu, Chico Mello utiliza novos sinais para
escrever os sons a serem tocados pela flauta. Não é usada a pauta de cinco
linhas com as notas, sendo os sinais dispostos mais livremente dentro de um
determinado espaço. É convencionado, no entanto, que os sons colocados na
parte superior do quadrado são os mais agudos, e os que estão mais embaixo
devem ser mais graves. “O grafismo descreve o movimento sonoro tal qual ele
se desenvolve no tempo e no espaço” (Zagonel, 1992a, p. 146). Também a
questão rítmica é tratada diferentemente. Em vez de usar compassos para
marcar o tempo e o ritmo, é a marcação em segundos que dá os parâmetros de
duração. Sem a pretensão de sermos precisos, esse tipo de partitura age mais
como um roteiro para o intérprete e necessita, quase sempre, de explicações
adicionais para que ele saiba como tocar ou cantar.
P.73
Figura 10 - Partitura de Upitu Fonte: Mello, 1987, p. 1-2.
Quando um compositor usa sons diferentes das notas, as quais têm
todo um código consagrado, ele obriga-se a inventar novos sinais para escrevê-
los. Por isso, é comum fazer uma espécie de bula ou legenda explicativa de cada
um dos sinais usados e de como eles devem ser interpretados musicalmente. É
o caso da peça Upitu, de Chico Mello, conforme se pode apreciar a seguir.
Inspirar e expirar no bocal (“legato").
Inspirar e expirar, alternando as posições
1 e 2 em pulso de semicolcheias.
Respirar e em seguida cantar as notas
indicadas. A transição deve ser quase
imperceptível.
Cantar abrindo e fechando as chaves de
forma rápida e irregular.
Respirar em colcheias (2:1) e
semicolcheias (4:1).
Tremolo rápido e contínuo com as mãos
direita e esquerda.
Cantar a nota mais aguda possível (sem
falsete), alternando as posições 1 e 2.
Respirar. Ao inspirar e/ou expirar emitir
som com a voz.
Respirar metricamente e a cada expiração
executar o tremolo com acento (indicado
pela linha mais grossa à expiração). Em
seguida, abrir e fechar as chaves de forma
irregular sem produzir notas
convencionais (apenas ruído de chaves).
Pronunciar as sílabas indicadas com
glissandos de pequenos intervalos
seguindo aproximadamente as alturas
indicadas, ora no bocal (A) ora no corpo da
flauta (B).
Glissando (no máximo de uma terça maior)
com a sílaba correspondente até o tremolo
de respiração produzindo timbres
diferentes através da movimentação da
língua. Em seguida produzir, sem
interruão, uma nota no bocal fechado
com a palma da mão.
Inspirar rapidamente e em seguida falar
“Upitu”. Com a última sílaba (“tu”) executar
um glissando com a voz (máximo de uma
terça maior) e continuar com respiração.
Produzir som somente no bocal fechado
com a mão. Em seguida, a mão é
rapidamente afastada mudando, como
indicado, a altura do som e a flauta é
removida da boca para que a palma da
mão possa percutir a abertura (indicado
com um “x”).
Tremolo irregular com as chaves e ao
mesmo tempo cantar “para dentro” (nota
mais grave possível).
Percutir as chaves em pulso de
semicolcheias, improvisadamente,
produzindo variações de altura
(eventualmente reforçar discretamente o
som percutido das chaves produzindo “tk
tk ..." com a língua).
Seguir percutindo as chaves
produzindo onde indicado som
com embocadura de trompete.
Nota longa com embocadura de
trompete, enquanto isso abrir e
fechar as chaves irregularmente.
Cantar nota mais grave possível
com todas as chaves fechadas.
Em seguida produzir tremolo com
embocadura de trompete.
Cantar no registro médio-agudo
em glissando (curto) e seguir
percutindo as chaves.
Seguir percutindo as chaves
enquanto alterna nota cantada no
registro médio-agudo e som
produzido com embocadura de
trompete.
Produzir som longo com
embocadura de trompete e ao
mesmo tempo percutir as chaves.
Interromper com uma rápida
inspiração.
Produzir som com embocadura
de trompete passando
gradualmente da posição 3 a 4
(glissando).
Embocadura de trompete com
frulato.
Abrindo e fechando as chaves
metricamente com embocadura de
trompete. Todas as chaves devem
estar fechadas no som mais grave
(grafado na posição inferior).
Percutir as chaves com as duas
mãos em pulso de semicolcheias
e ao mesmo tempo pronunciar “tk
tk ...” no orifício do corpo da flauta
em pulso dobrado (fusas).
Som convencional (alternativa:
não remontar a flauta e produzir
aproximadamente as notas
indicadas no corpo da flauta com
embocadura de flauta de pan).
Interrupção repentina através de
rápida inspiração acompanhada
de som inspirado de voz.
Alternar percussão das chaves,
inspiração e embocadura de
trompete (com frulato).
Figura 11 - Legenda da partitura de Upitu Fonte: Mello, 1987, p. 1-2.
P.76
Jogo 16
Sobre e Desce
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos constituintes da música:
- Altura do som: grave/agudo.
- Trama sonora.
- O movimento corporal.
Objetivos
- Perceber a relação que existe entre a altura do som (grave/agudo) e o
movimento corporal como urna forma de concretizar a apreensão desta noção.
- Desenvolver a atenção, o controle e a independência da emissão vocal
ao ouvir notas diferentes.
- Fazer emergir uma trama sonora a partir da movimentação corporal com
emissão vocal e, com esta ação, interagir modificando o seu colorido.
Descrição do jogo
Cada participante emite uma nota qualquer, longa e contínua, sobre uma
letra que pode ser “ó”, por exemplo. Aos poucos, movimenta o corpo,
espontaneamente, para cima e para baixo, sem sair do lugar, em qualquer
velocidade. Conforme o movimento corporal, a nota vai caminhando mais para
o agudo ou mais para o grave, ou seja, o corpo que se dobra da posição ereta
em direção ao chão deve emitir um som que vai do agudo para o grave.
Disposição dos participantes: em pé, espalhados livremente pela sala.
Variação
Estabelecer os tipos de movimentos corporais antecipadamente, como se
fossem coreografados, para que, ao serem realizados pelo grupo, formem
espécies de ondas, tanto no aspecto visual quanto no auditivo.
P.77
Observação
É importante que os participantes escutem a si e aos outros e prestem
muita atenção no resultado sonoro para poderem interagir e formar tramas
sonoras com alturas diferentes. O que deve ser evitado é que, aos poucos, o
grupo comece a aproximar as alturas das notas e virar em uníssono.
P. 78
Jogo 17
Vai e Vem
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos constituintes da música:
- Intensidade: crescendo e decrescendo [Nota 19].
- Altura.
- Duração.
Objetivos
- Praticar a emissão vocal com variações de intensidade a partir da
movimentação corporal.
- Articular as variações de intensidade, altura e duração, em separado e
conjuntamente.
Disposição dos participantes: em pé, espalhados pela sala.
Descrição do jogo
Dividir a sala em duas partes com uma linha imaginaria e estabelecer que
um lado dela será para o grupo /ррр [Nota 20]/ e, o outro, para o /fff [Nota 21]/.
Os participantes andam pela sala livremente, de um lado para outro, cada qual
fazendo seu próprio caminho, na velocidade que desejar, emitindo sempre o
mesmo som, mas modificando sua intensidade conforme se aproxima do
território do pianíssimo ou do fortíssimo. Os sons emitidos podem ser as
diferentes vogais ou, ainda, consoantes que permitem uma emissão prolongada
como /s, m, r/.
Variação
Repetir o jogo, unindo os dois movimentos de sobe-desce, descrito
anteriormente, e de ir-vir, com seus sons correspondentes.
P.79
Observação
Essa união de elementos proposta na variação é bastante difícil, pois
depende não só de uma escuta atenta, mas também de uma coordenação entre
os movimentos corporais e a emissão vocal.
P.80
Jogo 18
Ímã
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos constituintes da música:
- Intensidade: crescendo e decrescendo.
- Variação de densidade [Nota 22]: maior ou menor quantidade de sons
aglomerados.
Objetivos
- Praticar a emissão vocal com nuanças de intensidade em crescendo e
decrescendo.
- Perceber, pela prática, a noção de densidade e rarefação: do menos
denso (grupo espalhado, com participantes distantes uns dos outros) ao mais
denso (participantes mais próximos uns dos outros).
Disposição dos participantes: andando livremente pela sala.
Descrição do Jogo
Os participantes estão espalhados pela sala, andando devagar, e
começam a emitir um som qualquer, de maneira espaçada, com intervalos. Aos
poucos, e espontaneamente, todos vão se aproximando do centro e, quanto mais
se juntam, mais longos vão ficando os sons emitidos, ou seja, quanto mais denso
o aglomerado de pessoas, mais densa também fica a massa sonora.
Variação
Iniciar a emissão com o som de uma letra qualquer em /fff/ e transfor-
la aos poucos até chegar em um som chiado de /sss/ ou /ch/ em /ррр/.
P.81
Observação
A aproximação dos participantes ao centro deve ser feita de maneira
espontânea, sem que ninguém coordene, pela palavra, a velocidade do
caminhar. Todos devem sentir o ambiente, sentir-se uns aos outros, e, a partir
dessa percepção, agir em conjunto.
P.82
Jogo 19
Som Atrás
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos constituintes da música:
- Contraste som/silêncio.
- Densidade sonora.
- Representação gráfica do silêncio.
- Partituras com som/silêncio.
Objetivos
- Introduzir a noção de densidade e rarefação sonoras.
- Perceber a presença do silêncio, em maior ou menor quantidade.
- Relacionar a criação de partitura com um componente importante que é
a representação gráfica do silêncio.
Disposição dos participantes: sentados no chão, em círculo.
Recursos necessários: cartolina ou folha de papel e lápis.
Descrição do jogo
Um participante (A) fica em pé e vai circundando a roda pelo lado de fora
com um instrumento na mão. Em um determinado momento, para de andar e
toca o seu instrumento atrás de um dos colegas (B), que está sentado. Este (B)
se levanta e ganha o instrumento de (A), que se senta e toma o seu lugar. O
participante (B) começa a caminhar até parar num próximo, tocar seu
instrumento atrás dele, e assim por diante. Aos poucos, no decorrer do jogo, vão
sendo introduzidos outros instrumentos até que quase todos estejam em pé,
tocando.
Em seguida, cada participante escreve no papel o que aconteceu
sonoramente no jogo, como se fosse uma partitura. A descrição tratará de como
a atividade inicia com poucos sons e muitos silêncios e, aos poucos, como
aumenta a quantidade de sons, simultâneos ou não, e diminui a quantidade de
silêncios. Assim, observa-se que a densidade sonora aumenta com o desenrolar
da atividade.
Variações
- Ao contrário do que foi proposto anteriormente, tocar continuamente o
instrumento enquanto anda por fora do círculo. Ao se colocar atrás de um
integrante da roda, parar de tocar. Na sequência, escrever na partitura o que
ocorreu, com sons contínuos e silêncios esporádicos, como também com a
entrada de novos instrumentos em polifonia.
- Executar as partituras com instrumentos ou com vozes.
P.83
Observação
Podem ser usados pequenos instrumentos de percussão como guizos,
pandeiros, reco-recos etc., objetos sonoros que já tenham sido manuseados por
todos, ou ainda, os instrumentos que os participantes estejam eventualmente
estudando.
Figura 12 - Jogo do Som atrás
Música para ouvir
- Phù Dông [Nota 23], de Nguyen Thiên Dao.
Relação coro os jogos
Phù Dông, do compositor Nguyen Thiên (1940) traz as mesmas
características do jogo Som atrás, em que o silêncio vai, aos poucos, sendo
preenchido por sons de diferentes timbres e intensidades. O silêncio é valorizado
e visto como uma parte integrante do som.
Sobre a obra musical
Essa peça, com duração aproximada de 14 minutos, é repleta de
silêncios, usados de maneira expressiva e não apenas como elemento de
articulação. Ela é inciada com pequenas intervenções sonoras no silêncio e vai
aumentando a densidade com a entrada de outros instrumentos.
P.84
Jogo 20
Marionetes
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos constituintes da música:
- Direção e movimento do som.
Objetivos
- Realizar um movimento corporal a partir do som, enquanto se percebe a
sua direção (de onde ele vem) e seu movimento no espaço.
- Desenvolver a prontidão para atender com o corpo, rapidamente, as
ordens dadas pelo som.
Disposição dos participantes: em pé, em duplas.
Descrição do Jogo
Uma das pessoas da dupla fica parada em pé como se fosse um boneco
de marionete, que se movimenta por fios. A outra, com um instrumento na mão,
começa a fazer sons perto de uma determinada parte do corpo de seu
companheiro, sugerindo, assim, que ele movimente a parte do corpo em
questão, seguindo o instrumento até parar o som. Se, por exemplo, o instrumento
faz sons próximos ao cotovelo, o boneco vai movendo o cotovelo como se este
estivesse preso a um fio que o liga ao instrumento e interrompe o movimento
somente quando não houver mais som. Em seguida, trocam-se os papéis.
P.85
Observação
Os sons feitos pelos instrumentos devem ser contínuos, para que o
boneco possa segui-lo. Se for feito apenas um som curto na parte do corpo
escolhida, o boneco não terá tempo de se movimentar e segui-lo.
Jogo 21
Ventos coloridos
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos constituintes da música:
- Movimento sonoro de alturas (glissandos do grave para o agudo e vice-
versa).
- Partitura.
Objetivo
- Exercitar a leitura e a emissão de sons em movimento em várias vozes.
Disposição dos participantes: livre e, depois, em grupos.
Descrição do jogo
O orientador sopra em um apito, imitando o vento, e os participantes
desenham o som ouvido no papel. Em seguida, sopra em outro apito com som
diferente do primeiro, para que eles desenhem esse som com outra cor no
mesmo papel. Da mesma forma, a atividade vai se desenrolando com um
terceiro tipo de apito, um quarto, e assim por diante. No final, tem-se uma
partitura colorida, com diferentes “caminhos” de som dos ventos. Em grupos, os
participantes escolhem uma de suas partituras para interpretar. Cada um escolhe
uma linha para seguir e cantar. Todos ao mesmo tempo iniciam a interpretação,
sendo que cada qual canta a sua linha.
Observação
Este exercício é parecido com o antecedente, mas agora ele ganha
uma partitura e sonoridades diferentes.
Variações
- Em vez do apito, cantar diferentes notas e, enquanto são cantadas as
linhas dos ventos, fazer com o corpo o movimento correspondente a seu trajeto.
- Variar com sons vocais: podem ser emitidas as outras vogais ou podem
ser feitos sons anasalados ou guturais, e assim por diante.
P.87
Nota: esta grafia foi feita por um aluno, a partir da audição dos diferentes
sons emitidos pela professora. Cada tipo de desenho (em forma de espiral, em
zigue-zague, subindo ou descendo etc.), feito em uma cor diferente, retrata um
tipo de som.
P.88
Jogo 22
Nuvem Sonora
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos constituintes da música:
- Trama sonora.
- Manutenção e sustentação na emissão de som vocal.
Objetivos
- Emitir uma nota e mantê-la na mesma altura.
- Desenvolver a prática da audição do grupo vocal do qual se faz parte.
- Coordenar a emissão vocal com a respiração.
Disposição dos participantes: de maneira relaxada e de olhos
fechados, sentados com a coluna ereta e com as mãos sobre as pernas ou
deitados no chão.
Descrição do jogo
Os participantes começam a prestar atenção na própria respiração. Após,
são orientados a, ao expirar, soltar o ar emitindo uma nota qualquer, com a vogal
“ó”. Cada um deve cantar uma nota diferente, mas sempre a mesma, formando
uma espécie de cluster ou, como chamamos aqui, de “nuvem sonora”. Cuidar
para que a respiração de cada um seja feita em tempos diferentes para não
provocar silêncios, e sim para formar sempre uma grande nuvem de sons.
Variações
- Cada vez que soltar a respiração com a emissão de uma nota, fazê-lo
mais e mais forte, até chegar ao fortíssimo, e, depois, ir decrescendo até o
pianíssimo.
- Cantar novamente a trama sonora e, ao se aproximar do final da prática,
colocar em volume baixo, ao fundo, um trecho da peça Lux Aeterna, de Ligeti
(veja comentário a seguir), substituindo aos poucos as vozes dos participantes
pela audão da música gravada. Em silêncio, continua-se a ouvir a peça, até
que ela se acabe.
Comentário: a passagem da emissão vocal dos participantes para a
audição da peça de Ligeti deve ser feita aos poucos. Enquanto as vozes vão
decrescendo, a música vai aumentando o seu volume, mas quase sem se notar
este caminhar. A sensação causada por este exercício é bastante prazerosa e
leva também a um estado de grande relaxamento.
P.89
Observação
É importante que cada um ouça não o seu próprio som, mas o resultado
vocal do grupo todo, para que se possa interagir emitindo sons diferentes.
Quanto maior a quantidade de notas diferentes entre si, mais rico e interessante
será o resultado sonoro, sendo possível, então, formar essa espécie de nuvem
de sons.
P.90
Música para ouvir
Lux Aeterna [Nota 24], de Ligeti.
Sobre a obra musical
Esta peça contém formas harmônicas que vão se encadeando umas nas
outras, dando a impressão de um grande contínuo sonoro, uma massa de sons.
Enquanto o som de algumas vozes vai desaparecendo, o de outras começa a
aparecer e, assim, a música se desenrola. A impressão que o ouvinte tem é de
um som sem ritmo nem articulação, que simplesmente flui no tempo e no espaço
como uma luz eterna.
Parte dessa obra foi usada por Stanley Kubrik (1928-1999) no filme 2001:
Uma odisseia no espaço, o que a tornou conhecida no mundo todo.
Relação com os jogos
Lux Aeterna, de Ligeti, ilustra e exemplifica muito bem o trabalho feito no
exercício proposto. Em ambos os casos tem-se um resultado semelhante a um
contínuo sonoro, em que a trama se faz e vai sofrendo pequenas alterações
harmônicas no decorrer de sua realização, sendo a voz humana o instrumento
usado.
P.91
Música para ouvir
Stimmung (singcircle version), de Stockhausen [Nota 25].
Sobre a obra musical
Esta peça, composta em 1968 por Karlheinz Stockhausen (1928-2007), é
dividida em partes, sendo que cada uma se desenvolve com base em um modelo
melódico que é repetido inúmeras vezes, criando uma trama sonora contínua.
São notas longas que vão se superpondo, com pequenas variações. De vez em
quando, são ditas algumas “palavras mágicas”, segundo afirmações do próprio
Stockhausen. A palavra Stimmung tem vários significados na língua alemã. Pode
significar “afinação”, mas também “estar em consonância com”, sendo que Die
Stimme quer dizer “voz”.
Stimmung lembra os cantos dos monges tibetanos, que permanecem
longo tempo sobre uma nota só, num registro extremamente grave. Por isso,
sugere-se também a escuta de um exemplo destes para que seja possível
promover a comparação e ampliar ainda mais as percepções.
Relação com os Jogos
A relação se faz principalmente pela semelhança existente entre o
resultado sonoro provocado pelos exercícios e pela sica ouvida, no sentido
da continuidade e do prolongamento das tramas sonoras. Evidentemente, os
jogos feitos em sala são improvisados e resultam de uma experiência musical
espontânea, enquanto que Stimmung é uma obra musical muito bem elaborada
e de alta qualidade técnica. Por isso, é importante ouvi-la.
6
JOGOS MUSICAIS:
materiais, texturas e formas em partituras
P.95
A música contemporânea aumentou as possibilidades sonoras ao infinito,
de modo que todo som pode ser usado para fazer música. Consequentemente,
também ampliou as formas de escrita. Nesta seção exemplos de jogos a
serem feitos com inúmeros materiais, nos quais é feita a tentativa de uma relação
entre o gesto e os sons, ou a textura do material com o som que ela pode sugerir.
Os jogos sugerem não somente a manipulação dos materiais para se obter sons
variados e se chegar à composição, mas também a concretização dos sons pela
sua visualização, como uma outra maneira de se escrever” música. O papel, por
exemplo, será usado não mais unicamente para escrever, mas como fonte
sonora, a partir de gestos como amassar, balançar, rasgar etc. Aborda-se uma
escrita que sai da linearidade, para ganhar uma terceira dimensão em volume
ou em textura.
P.96
Jogo 23
O som do gesto
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos ligados à exploração
sonora e à composição musical:
- Relação gesto/som.
- Diferentes formas de produção sonora.
- Criação musical.
- Escrita musical.
Objetivos
- Perceber a relação íntima existente entre o gesto que produz o som e o
resultado provocado.
- Analisar diferentes maneiras de interpretação de um mesmo texto
musical.
- Desenvolver a prática da criação musical e da escrita.
Disposição dos participantes: em grupos, dispostos livremente.
Descrição do jogo
Cada participante escolhe um objeto ou instrumento para pesquisar, e
então apresenta aos outros as várias maneiras que encontrou de tocá-lo. Em
seguida, todos elaboram juntos uma lista de gestos que podem ser efetuados
para a produção de sons: agitar, raspar, bater, rolar, beliscar, sacudir, aspirar,
soprar etc. O participante deve, agora, experimentar, no seu objeto ou
instrumento, todos os gestos listados para descobrir que tipos de sons
produzem. Então, inventar uma grafia para esses sons e organizar uma partitura.
Após, a turma deve ser dividida em grupos de cinco, permitindo que cada um
interprete a partitura à sua maneira. Ao final, os grupos apresentam suas
interpretações aos outros e discutem o resultado.
P.97
Observação
Este jogo contempla todo o processo de criação de uma peça musical,
iniciando pela pesquisa dos sons, passando pela elaboração de sinais gráficos
e pela criação da partitura, chegando então à performance, com a apresentação
final. Por isso, ele é bastante completo e requer, para sua realização, certa
prática anterior de criação musical.
Figura 14 - Desenho feito por um grupo de alunos para representar o som vindo
do gesto de amassar, raspar e bater
P.98
Jogo 24
Música dos papéis
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos ligados à exploração
sonora, criação e interpretação musical:
- Relação gesto/som.
- Qualidades sonoras: intensidade e andamento.
- Escrita musical.
Objetivos
- Estimular a exploração de sons provenientes do papel, um rico material
sonoro.
- Continuar o trabalho de conscientização da implicação dos tipos de gesto
no resultado sonoro.
- Exercitar o controle do gesto, no qual os modos de toque determinam
diferentes sonoridades.
- Intensificar o trabalho de nuanças de qualidades sonoras como
intensidade e andamento.
- Exercitar a interpretação e leitura musical.
- Desenvolver a prática da criação musical e da escrita.
Disposição dos participantes: livre.
Recursos necessários: cartolina ou folha de papel [Nota 26] e lápis.
Descrição do jogo
Cada participante pode segurar um pedaço de papel nas mãos e fazer
diferentes tipos de gesto, observando o resultado sonoro obtido em cada
movimentação: gestos de raspar, amassar, bater, esfregar, dobrar etc. Logo
após, em grupo, inventa-se uma notação gráfica para cada som obtido dos
papéis ou para alguns deles de acordo com a decisão do grupo. Escolher alguns
dos desenhos dos sons para criar uma sequência sonora e, então, com eles,
montar uma partitura no quadro, somente, com a participação de todos, da
seguinte maneira: desenhar vários grandes círculos espalhados pelo quadro,
como se fossem ilhas, e dentro de cada um colocar um dos desenhos
representativos de cada som escolhido. Os círculos devem ser ligados por
formas semelhantes a tubos, aleatoriamente, como se fossem criados caminhos
entre eles, dentro dos quais também se poderá colocar algum tipo de grafia
representando outros sons.
Para fazer a interpretação musical da partitura, que foi organizada por
todos, pode ser escolhido um regente, que guiará os “intérpretes” apontando com
sua mão o círculo a ser “tocado” com os respectivos sons dos papéis. Para ir de
um círculo para outro, é necessário passar pelos tubos de ligação, sendo que é
possível determinar um tipo de som diferente para ser feito nesses momentos,
como, por exemplo, bater os pés no chão rapidamente, fazer silêncio etc.
Observe-se que, nesse caso, a partitura não é construída e nem deve ser lida de
maneira convencional - da esquerda para a direita e de cima para baixo -, mas
de maneira aleatória no espaço, conforme orientação do regente.
P.99
Variações
O mesmo exercício pode ser interpretado usando-se a voz para imitar o
som dos papéis.
Substituir os papéis por instrumentos de percussão cujos tipos de sons se
assemelhem aos originais, fazendo-se as comparações entre eles.
Observação
Na regência dos círculos a serem executados, é aconselhável que sejam
dadas indicações, pelo gesto do regente, de diferentes dinâmicas (forte, fraco,
crescendo, decrescendo) ou de velocidade (mais ou menos rápido).
P.100
Jogo 25
Caixinhas de sons
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos ligados à exploração
sonora:
- Timbre.
- Formas sonoras.
Objetivos
- Concretizar diversas formas sonoras por meio do recorte de papéis, indo
da representação bidimensional de linhas desenhadas para a representação
tridimensional, com volume no espaço, sendo outra maneira de se “ver” o som.
- Descobrir novas maneiras de manipulação sonora.
- Desenvolver a criação musical.
Disposição dos participantes: livre, espalhados pela sala.
Recursos necessários: copo de plástico, cartolina ou folha de papel,
tesoura e lápis.
Descrição do Jogo
Cada participante recebe um copinho de plástico, uma folha de papel ou
um pedaço de cartolina e uma tesoura, devendo imaginar e emitir um som
qualquer e, em seguida, representá-lo não graficamente, mas por uma tira de
papel que recorta na forma imaginada. Esta tira é colada dentro do pote, como
se ela saísse de lá, ou seja, como se aquele som fosse gerado dentro do pote e
dele emergisse, ocupando o espaço externo. Então, cada um apresenta aos
outros o que elaborou, emitindo o som correspondente ao papel recortado
enquanto vai tirando-o de dentro da caixa. Em seguida, alguns sons podem ser
escolhidos para se montar uma música com eles, como se fosse uma partitura,
para ser interpretada por todos.
P.101
Observação
Ao montar a partitura, as tiras podem ser tiradas de dentro dos copinhos
para facilitar a compreensão. Sugere-se que sejam usados elementos de
dinâmica, sobreposição de sons, silêncio com intenção de aumentar a
expressividade e outras noções musicais.
P.102
Jogo 26
Composição com texturas
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos ligados à exploração e
composição musical:
- Timbre.
- Contrastes sonoros.
- Notação de intensidade sonora.
- Escrita de partitura.
Objetivos
- Inventar sequências musicais a partir de sons contrastantes emergidos
da exploração de texturas de materiais.
- Organizar partituras e descobrir novos modos de notação de nuanças de
intensidade.
Disposição dos participantes: em grupos, espalhados pela sala.
Recursos necessários: cartolina ou folha de papel, papelão, madeira,
pedra, algodão, barbante, tecido, folhas, gravetos, tecidos, lixas etc.
Descrição do Jogo
Para preparar esse trabalho, cada grupo procura [Nota 27] materiais com
texturas diversas como algodão, folhas, gravetos, tecidos, lixas etc. Em seguida,
todos sentem com o tato os diferentes materiais e imaginam a que tipo de som
cada textura remete, reproduzindo esses sons vocalmente. Por exemplo, o som
do algodão, que é macio, pode ser algo semelhante a um chiado /chchchchch/,
enquanto uma lixa teria um som parecido com /grrrr/.
Escolhem-se, então, algumas das texturas com seus sons respectivos
para organizar uma sequência musical. Monta-se a partitura com os objetos, que
são colados uns aos lados dos outros, sobre uma cartolina. Isso quer dizer que,
em lugar de se desenhar os sons, como foi feito nos outros exercícios, colam-se
os objetos sobre o papel. Para finalizar, é feita a interpretação da partitura,
vocalmente.
Observação
A maneira de representação da intensidade (forte-fraco) pode ser
inventada pelos próprios grupos conforme as necessidades sentidas por eles.
Por exemplo: às vezes se dá mais volume ao material para dar a impressão de
mais forte, ficando essas partes mais grossas; outras vezes o material é alargado
no sentido vertical para representar o /f/ é estreitado para о /р/. O importante é
que os participantes descubram sua própria maneira de representar os sons e
suas nuanças.
P.104
Jogo 27
Contrastes
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos ligados à exploração e à
composição musical:
- Contrastes de sons.
- Frases musicais (pergunta/resposta).
- Partitura.
Objetivos
- Transformar texturas de materiais em sons.
- Identificar contrastes de sons a partir das sensações tácteis obtidas com
o manuseio das texturas de materiais.
Disposição dos participantes: livremente, em grupos.
Recursos necessários: papelão e papelão, madeira, pedra, algodão,
barbante, tecido, folhas, gravetos, tecidos, lixas etc.
Descrição do Jogo
Assim como foi feito no exercício anterior, os participantes têm em mãos
vários tipos de materiais: papelão, madeira, pedra, algodão, barbante, tecido etc.
Cada grupo escolhe aqueles com os quais deseja trabalhar e os explora pelo
tato, ou seja, sente nas mãos o tipo de textura de cada um deles. Em seguida,
tentam imaginar que som poderia corresponder aos diferentes tipos de textura.
Então, agrupam-se os materiais, dois a dois, por contraste: liso-rugoso, duro-
mole, macio-áspero etc. A partir disso, tenta-se reproduzir, com a voz, os sons
equivalentes às sensações tácteis provocadas pelos materiais.
Escolhem-se, então, algumas duplas de sons contrastantes para
organizar uma música. Os grupos recebem a orientação de criar pequenas
frases musicais com as duplas de materiais contrastantes, sendo a pergunta”
feita com um tipo de material (exemplo: liso), e a “resposta”, com o seu contraste
(exemplo: rugoso). Monta-se a partitura colando os materiais sobre um papelão
e, depois, faz-se a interpretação musical da peça por meio da emissão vocal dos
sons representados.
P.105
Observação
É importante desenvolver outros aspectos das sensações humanas, como
o sentido do tato, tendo em vista que este pode levar a uma percepção e/ou
imaginação sonora.
Este exercício prepara os participantes para o jogo História em quadrinhos
em música, que propõe a criação musical com estes mesmos elementos.
Figura 15 – Partitura dos contrastes
Jogo 28
História em quadrinhos em música
Serão trabalhados os seguintes elementos ligados à exploração e à
composição musical:
- Forma musical [Nota 28].
- Sons onomatopeicos.
- Transformação de sons onomatopeicos em música.
- Partituras com desenhos.
- Intensidade.
Objetivos
- Explorar diferentes tipos de sons.
- Transformar sons onomatopeicos em música.
- Criar partituras não convencionais a partir de sinais de onomatopeia.
Disposição dos participantes: distribuídos em grupos, livremente, pela
sala.
Recursos necessários: revistas em quadrinhos, canetas hidrocolor e
papelão.
Descrição do Jogo
Os participantes recortam, de revistas em quadrinhos, diversas
expressões de onomatopeia, como, por exemplo: tique-taque, atchim, chuá etc.
Com as figuras recortadas, cada grupo deve inventar uma música e criar uma
partitura para ela, cujos sons serão feitos única e exclusivamente com as
onomatopeias.
Antes, porém, cada grupo recebe uma indicação de forma musical simples
que deve seguir para fazer a sua música. Por exemplo:
- forma AB;
- forma ABA;
- forma AABB;
- forma ABAA.
Uma vez elaborada a música de acordo com a forma musical dada, colam-
se as figuras organizadas em partitura sobre um papelão para, então, ensaiar e
apresentar aos outros. É possível colocar indicações de intensidade, que podem
igualmente ser inventadas pelo grupo, para dar maior expressão à música
resultante.
Variação
Em vez de colar as figuras recortadas sobre o papelão ou outro tipo de
papel, é possível fazer o desenho de cada onomatopeia, guardando-se, no mais,
os mesmos procedimentos do exercício.
Observação
Este exercício costuma ser muito prazeroso e agrada bastante aos
profissionais das áreas de artes visuais. As partituras, além do fim musical, são
também sempre muito bonitas. Quando na turma pessoas com habilidade
para desenho, as figuras recortadas podem ser substituídas por desenhos que
representem as onomatopeias.
Figura 16 Partitura de sica em forma de história em quadrinhos criada
por uma equipe de alunos
P.108
Música para ouvir
- Stripsody [Nota 29], de Barberian
Sobre a obra musical
Composta pela cantora Cathy Berberian (1928-1983), é uma peça curta,
muito bem humorada, divertida e interessante para ser trabalhada, seja com
crianças, seja com adultos.
Stripsody [Nota 30] tem uma partitura toda feita com desenhos de
onomatopeias, o que facilita sua leitura mesmo por pessoas que não têm
conhecimento da teoria musical.
Relação com os jogos
Esta peça é o exemplo musical exato do exercício feito com as revistas
de histórias em quadrinhos. No entanto, sugere-se que ela seja ouvida somente
depois da realização dos jogos de criação, para que as pessoas não sejam
influenciadas por suas ideias.
Figura 17 – Excerto de partitura de Stripsody
Fonte: Berberian, 1966, p. 4.
P.110
Jogo 29
Uma outra mesma música
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos ligados à leitura, criação
e à interpretação musical:
- Escrita musical.
- Interpretação musical.
- Partitura.
Objetivos
- Estimular a interpretação musical.
- Promover a discussão sobre partitura e as diferentes possibilidades de
interpretação.
Disposição dos participantes: distribuídos pela sala em grupos de
quatro ou cinco participantes.
Descrição do jogo
Em grupos, fazer a releitura da partitura de Stripsody apresentada
anteriormente, ou seja, elaborar uma nova interpretação da peça a partir da
partitura, usando não a voz, mas também objetos sonoros. Cada grupo
apresenta sua recriação aos outros e faz-se a análise dos resultados.
É importante esclarecer que a música escolhida para descrever esse
exercício é somente um exemplo, sendo possível realizá-lo a partir de outras
músicas de acordo com a escolha do professor. É preciso, no entanto, que as
partituras sejam, de preferência, com grafismos e desenhos, e não com notas na
pauta, pois isso dificultaria ou até impossibilitaria a sua compreensão.
Variação
Acrescentar movimentos e encenação à releitura musical.
Observação
Esta peça é bastante teatral e sugere movimentos na sua execução, o
que a torna ainda mais divertida. A partitura, vinda dos conhecidos desenhos de
sons onomatopaicos desenvolvidos pelas revistas em quadrinhos, é peculiar e
estimula a criação.
Figura 18 - Partitura O dia, feita por equipe de alunos, inspirada em Stripsody
P.112
Jogo 29
Uma outra mesma música - continuação
Figura 19 Partitura Taroma le Facarooi feita por equipe de alunos, inspirada
em Stripsody.
P.113
Figura 20 - Excerto de partitura (2), feita por equipe de alunos, inspirada em
Stripsody
7 JOGOS MUSICAIS:
músicas que vêm de fora
P.117
Os exercícios a seguir partem da observação e da escuta da paisagem
sonora [Nota 31] que nos circunda, para transformar alguns desses sons,
intencionalmente, em música. O mundo em que vivemos é e sempre foi repleto
de sons, mas, como diz Schafer no livro A afinação do mundo, “a paisagem
sonora do mundo está mudando” (2001, p. 17), e isso influencia a percepção do
indivíduo e também interfere no tipo de música que se produz. É importante que
se tome consciência dos sons que existem à nossa volta para podermos melhor
trabalhar com eles. Até o século XIX, apenas as notas emitidas pelos
instrumentos musicais ou pela voz eram consideradas um material sonoro
apropriado para a criação de músicas. Porém, durante o século XX, os ruídos
passaram a ser vistos como um grande potencial sonoro, possíveis de serem
transformados em música. Atualmente, continua Schafer (2001, p. 17), “todos os
sons fazem parte de um campo contínuo de possibilidade, que pertence ao
domínio compreensivo da música. Eis a nova orquestra: o universo sonoro!”.
Esse grupo de jogos é um exercício para desenvolver a percepção da
paisagem sonora e propõe uma audição atenta dos sons existentes em nossa
volta para, com eles, fazer sica. Assim, os sons da cozinha de casa ou do
jardim, por exemplo, poderão ser usados na criação musical.
Apenas para aguçar a percepção do indivíduo, o trabalho é iniciado
promovendo a sensação de diferentes tipos de toque no corpo e sua imediata
transformação em sons instrumentais. Faz-se a escuta detalhada e uma
posterior anotação escrita da paisagem sonora ao nosso redor para, a partir
desses sons, chegar à criação musical. Parte-se, em alguns desses casos, de
procedimentos semelhantes ao da música eletro-acústica, que grava sons
existentes para transformá-los em música.
P.118
Jogo 30
Mensagens de Tambor
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos ligados à exploração
sonora e ao gesto musical:
- Relação gesto e som.
- Relação da intensidade de força do gesto versus intensidade sonora.
Objetivos
- Perceber a implicação do gesto no resultado sonoro: raspar, bater,
tamborilar, deslizar etc.
- Imitar e reproduzir gestos a partir da sensação física.
- Perceber a relação da intensidade de força do gesto resultando na
intensidade sonora.
Disposição dos participantes: sentados no chão, em duplas.
Descrição do jogo
Os participantes devem se posicionar, dois a dois, um de frente para as
costas do outro. O de trás bate com as mãos nas costas do da frente, que deve
reproduzir imediatamente o que sente em batidas num tambor que tem no colo,
comunicando a todos a mensagem recebida. Depois, trocam-se as funções.
P.119
Variação
Repetir o jogo, sendo que o da frente escreve no papel o que sente
(“ouve”) nas costas. Para terminar, ambos tocam em um instrumento aquilo que
está escrito, comparando esse novo resultado sonoro com as intenções do
primeiro executante.
Observação
Os gestos dos dois participantes, o de trás e o da frente, devem ser
coincidentes, sendo mudado apenas o timbre. Esses gestos não precisam ser,
necessariamente, só de batidas rítmicas, mas também podem ser de fricção, de
esfregar, de arranhar etc. O importante é que se perceba o resultado sonoro em
função do gesto. Quanto à variação, o participante da frente não escreve os
valores rítmicos, mesmo que ele conheça sua grafia, mas os traços
correspondentes aos gestos sentidos em suas costas. Exemplo: se um gesto foi
da mão deslizando em linha contínua de cima para baixo, assim também será
expresso o desenho, ou seja, um traço vertical.
P.120
Jogo 31
Floresta Encantada
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos ligados à exploração e à
improvisação:
- Timbres.
- Modos de execução instrumental.
- Improvisação.
Objetivos
- Contextualizar, dentro da narrativa, diferentes timbres e modos de
execução instrumental.
- Desenvolver a improvisação a partir de um estímulo que são as histórias.
Disposição dos participantes: sentados no chão, em círculo.
Variação
Vários participantes podem ir ao centro repetir essa mesma história ou
inventar outra, enquanto os instrumentistas fazem a sonorização.
Observação
Este jogo é, na verdade, uma variante do chamado conto sonoro, mas que
contém uma movimentação no espaço em que a história se passa. Outros
elementos e personagens podem ser incluídos na narrativa, em função da
disponibilidade de instrumentos e objetos sonoros, domero de participantes e
da própria criatividade do professor.
Descrição do jogo
O orientador narra uma história e faz com que esta seja acompanhada de
sons e movimentos. Os personagens são representados por objetos sonoros ou
instrumentos musicais que o orientador, junto com os participantes,
movimentam, para que emitam os diferentes sons.
A seguir, acompanhe uma sugestão de história, em que, por exemplo, as
cobras são representadas por tubos de plástico que tenham alguma flexibilidade
e cores diferentes, sendo seus sons feitos com maracas, guizos, reco-recos,
pandeiro; o rio, uma cartolina azul com som feito com papel amassado; o vento,
pode ser feito com apitos e sopros; a ponte, com uma cadeira ou banco; a areia,
uma cartolina bege com som feito com conchas; a árvore pode ser desenhada
em outra cartolina e o som para imitar pássaros ser feito por apitos ou assobios,
sendo, os ventos, sopros; o campo, uma cartolina verde o qual pode ter o som
de uma baqueta de feltro esfregando um prato.
Eu ia andando pela floresta quando encontrei uma cobra amarela (colocar
o tubo plástico que a representa no centro da roda e movimentá-lo enquanto um
participante toca uma maraca imitando seu barulho). De repente surge uma
cobra azul (guizo) e logo adiante encontro uma cobra vermelha (reco-reco).
Vejo que as três cobras começam a conversar (movimentar as três cobras
enquanto participantes fazem o som correspondente a cada uma delas). Até que
delas se aproximou mais uma cobra, verde (pandeiro), e a conversa esquentou
de vez.
Um participante pode ir ao centro movimentar alternadamente as cobras
enquanto os instrumentos tocam os sons correspondentes a elas e seus
movimentos.
Continuei o meu caminho até chegar ao rio (papel amassado para imitar
a água do rio e sons de boca do tipo “glub, glub”, para os peixes), entrei
dentro do rio e fui brincando com a água. Neste rio havia uma ponte onde batia
muito vento (apitos e boca). Logo após a ponte encontrei lindas dunas de areia
(conchinhas batendo na mão) e nelas brinquei até me cansar.
(Um participante pode ir ao centro e movimentar todos os personagens,
provocando a execução dos instrumentos em volta). Seguindo meu passeio
encontrei uma árvore (apitos para os pássaros e sopros para imitar o barulho
do vento), e atrás dela havia um lindo campo muito verde (prato com baqueta
de feltro). E aí fiquei por muito tempo a andar, correr e brincar.
Jogo 32
Refazendo os Sons da Cidade
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos ligados à exploração
sonora e à composição:
- Conceito de música.
- Reflexões sobre música.
- Ruído e música.
Objetivos
- Refletir sobre o que é música, seus conceitos tradicionais e os atuais.
- Discutir a posição do ruído na vida cotidiana e o seu uso na música.
- Estabelecer pontos de aproximação, definir concepções, estabelecer
comparações entre a própria produção musical e os sons de origem (da cidade),
sempre com vistas à reflexão do sentido musical, seus limites e abrangências.
Disposição dos participantes: primeiro sentados sozinhos e depois em
grupos.
Recursos necessários: folha de papel e lápis.
Descrição do jogo
Todos devem estar em silêncio, com uma folha de papel na mão para
escreverem. Ao ouvirem os ruídos que acontecem à sua volta (carros que
passam, vozes, batidas, latidos etc.), vão escrevendo-os em forma de partitura
gráfica, durante alguns minutos. Após, reúnem-se em grupos e comparam seus
desenhos, a partir dos quais elaboram uma partitura musical e a sonorizam vocal
ou instrumentalmente, reproduzindo os sons ouvidos à sua volta, mas agora com
uma intenção musical, com nuanças, dinâmicas, sobreposição de sons etc. Cada
grupo apresenta o resultado de seu trabalho aos outros para que sejam
comparadas e analisadas quanto aos elementos musicais usados, a maneira
como cada qual foi concebida etc.
Música para ouvir
Estudo de estradas de ferro [Nota 32], de Schaeffer.
Sobre a obra musical
Estudo de estradas de ferro faz parte dos cinco estudos que compuseram
o Concerto de ruídos, que foi o primeiro concerto de música concreta, difundido
pela Rádio Parisiense, em 5 de outubro de 1948. A sica concreta partia da
gravação de sons existentes no mundo, para depois transformá-los em música
por meio de aparelhos eletrônicos. Seu criador foi o francês Pierre Schaeffer
(1949-1995).
Para esse concerto, Schaeffer preparou um texto apontando para a
importância de se adotar os ruídos como material sonoro disponível para a
criação musical.
Por se tratar de uma das primeiras composições de música concreta,
tempo em que os equipamentos eram ainda bastante rudimentares se
comparados aos que se tem atualmente, é possível discernir com certa facilidade
a origem dos sons que aparecem no decorrer da música, entre eles, o de trem
em marcha.
Relação com os jogos
A relação é bastante próxima, tendo em vista que, tanto no jogo descrito
quanto na peça de Schaeffer, trabalha-se com a representação do real, na
tentativa de transformar sons do meio ambiente em música. É uma conduta que,
por um lado, exige ouvidos preparados, mas que também prepara os ouvidos e
abre as percepções para diferentes formas de expressão musical.
Figura 21 Partitura Odisseia doméstica dos sons x um brinquedo,
elaborada por um grupo de alunos
P.124
Jogo 33
Música que vem da natureza
Atividades e conteúdos musicais
Serão trabalhados os seguintes elementos ligados à exploração e à
composição musical:
- Silêncio.
- Percepção de sons naturais.
- Interpretação (sons vocais e instrumentais).
- Composição musical.
- Partitura com grafismos.
Objetivos
- Observar a natureza, tentando uma integração com ela.
- Perceber os sons que emergem da natureza, afinando a escuta para os
sons mais delicados.
- Vivenciar o silêncio.
- Transformar sons naturais em sons vocais com intenções musicais.
Disposição dos participantes: em grupos.
Descrição do jogo
O orientador leva os participantes a um ambiente aberto, de preferência
um bosque ou um jardim, para que ouçam o que acontece sonoramente nele.
Tomam nota dos ruídos existentes, como o vento batendo nas árvores, o canto
dos pássaros, o pisar na grama etc. Com esses elementos, fazem uma
composição musical (imitando os sons vocal ou instrumentalmente) e elaboram
partitura com grafismos.
Figura 22 - Partitura elaborada com base nos elementos da natureza
Fonte: Elaborada com base em Rivais, 1981.
P.125
Música para ouvir
Symphonie au bord d’un paysage [Nota 33], de Lejeune.
Observação
É necessário que os participantes se concentrem em silêncio para a
percepção dos sons da natureza. A caminhada individual, cada um seguindo seu
caminho nessa busca, é recomendável.
Sobre a obra musical
Esse exemplo de música eletroacústica tenta representar,
melodiosamente, imagens provenientes da paisagem natural, da realidade.
São alusões que o compositor faz a partir de alguns materiais sonoros que
ele mesmo classificou em:
- Máquinas, ferramentas, mecanismos e ritmos aparentados;
- Sinos;
- Fanfarras e elementos melódicos derivados;
- Presença humana: vozes, passos, rumores etc.;
- Cantos e gritos de animais (pássaros, cães, galinhas, insetos etc.);
- Elementos: murmúrios, grãos, crepitação, sopros etc.
Relação com os jogos
Symphonie au bord d’un paysage é um bom exemplo de transformação,
em música, de uma situação real, no caso, uma paisagem. Assim como nos três
últimos jogos descritos, em que se propõe “sonorizar” a natureza e o ambiente
em que se vive de modo espontâneo e improvisado, essa peça sugere a
transformação dessa mesma natureza em música, de maneira elaborada e com
alta qualidade técnica e musical.
P.127
Comentário final
As ideias pedagógico-musicais desenvolvidas nas últimas décadas
combinam dois aspectos: a metodologia do ensino de sica e o conteúdo
trabalhado.
Elas suscitam uma mudança, em que o importante reside em despertar
habilidades e condutas no indivíduo, como também sensibilizá-lo para a música
por meio do fazer e da criação. O enfoque, dado na pessoa, prevê não somente
a aquisição de conhecimentos e o aprendizado de uma técnica, mas a
sensibilização à música e ao crescimento pessoal por meio da expressão
espontânea.
Essas propostas estão estruturadas em cima da música contemporânea,
pois acredita-se que ela traz consigo elementos que facilitam o trabalho criativo,
além de ser a estética musical da atualidade.
Antes de tudo, é necessário fazer nascer a música interiormente na
pessoa, para depois se conhecer a teoria e a técnica. O desenvolvimento do
gosto pela descoberta do mundo sonoro e pela pesquisa por meio do exercício
cotidiano da exploração do som é fundamental. Busca-se não somente
considerar as características inerentes aos alunos, mas atender os seus
desejos e interesses, de modo a organizar o trabalho musical sobre eles.
O estímulo à criação, em todas as etapas do processo, é um ponto a ser
considerado com primazia, a partir da utilização de jogos como meio pedagógico.
O aspecto criativo e lúdico deve, assim, propiciar prazer em fazer música.
P.128
Igualmente se aponta como importante o hábito da escuta consciente e
crítica, e que se estenda o repertório ouvido a todo tipo de expressão possível.
Quanto aos conteúdos abordados, é imprescindível ampliar a visão e os
conceitos musicais com o estudo das dimensões do som em toda sua extensão,
o trabalho com diferentes corpos sonoros, o uso, na medida do possível, de
novas tecnologias, a invenção de grafismos, a importância do gesto na
expressão musical, que sejam propiciadas reflexões sobre as atuais concepções
de tempo, do silêncio, da melodia ou da forma e que se condições ao
estudante do contato com todo tipo de repertório.
A metodologia aqui apresentada, de vários jogos baseados no gesto, no
movimento corporal e na voz, e envolvendo a música contemporânea, é
resultado de reflexões e práticas de acordo com as novas tendências
pedagógicas que priorizam o trabalho criativo e a prática musical em todos os
níveis da aprendizagem.
A criação e a utilização do gesto podem ser um meio de expressão, como
também um modo de formar as bases do ensino da música, combinando vários
fatores: o jogo, que é a estratégia e o meio para fazer sica; a prática de uma
pesquisa constante e da exploração do som em toda sua extensão; o gesto,
como um parceiro da expressão vocal e/ou instrumental.
As ideias lançadas aqui o estão absolutamente fechadas em si. São,
ao contrário, ponto de partida. O interessado em trabalhar pode, a partir destes
jogos, inventar outros de acordo com seus propósitos e programas e fazer
dessas atividades fonte de inspiração para o desenvolvimento de um trabalho
amplo e rico em conteúdos.
Essa proposta não se como limitativa nem restritiva. Os jogos são
indicados para fazer parte de um ensino musical amplo, que envolva tanto os
novos elementos característicos da música contemporânea, como as noções da
teoria musical
P.129
tradicional, pois estas também constroem uma base importante para a formação
do músico. O ideal é que essas sugestões se adaptem e se contextualizem
dentro do cotidiano do ensino da música.
Ela tem como vantagem não se prender à rigidez, muitas vezes requerida
pelo ensino da música tradicional, uma vez que se vive um processo de
constante criação. Além disso, muitas das características da música
contemporânea, como o trabalho com os ruídos, a notação por grafismos ou a
liberdade formal, propiciam e facilitam a expressão espontânea da criança e, por
conseguinte, a sua sensibilização.
Além do mais, esses jogos são viáveis para a realidade brasileira e não
requerem a utilização de qualquer tipo de material sofisticado, de difícil
aquisição. Ao contrário, trabalha-se com o corpo, com a voz, com pequenos
objetos sonoros, com diversos materiais e papéis.
Por outro lado, exige-se do orientador sensibilidade e percepção. Assim,
quanto maior a vivência musical e o domínio da técnica, maior se o
desenvolvimento do potencial contido nos jogos. Ou seja, o sucesso da
aplicação dos jogos depende da capacidade do orientador em perceber
seus fundamentos, saber transmitir, observar a reação dos participantes e
aproveitar as respostas para interagir e ir além com o grupo, na busca de
novos caminhos.
Pelo fato de trafegar por diferentes modos de expressão, esta
metodologia pode comunicar-se com outras artes. Na dança, pelo seu trabalho
corporal e de movimento, no teatro, pela integração que pode ser feita entre o
som e o texto, nas artes plásticas, pela utilização do desenho e de grafismos.
Mesmo fora das artes, na fase de alfabetização, por exemplo, pode auxiliar no
aprimoramento e no afinamento de gestos, preparando a criança para a escrita.
Este caráter interdisciplinar lhe confere amplitude, podendo propiciar
integração com diversas outras áreas.
P.131
Discografia sugerida
BAYLE, François. Trois reves
d’oiseaux & Mimameta. Paris: INA-
GRM, 1997. 1 CD.
BERBERIAN, Cathy. MagnifiCathy:
the many voices of Cathy Berberian.
Piano e cembalo: Bruno Canino.
Mainz: Wergo, 1988.
BERIO, Luciano. Sequenza I-XIV for
solo instruments. Germany: Naxos,
2006.
LEJEUNE, Jacques. Symphonie au
bord d’un paysage. France:
Harmonia Mundi, 1981. 1 disco.
LIGETI, György. Lux Aeterna. Guy
Reibel; Groupe Vocal de France.
França: EM1, 1990.
_____. Réquiem, Aventures,
Nouvelles aventures. Solistas:
Gertie Charlent; Marie-Therése Cahn;
William Pearso; Internationales
Kammerensemble Darmstadt;
regencia: Bruno Maderna. Mainz:
Wergo, 1985? 1 CD.
LINDBERG, Magnus. Action-
Situation-Signification. Toimii
Ensemble; Swedish Radio Synphony
Orchestra; regência: Esa-Pekka
Salonen. Finlândia: F. Records, 1988.
MELLO, Chico. Upitu. Curitiba: [s.n.],
1987. 1 CD.
PÄRT, Arvo. Tabula rasa. Berlin
Philharmonic
Orchestra; Lithuanian Chamber
Orchestra. München: ECM, 1984. 1
CD.
REICH, Steve. Music for 18
musicians. Solistas: Shem Guibbory;
Gary Schal; David Van Tieghem; Ken
Ishi; Bob Becker; Glen Velez;
Elizabeth Arnold; Russ Hartenberg;
Virgil Blackwell; Rebecca Armstrong;
James Preiss; Richard Cohén; Nurit
Tilles; Steve Chambers; Jay Clayton;
Larry Karush; Steve Reich; Pamela
Fraley. Hanover: PolyGram, 1978. 1
CD.
SCHAEFFER, Pierre. Études aux
chemins de fer. In:_. L’ oeuvre
musicale.
Paris: INA-GRM. 1 CD. v. 1: Les
incunables 1940-1950.
STOCKHAUSEN, Karlheinz.
Stimmung (singcircle versión).
Solistas: Suzanne Flowers; Penelope
Wansley-Clark; Nancy Long; Rogers
Covey-cruump; Paul Hillier; regencia:
Gregory Rose. Londres: Hyperion
records, 1986. 1 CD.
SUYING, Zhang. Centennial
classics: instrumental music. China:
China Records Corporation, 2004.
Faixa 9. v. 1: Bai Nian Chang Pian Min
Zu Qi Yue Ming Jia Ming Qu Jing Dian
Yi.
XENAKIS, lannis. Nomos Gama.
Orchestre Philarmonique de l’ORTF;
regencia: Charles Bruck. Paris: Erato,
1981. 1 Disco.
P.133
Referências
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LIGETI, György. Encarte. In: _____. Réquiem, Aventures, Nouvelles
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Internationales Kammerensemble Darmstadt. Regência: Bruno Maderna. Mainz:
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Disponível em: <http://www.bernadetezagonel.com.
br/pacademicas/sequenza.pdf>. Acesso em: 16 nov. 2009.
ZAGONEL, Bernadete; CHIAMULERA, Salete (Org.). Introdução à estética e à
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ZAGONEL, Bernadete et al. Musicalizando crianças. São Paulo: Ática, 1989.
ZAMPRONHA, Edson. Notação, representação e composição: um novo
paradigma da escritura musical. São Paulo: Annablume; Ed. da Fapesp, 2000.
P.136
Nota sobre a autora
Bernadete é doutora em Música pela Universidade Sorbonne (Université
de Paris IV) e mestre em Educação pela Universidade Federal do Para
(UFPR). É também diplomada em Estudos Avançados em Música e Musicologia
do Século XX pela École des Hautes Études/Institut de Recherche et
Coordination Acoustique/Musique (Ircam), Paris; em Estudos Avançados em
Musicologia pela Sorbonne, Paris, e em Licenciatura em Música pela Escola de
Música e Belas Artes do Paraná (Embap), na qual também cursou Piano.
Durante sua estada em Paris, dedicou-se à composição de música
eletroacústica e frequentou estágios no Atelier des Enfants do Centro Georges
Pompidou, no Groupe de Recherches Musicales (GRM), no Ircam, na
Associação Orff e no Instituto Martenot.
Na UFPR, criou e implantou os cursos de Graduação em Música
(Produção Sonora e Educação Musical); foi chefe do Departamento de Artes;
coordenadora do curso de Educação Artística; presidente do Conselho de
Curadores; membro do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Сере);
professora titular de Educação Musical.
Foi também professora titular da Embap, atuando tanto no curso
preparatório, para crianças, como na Licenciatura e Bacharelado em Música.
Foi membro da diretoria da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-
graduação em Música (Anppom) e do Conselho Editorial da Associação
Brasileira de Educação Musical. Presidiu о IX Encontro Nacional da Associação
Brasileira de Educação Musical (Abem) e о V Encontro Internacional de
Computação e Música, na Pontifícia Universidade Católica (PUCPR). Foi
pesquisadora do CNPq e professora visitante na Universidade Federal da Bahia,
na qual atuou no Programa de Pós-Graduação em Música - mestrado e
doutorado.
Atualmente é coordenadora e professora do curso de pós-graduação a
distância em Metodologia do Ensino de Artes da Faculdade Internacional de
Curitiba (Facinter) e professora dos cursos de pós-graduação em Artes e em
Música do IBPEX.
Tem diversos artigos publicados em revistas científicas e os seguintes
livros sobre música e educação musical: Introdução à estética e à composição
musical de Koellreutter; Musicalizando crianças; O que é o gesto musical; Arte
na educação escolar; Pausa para ouvir música e Avaliação da aprendizagem em
artes.
p. Contracapa
Este livro é dedicado especialmente aos professores que desejam
trabalhar a música na escola de forma criativa, simples e alegre.
Aqui, você encontrará sugestões de atividades práticas e apropriadas
para o ensino da música na escola, traduzidas em jogos baseados
principalmente na voz, no gesto corporal, no movimento e na criação, sempre
dentro das características da música contemporânea, que traz consigo
elementos que facilitam o trabalho criativo.
Certamente, o profissional de educação se enriquecerá com esta obra que,
além de retratar os elementos presentes em um plano de aula, propõe uma
mudança de postura e de paradigma ante o ensino de música na sala de aula.
Notas
Nota 1. ZAGONEL, Bernadete. La formation musicale des enfants et la
musique contemporaine. 449 f. Thèse (Doctorat de Musicologie) - Université
de Paris IV, Sorbonne, Paris, 1994. [Voltar]
Nota 2. Música tonal: baseada na tonalidade, um sistema de relações
entre as notas cuja sequência forma uma escala maior ou menor, usada desde
o século XVII até os dias atuais. [Voltar]
Nota 3. Frase musical: “Termo usado para pequenas unidades musicais
de tamanhos variados” (Sadie, 1994, p. 343). [Voltar]
Nota 4. As representações e desenhos, apresentados para ilustrar esse e
os demais jogos, foram coletados pela autora em oficinas, cursos e aulas ao
longo de 20 anos de trabalho com o tema. [Voltar]
Nota 5. A quantidade de pessoas por grupo pode variar conforme as
características e a dinâmica de cada classe, mas a experiência tem mostrado
que cinco pessoas é um número adequado e produtivo para esse tipo de
exercício. [Voltar]
Nota 6. PÄRT, Arvo. Tabula rasa. Berlin Philharmonic Orchestra;
Lithuanian Chamber Orchestra. München: ECM, 1084. 1 CD. [Voltar]
Nota 7. BAYLE, François. Trois rêves d'oiseaux & Mimameta. Paris:
INA-GRM, 1997. 1 CD. [Voltar]
Nota 8. SUYING, Zhang. Deep Night (Ye Shen Chen). In: Centennial
Classics: Instrumental Music - v. 1 (Bai Nian Chang Pian Min Zu Qi Yue Ming Jia
Ming Qu Jing Dian Yi). China: China Records Corporation, 2004. Faixa 9. [Voltar]
Nota 9. LINDBERG, Magnus. Fire. In: . Action-Situation-Signification.
Toimii Ensemble, Swedish Radio Synphony Orchestra; Regência: Esa-Pekka
Salonen. Finlândia: F. Records. 1988. Faixa 6. [Voltar]
Nota 10. Devido à característica deste exercício, é importante que, na
medida do possível, os grupos tenham igualmente o mesmo mero de
integrantes, para uma melhor realização da parte final do jogo. [Voltar]
Nota 11. LIGETI, György. Nouvelles aventures. In:_. Réquiem,
Aventures, Nouvelles aventures. Solistas: Gertie Charlent, Marie-Therèse
Cahn, William Pearso; Intemationales Kammerensemble Darmstadt, Regência:
Bruno Maderna. Mainz. Wergo, 1985.1 CD. Faixa 3. [Voltar]
Nota 12. Uma linha sonora, como o próprio nome diz, refere-se à emissão
de um som único. uma trama surge da aglomeração de vários sons
simultâneos. Um paralelo desses dois sons pode ser feito com a linha (de
Costura) e o tecido (para fazer a roupa). [Voltar]
Nota 13. BERIO, Luciano. Sequenza III. In: . Sequenza III & VII. Soprano:
Cathy Berberian; clarinete: Virgil Blackwell; violino: Romauld Tecco; viola de
arco: Kaaren Philips; violoncello Fred Sherry; harpa: Kathleen Bride; piano:
Dennis Russel Davies. Londres: Philips Classics, 1990. 1 CD. Faixa 2. [Voltar]
Nota 14. Uma análise mais detalhada desta obra pode ser encontrada em:
ZAGONEL, Bernadete. Um estudo sobre a Sequenza III, de Berio: para uma
escuta consciente em sala de aula. Revista da Abem, Porto Alegre, n. 4, p. 37-
51, set. 1997. Disponível em: <http://www.bernadetezagonel.com.
br/pacademicas/sequenza.pdf>. Acesso em: 16 nov. 2009. [Voltar]
Nota 15. XENAKIS, lannis. Nomos Gama. Orchestre Philarmonique de
l’ORTF; regência: Charles Bruck. Paris: Erato, 1981. 1 Disco. [Voltar]
Nota 16. Pulsação: também chamada de tempo da música, é o "pulso
subjacente à música" (Sadie, 1994. p. 939). Por exemplo, quando, ao ouvir uma
música, a acompanhamos com batidas regulares dos pés - ato que fazemos,
normalmente, de maneira intuitiva estamos batendo a pulsação dessa música.
[Voltar]
Nota 17. MELLO, Chico. Upitu. Curitiba: [s.n.]. 1987. 1 CD. Música
disponível em: <http://www.myspace.com/chicomello>. [Voltar]
Nota 18. Glissando: "vem da palavra francesa glisser, que significa
deslizar. Em música, trata-se de um efeito em que são tocadas várias notas em
sequência de maneira muito rápida, ‘deslizando’ sobre elas." (Zagonel, 2008, p.
154). [Voltar]
Nota 19. Crescendo e decrescendo: usam-se essas expressões, do
italiano, para se referir ao aumento ou diminuição de intensidade de um som,
quando esta alteração se faz de maneira paulatina. Crescendo: o som que
começa fraco e vai aumentando para o forte. Decrescendo: o som que começa
forte e vai diminuindo para o fraco. [Voltar]
Nota 20. ppp: sinal usado para designar o pianíssimo, que é a indicação
de intensidade muito fraca. [Voltar]
Nota 21. fff: sinal usado para designar o fortíssimo, que é a indicação de
intensidade muito forte. [Voltar]
Nota 22 Densidade refere-se à quantidade de sons emitidos
simultaneamente. Ela é expressa pela maior ou menor quantidade de elementos
aglomerados (Zagonel, 2008, p. 153) [Voltar]
Nota 23. DAO, Nguyen Thiên. Phù Dông. In:_. Me Viêtnam/Phù
Dông/Gió Dông. France: Erato, 1973. 1 disco. Lado A. [Voltar]
Nota 24. LIGETI. György. Lux Aeterna. Guy Reibel; Groupe Vocal de
France. França: EM1, 1990 [Voltar]
Nota 25. STOCKHAUSEN, Karlheinz, Stimmung (singcircle version).
Solistas: Suzanne Flowers, Penelope Wansley-Clark, Nancy Long, Rogers
Covey-cruump, Gregroy Rose, Paul Hillier; regência: Gregory Rose. Londres:
Hyperion records, 1986. 1 CD. [Voltar]
Nota 26. Aconselha-se usar diferentes tipos de papéis como sulfite,
celofane etc., para se obter sonoridades diversas. [Voltar]
Nota 27. Se os participantes forem jovens ou adultos, cada grupo pode
trabalhar de forma independente, mas, se forem crianças pequenas, todos
podem fazer juntos uma mesma partitura, com a orientação, passo a passo do
professor. [Voltar]
Nota 28. Forma musical: segundo o Dicionário Grove de Música, é
“estrutura, formato ou princípio organizador da sica. Tem a ver com a
organização dos elementos em uma peça musical, para tor-la coerente ao
ouvinte, que pode ser capaz de reconhecer, p. ex., um tema ouvido antes na
mesma peça [...]” (Sadie, 1994, p. 337). Costumam ser usadas letras para
identificar as partes da música. Assim, a forma AB, por exemplo, significa que a
música tem duas partes diferentes, enquanto a forma ABA indica que a música
tem uma parte A seguida de outra B, que e diferente, e repete a pane A. [Voltar]
Nota 29. BERBERIAN. Cathy. Stripsody. In: . MagnifiCathy: the many
voices of Cathy Berberian. Piano e cembalo: Bruno Canino. Mainz: Wergo, 1988.
Faixa 11. [Voltar]
Nota 30. BERBERIAN, Cathy. Stripsody. New York: С. F. Peters, 1966.
16 p. Solo voice. [Voltar]
Nota 31. O termo paisagem sonora, traduzido do inglês soundscape, foi
inventado pelo compositor e pesquisador canadense Murray Schafer, a partir de
seus estudos sobre o ambiente acústico no mundo. No seu livro A afinação do
mundo (2001), ele apresenta com detalhes as pesquisas realizadas, fazendo a
descrição e análise da paisagem sonora, abordando igualmente suas relações
com a música. [Voltar]
Nota 32. SCHAEFFER, Pierre. Études aux chemins de fer In: _____.
Loeuvre musicale. Paris: INA-GRM. 1 CD. Faixa 1. v. 1: Les incunables 1940-
1950. [Voltar]
Nota 33. LEJEUNE, Jacques. Symphonie au bord d’un paysage.
France: Harmonia Mundi, 1981. 1 disco. [Voltar]