Título: Prescrição e dosagem de exercícios em
voz e funções orofaciais
Autor:
Priscila Oliveira, Rebeca Vila Nova de Araújo Torres, Ana Cristina Côrtes Gama,
Andréa Rodrigues Motta, José Ribamar do Nascimento Junior e Giorvan Ânderson
dos Santos Alves
Este material foi adaptado pelo Laboratório de
Acessibilidade da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em conformidade
com a Lei 9.610 de 19/02/1998, não podendo ser reproduzido, modificado e
utilizado com fins comerciais.
Adaptado por: Milena Brito
Adaptado em: setembro de 2024.
Padrão vigente a partir de janeiro de 2024.
Referência:
OLIVEIRA, Priscila; TORRES, Rebeca Vila Nova de Araújo; GAMA, Ana Cristina
Côrtes; MOTTA, Andréa Rodrigues; JUNIOR NASCIMENTO, José Ribamar do; ALVES,
Giorvan Ânderson dos Santos. Prescrição e dosagem de exercícios em voz e
funções orofaciais. In: MAGALHÃES,
Hipólito; LOPES, Leonardo; BENEVIDES, Silvia. Intervenção
Fonoaudiológica em Voz e Funções Orofaciais. Rio de Janeiro: Thieme
Revinter, 2024. p. 37-71.
P. 37
PRESCRIÇÃO
E DOSAGEM DE EXERCÍCIOS EM VOZ E FUNÇÕES OROFACIAIS
Priscila Oliveira ■ Rebeca Vila Nova
de Araújo Torres Ana Cristina Côrtes Gama ■ Andréa Rodrigues Motta José
Ribamar do Nascimento Junior ■ Giorvan Ânderson dos Santos Alves
OBJETIVOS
DE APRENDIZAGEM
§ Definir
prescrição e dosagem e suas aplicações no contexto da reabilitação em
Fonoaudiologia;
§ Identificar
e explicar os aspectos teóricos importantes para a prescrição e dosagem de
exercícios na intervenção dos aspectos relacionados à voz e às funções orofaciais;
§ Apresentar
evidências científicas que explorem os parâmetros de prescrição na avaliação
dos efeitos das intervenções nas áreas de Voz e Funções Orofaciais;
§ Sumarizar
estratégias que auxiliem a tomada de decisão na prescrição e dosagem de
exercícios em voz e funções orofaciais.
COMENTÁRIOS
INICIAIS
Há um forte consenso que
evidência científica, eficiência, eficácia e segurança são conceitos
importantes e que determinam uma melhor tomada de decisão no contexto da
prática clínica do cuidado em saúde, sendo esta um processo de decisão
colaborativa Entre pacientes e equipe.1
No que se refere à evidência
científica e à expertise clínica, destaca-se que apenas de- terminar a
estratégia não é suficiente para conferir uma resposta terapêutica eficaz. Além
da prescrição da conduta a ser adotada, é preciso determinar adequadamente a
dose dos exercícios a serem executados, pois a análise da conduta prescrita,
associada ao resultado obtido, é essencial para a compreensão sobre a eficácia
do tratamento ofertado.2
No entanto, parâmetros de dosimetria não são bem definidos em todas as áreas da
reabilitação, e estabelecer a dosagem adequada para os diversos programas
terapêuticos é tarefa especialmente complexa e desafiadora para clínicos em
geral.
Algumas variáveis que podem
interferir diretamente no resultado esperado precisam ser levadas em
consideração quando se trata de dose terapêutica: doença de base, condições
clínicas, idade, adesão ao tratamento e a experiência do profissional que está
envolvido nesse processo. É importante que a construção de prescrições e a
determinação da dosagem dos exercícios levem em consideração a gravidade da
disfunção e a capacidade de execução. Assim, melhores resultados serão observados,
minimizando o tempo de
P. 38
permanência no tratamento e devolvendo maiores
habilidades funcionais e capacidade de retorno para a realização das atividades
de vida diária. Nesse contexto, o processo de tomada de decisão para a
prescrição de exercícios deve também ser colaborativo, em que a participação do
paciente possa contribuir para a escolha das melhores opções clínicas
disponíveis para o caso.2-4
O processo de reabilitação
fonoaudiológica no âmbito dos distúrbios da voz e das funções orofaciais
apoia-se na aplicação de diversos exercícios visando à recuperação da
funcionalidade alterada ou à habilitação do músculo ou da estrutura-alvo para
uma nova função.
No campo das disfonias e do
treinamento da voz, os exercícios vocais constituem-se os recursos básicos de
qualquer intervenção, representam quase ¾ das sessões terapêuticas e
podem ser empregados em uma variedade de casos, com o intuito de promover
ajustes respiratórios, laríngeos, ressonantais e/ou articulatórios.5 7
Quando o objetivo é
relacionado ao restabelecimento das funções orofaciais, duas linhas de atuação
direcionam a intervenção: a mioterapia, que visa por meio de exercícios
específicos modificar o comportamento muscular; e a terapia miofuncional, que
trabalha diretamente com as funções, modificando consequentemente a musculatura,
objetivando melhorar os padrões das funções orofaciais alteradas.8
A prescrição de exercícios
constitui-se um processo de tomada de decisão, em que o clínico recomenda a
realização de uma série de condutas, de forma sistemática e individualizada,
levando em consideração o objetivo do tratamento e as preferências de cada
paciente.9 Nesse
processo de tomada de decisão, é importante que se vise a obter os maiores
benefícios, com os menores riscos e, dessa forma, especificar os aspectos
quantitativos (dose) e qualitativos (execução) da conduta recomendada é aspecto
essencial. Assim, a prescrição de exercícios deve envolver o tipo de exercício
em si, a frequência, a duração e a intensidade do treinamento.10
Apesar do importante papel que
a prescrição de exercícios tem em nossas intervenções, a literatura
fonoaudiológica ainda necessita avançar significativamente na discussão e
estabelecimento de critérios específicos que direcionam a tomada de decisão do
profissional diante das condutas a serem ministradas com seu paciente. O
caminho a ser percorrido até a definição do exercício a ser utilizado e dos
critérios para sua execução envolve a habilidade de fazer julgamentos clínicos
corretos, solucionar problemas importantes para o paciente e aplicar o
conhecimento das relações entre patologia, comprometimentos, limitações
funcionais e incapacidade mediante cada fase do processo terapêutico.11
Na ciência do exercício,
preconiza-se que a prescrição dos exercícios musculares deve considerar
características individuais do sujeito de forma a promover os efeitos esperados
a partir da manipulação de parâmetros de frequência, duração, intensidade e
progressão.2,11,13 Esse pressuposto
pode ser aplicado no contexto da terapia fonoaudiológica, considerando ainda a
própria sequência dos exercícios selecionados, o número de séries e o período
de descanso entre elas.14
Em geral, os programas de
treinamento muscular são diferentes a depender do objetivo: força, potência,
resistência e flexibilidade. É importante compreender que diferentes grupos
musculares não respondem na mesma taxa e magnitude quando submetidos a pro
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gramas de treinamentos idênticos. 15 Sendo assim, ainda
que as pesquisas avancem, não é de se esperar que tenhamos programas de
prescrição únicos na Fonoaudiologia, mas sim um raciocínio comum em que
diversas variáveis precisam ser consideradas.
O termo “exercício”,
particularmente no contexto da atividade física, pode ser defini- do como uma
atividade programada, composta por movimentos executados de maneira planejada,
com objetivo específico de: tratar ou prevenir comprometimentos; melhorar,
restaurar ou aumentar a função física; evitar ou reduzir fatores de risco;
otimizar o estado de saúde e sensação de bem-estar.10, 11
Para prescrever exercícios
adequadamente, um dos aspectos mais importantes é um conhecimento sobre os
tipos de fibras da musculatura esquelética e sua fisiologia. A demanda
funcional determina a diferenciação muscular, assim, o papel primário de um
músculo, geralmente, dita o tipo de fibra predominante: 16 tipo I, tipo lia ou
tipo Ilb. Fibras do tipo I são as fibras predominantes nos músculos que são
demandados para resistência (postura), já as do tipo II são as fibras
predominantes nos músculos que são demandados para força.16-18 Por terem
características diferentes responderão de maneira distinta ao treinamento.
Embora um referencial
específico da Fonoaudiologia sobre os princípios de treinamento muscular ainda
seja escasso, na atualidade, muito conhecimento da Fisiologia do Exercício se
aplica na terapia Fonoaudiológica, em virtude da similaridade das características
dos músculos do corpo e da cabeça/pescoço. Tais similaridades incluem os tipos
de fibras musculares, aspectos metabólicos, densidade capilar e junções neuromusculares.
19 De acordo com os
princípios teóricos da ciência do exercício, o músculo esquelético se adapta a
condições de uso, desuso e destreinamento. Os diferentes tipos de exercícios
físicos promovem adaptações específicas no tecido muscular e ajustes bioenergéticos,
além de mudanças morfológicas e neurológicas, que levam a um melhor desempenho
físico.20
A maioria das atividades
funcionais do nosso corpo é considerada submáxima. No entanto, caso a
musculatura esteja com a força diminuída, haverá um esforço excessivo para
garantir o desempenho funcional.17 Assim, uma grande parte da prescrição de exercícios
na Fonoaudiologia envolve treino de força e resistência. Dessa maneira o
objetivo é melhorar a reserva funcional muscular e o recrutamento de unidades
motoras, melhorando, consequentemente, o desempenho funcional.17
Os músculos se adaptam à
demanda imposta pelo processo de neuroplasticidade para manter o nível de
homeostase ou estado estável fisiológico. O princípio da adaptação específica à
demanda imposta (AEDI) ocorre quando o corpo é colocado frente a alguma forma
de estresse, levando-o a adaptações específicas14 e promovendo mais resistência e melhor condicionamento.
As adaptações neurais são as
primeiras que ocorrem. Equivalem a, aproximadamente, 80% das mudanças de força
que surgem nas primeiras quatro ou cinco semanas do início do treinamento
muscular, em consequência do refinamento da habilidade do sistema nervoso em
ativar adequadamente os grupos musculares envolvidos.20 Em
consequência das adaptações neurais, ocorrerão as adaptações metabólicas: as
células necessitarão de maior suprimento sanguíneo e nutricional, promovendo uma
produção local mais rápida de ATP, potencializando a eficiência muscular.21 Por último,
ocorrem as adaptações mor
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fológicas, que se processam mediante à
conversão de fibras musculares rápidas em fibras lentas, que são mais
resistentes à fadiga e mais eficientes. A adaptação que ocorrerá nas fibras
musculares é consequência do aumento da quantidade de proteínas específicas,
seja pelos exercícios de resistência, seja pelos exercícios de força.10
Os exercícios de resistência
ou de baixa intensidade promovem um maior recrutamento de energia a partir do
metabolismo aeróbico, além de estimular as fibras musculares a desenvolverem
mais mitocôndrias, aumentando o tamanho daquelas já existentes e proporcionando
uma maior densidade mitocondrial e enzimas oxidativas nas fibras musculares
(predominantemente fibras do tipo I).10 Outrossim, eleva a síntese de ATP pela via
mitocondrial e amplia a resistência à fadiga muscular nos exercícios. Estes
exercícios favorecem a melhora da resistência muscular, que se difere da
resistência cardiorrespiratória. Enquanto a resistência muscular refere-se à
capacidade de um músculo ou grupo de músculos de se envolver em atividade
sustentada, de alta intensidade ou estática, a resistência cardiorrespiratória
é a capacidade de sustentar exercícios de longa duração.21
O treinamento de força ou
exercícios de alta intensidade, por sua vez, promove um maior recrutamento de
energia a partir do metabolismo anaeróbico, aumenta a área de secção
transversal do músculo esquelético (hipertrofia) por meio de microlesões,
modifica as características contráteis das fibras musculares (transição das
fibras dos tipos I, IIx e IIb para o tipo lIa), expande o recrutamento, o tempo
e a frequência de disparo das unidades motoras musculares em atividade
(alteração neural), além de ampliar o desenvolvimento da força muscular.22 Dessa forma, o
objetivo do condicionamento anaeróbico é facilitar a atividade de alta
intensidade com rápida recuperação entre cada sessão de exercício e compensar a
fadiga, sem diminuir o desempenho.20
Qualquer programa de
treinamento muscular deve levar em consideração alguns princípios básicos para
a garantia de obtenção de resultados positivos. Alguns comentários breves serão
feitos a seguir sobre alguns desses princípios, com o intuito de fundamentar
melhor a tomada de decisão quando se deseja prescrever exercícios vocais e
miofuncionais no âmbito da clínica fonoaudiológica.
Um princípio importante e até
mesmo intuitivo do treinamento muscular é o da especificidade do grupo
muscular, ou seja, os exercícios de um programa devem ser especificamente
escolhidos para cada grupo muscular para o qual se deseja o aumento de força.15 Isso porque os
ganhos de força são altamente específicos aos padrões de movimento: quanto mais
próximo o padrão de movimento for do desempenho real, maior será o benefício do
treinamento.15,23 Isso significa que
um programa de treinamento de força deve usar exercícios que não apenas visam
aos músculos específicos que apresentam alteração, mas também que incorporem movimentos
muito semelhantes aos usados durante a função-alvo.23
No contexto da especificidade,
é preciso que se considere ainda a vertente da ação muscular, segundo a qual
os ganhos de força são, em parte, específicos ao tipo de ação muscular
utilizado no treinamento.15,
23 Nesse sentido,
será importante definir o tipo de ativação muscular a ser trabalhada:24 estática
(isométrica) ou dinâmica (isotônica) concêntrica ou excêntrica.
Há uma hierarquia a ser
observada na prescrição: a força em uma ação isométrica máxima é maior que em
uma concêntrica máxima em qualquer velocidade de movimenta já a força em uma
ação isométrica máxima é menor que em uma excêntrica máxima em qualquer
velocidade de movimento.15
Entretanto, se a meta terapêutica a ser alcançada envolver a precisão dos
movimentos, o melhor é optar por um exercício que requeira uma ação isotônica
concêntrica. 25
No que se refere à velocidade, os maiores ganhos ocorrem
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na velocidade específica do treinamento, e se o
objetivo for aumentar a força em qualquer velocidade, deve-se optar por uma
velocidade intermediária.15
Outro princípio de treinamento
que precisa ser considerado na prescrição é a sobrecarga progressiva que
pressupõe um aumento contínuo do estresse muscular introduzido gradualmente.15,17,23 Tal sobrecarga
progressiva permite que a estrutura muscular realize novas adaptações, à medida
que a demanda imposta se modifica, contribuindo para a evolução dos objetivos
do treinamento. Há vários métodos para se alcançar a sobrecarga: aumento da
carga (mais comum), aumento do número de repetições ou séries, aumento da
velocidade de execução entre outros.15 É de suma importância que os programas de
manutenção muscular sejam cuidadosamente prescritos para garantir a aplicação
do trabalho muscular adequado. Essa abordagem pode ser vista como uma
explicação fundamental para a capacidade de preservar e consolidar os ganhos
musculares obtidos por meio da terapia fonoaudiológica.
O volume de exercícios, que é
dosado para garantir a adaptação pretendida, pode ser influenciado pela
frequência (n° de sessões de treinamento por semana, mês...), duração da sessão
de treinamento, número de séries, número de repetições, número de exercícios
realizados por sessão.15
É importante que se busque o menor volume que gere ganhos para o paciente,
visto que a adesão ao tratamento está diretamente associada ao volume de
treino.17
Nesse contexto, a intensidade
do treinamento é outro parâmetro a ser incorporado quando se planeja uma
intervenção. O número máximo de repetições por série de um exercício que
resultará em ganho de força varia de exercício para exercício e de grupo
muscular para grupo muscular.15 Embora ainda seja um desafio na prática clínica o
ajuste da carga a ser empregada nos exercícios, é importante compreender que um
grande n° de repetições com carga muito leve resulta em ganho mínimo de força.15 Em alguma
medida, o aumento de carga pode ser considerado como aumento do tempo da
contração isométrica,17
o que facilita o raciocínio clínico para a progressão dos exercícios.
Por fim deve-se considerar
ainda o princípio da reversibilidade, que se refere à capacidade do músculo de
retornar ao estágio de pré-treinamento, quando a prática de exercícios é
interrompida. Neste contexto, as adaptações fisiológicas conquistadas durante o
treinamento podem ser perdidas, caso haja uma interrupção substancial ou uma
redução significativa da atividade.15,17
É importante ressaltar um aspecto favorável à terapia fonoaudiológica: toda
aquisição que se ganha lentamente e em um tempo prolongado mantém-se com mais
facilidade e perde-se com mais lentidão do que as aquisições conseguidas
rapidamente e em um tempo curto.15
É necessário mencionar que tão
importante quanto considerar os princípios de treinamento na prescrição de
exercícios é avaliar a condição do paciente. Quadros de espasticidade e doenças
neuromusculares progressivas, por exemplo, podem apresentar restrições
referentes ao treino de força que devem ser consideradas no planejamento.23 Outro fator
relevante é a idade, pois sabe-se que adaptações musculares ocorrem no processo
normal de envelhecimento, sendo os efeitos da reversibilidade mais rápido nos
idosos.17 Em
outras palavras, o raciocínio clínico deve estar embutido em cada fase do
cuidado com o paciente.
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O tratamento com foco na
habilitação ou reabilitação na esfera da funcionalidade do indivíduo se mantém
em constantes mudanças de acordo com o cenário envolvido. A padronização de
estratégias na reabilitação ainda gera dúvidas para os profissionais, referente
à melhor conduta para tratamento das disfunções, bem como à frequência e
intensidade ideal a ser executada, para o melhor desfecho, minimizando as
sequelas, ampliando os programas terapêuticos e maximizando o ganho das
habilidades funcionais.
A construção de programas
terapêuticos tem como objetivo individualizar o que será prestado com foco na
necessidade do indivíduo, manipulando e personalizando os mecanismos de
intervenção e priorizando as melhores estratégias para visar ao melhor desfecho
clínico. Modelos ou programas sistemáticos de intervenção podem contribuir
para o raciocínio clínico terapêutico e auxiliar o profissional a estruturar
melhor os parâmetros do tratamento
O Modelo ou Sistema de
Especificação de Tratamento de Reabilitação (SETR) é uma proposta direcionada
para construção de programas terapêuticos que é embasado em três pilares:
1.
Definição dos componentes do tratamento de
reabilitação;
2.
Indicação dos alvos, ou seja, dos aspectos de
funcionalidade que se deseja adequar;
3.
Determinação da adequada prescrição e dosagem
dos ingredientes.26, 27
O SETR especifica, a partir de
um modelo conceitual interdisciplinar, as intervenções baseadas no planejamento
terapêutico desenvolvido pelo clínico. Na Fonoaudiologia, o planejamento
terapêutico deve listar ações clínicas que objetivam permitir ao paciente o
retorno à sua adequada função oral ou comunicativa, com base nas unidades de
tratamento, denominadas “componentes do tratamento”.28
O SETR categoriza os
componentes do tratamento em três grupos:
1.
Funções do corpo;
2.
Habilidades e hábitos;
3.
Representações.
Os componentes de tratamento
das “Funções do corpo" envolvem a funcionalidade dos sistemas corporais. O
componente de tratamento “Habilidades e Hábitos” envolve o aprendizado a partir
da repetição, e a formação de novos hábitos. O terceiro componente do
tratamento, denominado de “Representações,” envolve os aspectos cognitivos,
como pensamentos, sentimentos e comportamento volitivo.26,27 A terapia
fonoaudiológica é frequentemente composta por múltiplos componentes, que estão
ligados à manifestação multidimensional da alteração fonoaudiológica.
Como ilustrado na Figura 3-1,
os componentes do tratamento têm uma estrutura tripartite:
A)
Um alvo que especifica qual função do paciente
deve ser modificada pelo(s) ingrediente(s);
B)
Os ingredientes, ou seja, os exercícios
fonoaudiológicos que irão modificar a funcionalidade do alvo;
Fig. 3. Estrutura tripartite do
componente de tratamento. 28
P.
43
C)
Os mecanismos de ação, que definem de forma conceituai, como os ingredientes
afetam o alvo.
De acordo com o SETR, os mecanismos de ação são tipicamente
descritos a partir de formulações teóricas ou de experimentações de pesquisas
clínicas. São, portanto, descritos a partir de modelos conceituais sobre as
modificações funcionais e adequações provocadas pelos ingredientes para se
atingir o alvo terapêutico.27
Os ingredientes e os alvos, por sua vez, devem sempre ser
mensurados durante o tratamento fonoaudiológico. A prescrição dos ingredientes
necessita ser medida para se definir a adequada dosagem dos ingredientes para
se atingir o alvo determinado, isto é, melhores habilidades funcionais e de
capacidade comunicativa.26
Os alvos necessitam de mensuração porque serão os balizadores do processo de
evolução clínica do paciente e indicadores de alta fonoterápica.29
A SETR exige a especificação da prescrição dos ingredientes e
salienta que esta pode precisar ser individualizada para:
A)
Responder às especificidades da gravidade do distúrbio fonoaudiológica e/ou à
presença de comorbidade;
B)
Adaptar às necessidades cognitivas e motivacionais do paciente.30
A quantidade ou dose dos ingredientes, segundo a SETR, deve
sempre ser explici- tada em forma de tempo (duração), ou número de repetições,
a depender da teoria do tratamento elencada.30 Além disso, o SETR exige a especificação de
parâmetros para a progressão da dose dos ingredientes durante o tratamento
fonoaudiológico.30
O Quadro exemplifica três tipos de planejamento terapêutico que englobam o
componente de tratamento “Funções do corpo”.
A partir desse modelo de especificação de tratamento, é
possível estruturar um plano de intervenção ajustável a cada fase do processo
terapêutico, manipulando os parâmetros de descrição em relação à dose ou
quantidade dos ingredientes a partir da mensuração recorrente do alvo
determinado. Em outras palavras, as avaliações periódica e sistemática do
resultado esperado devem direcionar os ajustes a serem realizados na prescrição
do ingrediente selecionado, no intuito de garantir a evolução do quadro e
atingir o melhor resultado possível para o paciente.
Quadro 3-1. Exemplos de planejamento
terapêutico fonoaudiológico a partir do SETR
Diagnóstico |
Ingrediente |
Mecanismo de ação |
Alvo |
Disfonia
compartamental |
Vibração sonorizada
de língua durante 5 minutos |
Estimular o movimento
muco-ondulatório das pregas vocais |
Funcionalidade vocal
(melhora da qualidade da voz) |
Respirador
oronasal |
Protrusão de lábios
em 3 séries de 10 repetições |
Estimulara força dos
lábios |
Funcionalidade labial
(selamento labial) |
Disfagia
orofaríngea |
Deglutição com
esforço (sequência de 7 repetições de 7 deglutições com esforço, com pausa de
2 minutos entre cada sequência) |
Estimular o aumento
da pressão intraoral e faríngea |
Funcionalidade da
deglutição (minimização da formação de resíduos no trato orofaríngeo e
aumentar a proteção de vias aéreas inferiores) |
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O estudo com foco na dose e prescrição de
exercícios para os músculos dos membros e tronco é uma temática bastante
explorada por clínicos e cientistas do exercício. No entanto. recomendações de
dose-resposta para os músculos da cabeça e pescoço ainda não foram definitivamente
determinadas, e a sua definição permanece, em muitos casos, bastante
desafiadora em nossa área.2
De acordo com diretrizes internacionais para dose e
prescrições de exercícios, no planejamento de um programa de treinamento,
alguns componentes precisam ser considerados: tipo de exercício, frequência,
intensidade, tempo (duração da execução, quantidade de repetições, quantidade
de séries, intervalos de descanso) e progressão.2,31
Utilizando a metodologia SETR, esses componentes auxiliam na especificação da
prescrição dos ingredientes que compõem o plano terapêutico.
O tipo de exercício (T) deve ser selecionado de
acordo com o alvo a ser atingido, dessa forma, sua seleção deve ser orientada a
partir dos aspectos de funcionalidade que se deseja adequar. A frequência (F),
intensidade (I) e o tempo (T) são considerados os principais parâmetros
reguladores da dose prescrita, ou seja, da quantidade/volume de exercícios que
o paciente deverá realizar.32
Em linhas gerais, a combinação destes quatro fatores (tipo, frequência,
intensidade e tempo) constitui os componentes básicos do princípio fundamental
da prescrição de exercício (princípio FITT). Os clínicos devem ser capazes de
especificar cada um destes componentes anteriores ao prescrever exercícios aos
seus pacientes.12,32,33
A frequência (F) define quantas sessões de
exercício serão realizadas por semana e quantas séries de exercícios serão
realizadas em um dia, observando-se que uma série de exercícios é definida pelo
número de repetições realizadas sem pausa. O tempo (T) pode ser regulado pelo
período de tempo (em minutos ou segundos) em que o exercício deve ser
realizado, ou ainda pelo número de repetições do exercício escolhido ou da
manobra selecionada em uma série (p. ex.: 10 execuções de deslocamento
anteroposterior de língua com resistência ou 20 deglutições com esforço, 5x ao
dia durante 1 semana; 3 séries de 10 execuções da técnica de b prolongado, 3x
ao dia durante 1 semana). Vale considerar um tempo de pausa entre as séries,
que de forma geral deve seguir uma recomendação de 2 a 3 minutos para a área da
voz, porém, ainda não há um guideline
por proposta de exercício que define o tempo necessário para a pausa.32,34,35 Para as funções
orofaciais também não há evidências sobre o tempo de intervalo entre os
exercícios.
É importante considerar que, embora haja algumas
recomendações sobre a dose de frequência e tempo de exercícios na literatura da
área de voz e funções orofaciais, esses são parâmetros a serem considerados de
forma individualizada na prescrição de exercícios para cada paciente. Do ponto
de vista prático, recomenda-se que o clínico avalie cuidadosamente quanto
tempo/quantas séries devem ser realizadas para cada exercício, levando em
consideração o resultado funcional observado após a realização da dose
prescrita. A sobrecarga de exercícios pode causar fadiga e decréscimo no
desempenho, além de danos, como superaquecimento da musculatura e reações
inflamatórias; em contrapartida, a subdosagem, caracterizada por uma dose
inferior ao necessário, pode não promover as adaptações necessárias,
dificultando a evolução do “tratamento”. Nesse contexto, além das questões
individuais na resposta à dose administrada, deve-se lembrar que cada exercício
possui uma carga de esforço diferente e, dessa forma, os parâmetros de
prescrição podem variar para cada tipo de exercício selecionado.13
P. 45
A intensidade (1), por sua vez, e a quantidade de
esforço ou força exercida durante uma única repetição de um exercício, que pode
ser medida pela porcentagem de uma quantidade
máxima de esforço; caso a abordagem seja facilitada por dispositivo, é
possível determinar com maior precisão a intensidade aplicada, mas durante a
realização do exercício sem auxílio de dispositivos, a simples instrução para
fazer o “máximo que consegue" ou “máximo esforço” de execução pode ser
utilizada, levando em consideração a resposta do próprio executante.2
Na área da voz, o uso do aumento da intensidade destaca-se
nas intervenções propostas para pacientes com quadros hipofuncionais (como a
doença de Parkinson) e em alguns casos de presbifonias, em que o tratamento
prioriza aumentar a intensidade vocal pelo aumento do esforço fonatório a fim
de favorecer a adução das pregas vocais e o aumento do suporte respiratório.
Nesses casos, os exercícios recomendados são de alto esforço, focados no
aumento da intensidade vocal saudável e melhora da funcionalidade vocal.36,37
Na motricidade orofacial e na disfagia os
exercícios com maior intensidade são essenciais para melhorar a força dos
músculos envolvidos nas funções orofaciais. Pode-se iniciar com menor
intensidade e aumentar gradualmente, à medida que o paciente ganha mais controle
e força muscular.2
É importante destacar que a intensidade dos exercícios deve levar em
consideração a condição clínica do paciente, o diagnóstico, a tolerância individual e os objetivos terapêuticos.
Variações na combinação dos elementos do princípio
FITT podem produzir resultados diferentes em relação ao treinamento a ser
realizado. Em linhas gerais, uma faixa de repetições mais baixa com intensidade
de exercício mais elevada pode melhorar a força e a potência muscular, enquanto
uma faixa de repetições mais alta com intensidade mais leve pode melhorar a
resistência muscular. Doses intermediárias em relação à intensidade e tempo de
exercício geralmente são capazes de oferecer melhorias tanto na força, quanto na
resistência muscular (Fig. 3-2).38
Na clínica fonoaudiológica, há pouca consistência
sobre a combinação dos quatros componentes do princípio FITT na prescrição de
exercícios e, por isso, a especificação da prescrição ainda se apoia
fundamentalmente nas experiências clínicas do terapeuta.
Contudo, de acordo com os princípios da prática
baseada em evidências (PBE), além da
Fig.
3-2.
Relação entre objetivo e dose do treinamento, considerando frequência, intensidade
e tempo do exercício38
P. 46
experiência prévia do clínico e das preferências do
paciente, é necessário selecionar a melhor literatura disponível sobre a
intervenção realizada, de forma a garantir uma atuação profissional eficiente,
segura e responsável.
Em se tratando de evidências sobre prescrição e
dose de exercícios no contexto da voz, motricidade orofacial e disfagia, é
possível encontrar alguns exemplos de programas terapêuticos descritos em
pesquisas da literatura, com base no tipo de exercício, frequência,
intensidade, repetição e duração do tratamento e contendo metas e objetivos
funcionais de acordo com a gravidade do quadro por “condição clínica”.
Os Quadros 3-2 e 3-3 apresentam alguns desses
estudos, que foram selecionados a partir de uma busca realizada nas bases de
dados MEDLINE (PubMed), SCOPUS (Elsevier), EMBASE e COCHRANE, utilizando-se os
seguintes descritores: voice,
myofunctional therapy. dysphagia, exercise, training, dose e dosage. O objetivo não foi realizar
uma revisão sistemática propriamente dita, mas selecionar artigos do tipo de
“ensaio clínico”, publicados na última década, que mencionaram claramente os
parâmetros de prescrição dos exercícios e/ou programas de terapia nas áreas da
voz e das funções orofaciais.39-68
É importante destacar que nem todos os estudos
relatam adequadamente todos os componentes do princípio FITT. O tipo de
exercício, a frequência e a repetição/tempo do exercício foram relatadas por todos
os ensaios clínicos; no entanto, a intensidade foi relatada apenas por 13,3%
(n = 4)63-66 e quanto a esse
parâmetro de forma especial, destacam-se a própria inconsistência e limitações
acerca da administração desse aspecto em alguns contextos da clínica
fonoaudiológica. Por fim, a duração do tratamento no qual o exercício foi
inserido também foi relatada por todos os estudos.
A partir desses resultados, observa-se que a
inclusão e o relato detalhado de todos os componentes da prescrição de um
exercício nos estudos de intervenção em voz, motricidade orofacial e disfagia
são imprescindíveis para a interpretação adequada dos resultados de um
tratamento e sua consequente implementação na prática clínica.
Adicionalmente, a progressão do treinamento é um
último aspecto a ser mencionado. Ela pode ser definida como o “ato de avançar
em direção a uma meta específica ao longo do tempo até que o objetivo
pretendido seja alcançado. ”34 No treinamento muscular, o processo de
estímulo-resposta-adaptação ocorre recorrentemente a partir da exposição
repetida a determinados estímulos estressores (exercícios), o que resulta em um
aumento da capacidade funcional do tecido muscular. Nesse sentido, o objetivo
do treinamento é oferecer um estímulo estressor ao organismo, de modo que
ocorra uma adaptação a esse estímulo. Assim, dado que o estímulo não é
suficiente para sobrecarregar adequadamente o organismo, não haverá adaptação.10
Por esse motivo, a progressão do treinamento é um
aspecto necessário, embora bastante desafiador. Sabe-se que é impossível
melhorar continuamente no mesmo ritmo em um tratamento de longo prazo, contudo,
a manipulação adequada das variáveis do programa de treinamento (seleção e
ordem dos exercícios, número de séries e repetições, duração do período de
descanso, intensidade) pode limitar os platôs naturais do treinamento e
consequentemente, permitir a obtenção de níveis mais elevados de aptidão
muscular.35
Nesse sentido, em linhas gerais, a progressão é
necessária para que novas adaptações neuromusculares e metabólicas sejam
provocadas. Para isso, recomenda-se que a progressão envolva, inicialmente, o
aumento da frequência, em seguida o aumento da duração e, por último, o aumento
da intensidade do exercício, maximizando primeiro a variável anterior antes de
aumentar as variáveis subsequentes.32,34,3
P. 47
Quadro 3-2. Exemplos de programas
terapêuticos descritos em pesquisas da literatura na área de voz, com base na
frequência, repetição, intensidade e duração do tratamento
Autor
e ano |
População |
Objetivo |
Exercício |
Repetição/
duração do exercício |
Frequência/
duração tratamento |
Resultado |
Moreira FS e Cama ACC, 201739 |
Mulheres com disfonia, por nódulos em pregas
vocais e mulheres sem queixa vocal |
Analisar o resultado de um, três, cinco e
sete minutos de execução do exercício vocal sopro e som agudo, em mulheres
com disfonia por nódulos vocais e em mulheres sem queixa de voz |
Exercício de sopro e som agudo |
Tempo: 1,3, 5 e 7 minutos |
Única sessão |
O exercício melhorou a qualidade vocal do
grupo de mulheres disfônicas com nódulos vocais 0 tempo ideal de prescrição
do exercício vocal, sopro e som agudo em mulheres disfônicas foi de 3 minutos |
Christmann MK et al., 201740 |
Professoras disfônicas com e sem afecção
laríngea estrutural, do ensino básico e da rede pública |
Verificar medidas vocais acústicas,
perceptivo-auditivas e videolaringoestroboscópicas em professoras disfônicas
de dois grupos de estudo, antes e após um programa de terapia breve intensiva
com a técnica fingerkazoo, comparando-os entre si e com respectivos grupos de
controle |
Programa de terapia breve intensiva (TBI) com
a técnica finger kazoo |
6 séries de 15 repetições, com intervalo de 1
minuto de repouso passivo (silêncio absoluto), entre cada série |
Total: 15 sessões 3 semanas |
A TBI com finger kazoo beneficiou a voz, o
fechamento glótico e a amplitude de vibração da onda mucosa das pregas vocais
de professoras disfônicas com e sem afecção laríngea estrutural, sobretudo
daquelas sem afecção |
(continua)
P.
48
Quadro 3-2 (Cont). Exemplos de programas
terapêuticos descritos em pesquisas da literatura na área de voz, com base na
frequência, repetição, intensidade e duração do tratamento
Autor
e ano |
População |
Objetivo |
Exercício |
Repetição/
duração do exercício |
Frequência/
duração tratamento |
Resultado |
Souza RCD, Masson MLV e Araújo TMD, 201741 |
Professores
da rede pública estadual de ensino |
Verificar
os efeitos do exercício de fonação em canudo comercial na voz de professores |
ETVSO:
canudo comercial de plastico flexível com 21 cm de tamanho e 1 cm de
diâmetro, imerso cerca de 2 a 3 cm a uma garra pet de 500 mL com água até a
metade; com emissão do som /v:/ ou /vu:/ |
3 séries de 10 repetições, em fonação
confortável, sem tensão e em tom habitual, intervalo de 1 minuto entre as
séries |
4 semanas |
O
ETVSO realizado com canudo comercial promoveu melhora na qualidade vocal após
as quatro semanas de intervenção e efeitos benéficos autorreferidos |
Paes SM e Behlau M, 201742 |
Mulheres
com disfonia comportamental e mulheres vocalmente saudáveis |
Verificar
o efeito do tempo de realização do exercício de canudo de alta resistência em
mulheres com disfonia comportamental e em mulheres vocalmente saudáveis |
ETVSO:
canudo de alta resistência (canudo de plástico rígifo de 8,7cm de comprimento
e 1,5mm de diâmetro; Emissão
do vu, em frequência e intensidade
confortáveis) |
Tempo de
7 minutos, com interrupções depois de 1, 3, 5 e 7 minutos |
Única sessão |
O
exercício gerou modificações vocais positivas em mulheres com disfonia
comportamental até o 5° minuto de realização, com predomínio de resposas
positivas no 3º minuti: menor esforço para falar, aumento do TMF e redução da
variabilidade de F0 |
P.
49
Piragibe
PC et al., 202043 |
Mulheres
idosas vocalmente saudáveis |
Verificar
e comparar os efeitos imediatos da técnica de oscilação oral de alta
frequência sonorizada (OOAFS) e sopro sonorizado com tubo de ressonância na
autopercepção de sintomas vocais/laríngeos e na qualidade vocal de idosas |
1.
Ténica de oscilação oral de alta frequência sonorizada 2.
Ténica de sopro sonorizado com tubo de látex de 35 cm de comprimido e 9
mm de diâmetro |
Tempo: 3 minutos de execução para as duas técnicas; Duas sessões, uma para cada técnica, com
intervalo no mínimo 1 semana e de no máximo 2 semanas |
Única sessão |
Ambas
as técnicas apresentam efeitos semelhantes na autopercepção dos sintomas
vocais e laríngeos e qualidade vocal de mulheres idosas, sugerindo que a
OOAFS pode ser empregada com segurança na terapia de voz nessa população |
Gonçalves
DMDR et al,. 201944 |
Cantores
gospel sem queixa vocal, de ambos os sexos |
Investigar
o efeito imediato da fonação em tubo de silicone na autoavaliação e na
qualidade vocal de cantores gospel |
ETVSO:
fonação em tubo de silicone LaxVox (de 35 cm de comprimento, 9-12 mm de
diâmetro), dentro de uma garrafa pet de 500 mL, com 250 mL de água, submerso
em água a 2 cm de profundidade |
Tempo: 3 minutos |
Única sessão |
O
exercício promoveu efeito imediato positivo na autoavaliação da voz e do
conforto fonatório dos cantores Gospel Não
houve diferença na avaliação perceptivo-auditiva pré e pós-exercício em
cantores gospel |
(Continua.)
P. 50
Quadro 3-2. (Cont). Exemplos de programas terapêuticos descritos em pesquisas da
literatura na área de voz, com base na frequência, repetição, intensidade e
duração do tratamento
Autor
e ano |
População |
Objetivo |
Exercício |
Repetição/
duração do exercício |
Frequência/
duração tratamento |
Resultado |
Bane M et al., 201945 |
Mulheres
vocalmente saudáveis |
Examinar
o efeito da dosagem variável da prática domiciliar de exercício da função
vocal (EFV) no alcance d emetas de tempo máximo de fonação (TMF)
preestabelecidas em indivíduos com voz normal |
Protocolo
de Exercícios da função vocal (EFVs): conjunto de quatro exercícios que
consistem em aquecimento, alongamento, contração e exercício de forçã e
adução de baixo impacto |
Grupo
de baixa dosagem: todos os exercícios 1 repetição cada, 2 vezes
ao dia Grupo
dosagem tradicional: todos os exercícios 2 repetições cada, 2
vezes ao dia Grupo
de alta dosagem: todos os exercícios 4 repetições cada, 2
vezes ao dia |
Diariamente durante 6 semanas |
O
grupo de baixa dosafem parece apresentar uma melhora na voz normal, embora
não tenha mudança significativa no TMF O
grupo de dosagens tradicional e alta pode produzir ganhos semelhantes com uma
pequena vantagem no TMF para o grupo de alta dosagem O
grupo de dosagem tradicional parece ter resultado em melhor cumprimento geral
das tarefas praticadas |
P.
51
Martinho DH e Constantini AC, 202046 |
Coristas
de ambos os sexos |
Observar,
pela autopercepção dos sujeitos, os efeitos imediatos de três exercícios de
trato vocal semiocluído: fonação em tubo flexível de látex, finger kazoo e
fonação com canudo de alta resistência; comparar os resultados da
autopercepção entre os grupos com vozes agudas e graves |
ETVSO:
1) Fonação em tubo flexível de látex na água (35 cm de comprimento e 9 mm de
diâmetro, execução de um sopro sonorizado); 2) Finger kazoo (produção de um
sopro sonorizado, com frequência e intensidade habitual); 3) Fonação com
canudo de alta resistência (canudo de plástico rígido, 8,7 cm de comprimento
de 1,5 mm de diâmetro, emissão de vu) |
2 séries pelo tempo de 1 minuto, com o
intervalo de 5 minutos entre as séries |
3 semanas, uma semana para cada tipo de
exercício |
O
tubo de látex foi preferido pelos participantes com vozes graves e bem
classificado com menos benéfico pelos com vozes agudas O
canudo de alta resistência foi preferido pelos participantes com vozes agudas
e classificado como menos benéfico pelos com vozes graves Todos
os exercícios ofereceram efeitos positivos na maioria dos sujeitos |
Siqueira ACO et al., 202147 |
Mulheres
com e sem queixa vocal |
Avaliar
as modificações acústicas e de autopercepção obtidas após o primeiro,
terceiro, quinto e sétimo minutos de prática de técnica de oscilação oral de
alta freuquência sonorizada, realizada com o dispositivo Shaker |
Técnica
de oscilação oral de alta frequência sonorizada soprando o bocal do Shaker,
modelo Classic, ao mesmo tempo em que emitiam a vogal /u/, com pitch e
loudness habituais |
7 minutos: após 1º minuto realizou-se uma
pausa, seguido de 2 minutos, depois mais 2 minutos e, por fim, mais 2 minutos |
Única sessão |
Os
resultados apontam melhor autopercepção dos indivíduos associada ao
desconforto vocal ao longo do tempo após as execuções do exercício de ETVSO
com o uso do Shaker® |
(Continua.)
P. 52
Quadro 3-2. (Cont). Exemplos de programas terapêuticos descritos em pesquisas da
literatura na área de voz, com base na frequência, repetição, intensidade e
duração do tratamento
Autor
e ano |
População |
Objetivo |
Exercício |
Repetição/
duração do exercício |
Frequência/
duração tratamento |
Resultado |
Antonetti AE et al., 202348 |
Homens
e mulheres com disfonia comportamental |
Analisar
a eficácia do ETVSO-Programa Terapêutico (ETVSO-TP) na qualidade vocal e na
autoavaliação, comparando-o com Exercícios de Função Vocal (EFV) |
Grupo do Programa Terapêutico de
ETVSO: 1. Lax Vox
(tubo com 35 cm de comprimento, 9 mm de diâmetro); 2. Fonação de canudo de
alta resistência (10 cm de comprimento, 3 mm de diâmetro); 3. Mão sobre a
boca (oclusão) Grupo domiciliar: 1.
Sustentaram o TMF da vogal/i/; 2. Glissando ascendentes e descendentes; 3.
Fonação sustentada da palavra ol |
Cada exercício e tarefa fonatória foi
realizada por 5 minutos; 35 minutos por sessão Grupo
domiciliar: Exercícios 2 vezes ao dia |
2 sessões por semanas Total: 8 sessões 4 semanas |
Os
ETVSOs do Programa terapêutico proporcionaram os mesmos efeitos que os EFV
Ambos os procedimentos terapêuticos são eficazes na autopercepção da voz
ressonante, fadiga vocal e desvantagem vocal Os ETVSOs têm efeitos positivos
em pacientes com disfonia comportamental leve |
P.
53
França FP, Almeida AA e Lopes LW, 202249 |
Mulheres
com nódulos vocais e vocalmente saudáveis |
Investigar
o efeito imediato da vibração sonorizada de língua (VSL), do canudo de alta
resistência no ar (CAR) e da sobrearticulação (SA) sobre o espaço vocálico de
mulheres vocalmente audáveis (MVS) e com nódulos vocais (MNV) |
1.
Vibração sonorizada de língua (VSL) 2.
Canudo de alta resistência no ar (CAR) 3.
Sobrearticulação (SA) |
5 minutos para cada exercício, porém cada
participante realizou apenas um dos três exercícios propostos |
Única sessão |
O
exercício de VSL diminuiu o espaço vocálico em mulheres com nódulos vocais,
com redução dos valores de F2 no intervalo das vogais [a]-[i] O
exercício do CAR reduz o espaço vocálico de mulheres vocalmente saudáveis,
com diminuição dos valores de F1 nos intervalos [a]- [i] e [i]-[u], e
diminuição dos valores de F2 nos intervalos [a]-[u] e [i]-[u] O
exercício de AS não impactou de forma imediata no espaço vocálico |
(Continua.)
P. 54
Quadro 3-2. (Cont). Exemplos de programas terapêuticos descritos em pesquisas da
literatura na área de voz, com base na frequência, repetição, intensidade e
duração do tratamento
Autor
e ano |
População |
Objetivo |
Exercício |
Repetição/
duração do exercício |
Frequência/
duração tratamento |
Resultado |
Free N et al., 202250 |
Mulheres
com lesões fonotraumáticas nas pregas vocais |
Examinar
o impacto imediato de 30 minutos de exercícios de voz direcionados nas
medidas da função vocal e características das lesões em falantes do sexo
feminino com lesões fonotraumáticas nas pregas vocais |
1.
Fonação com canudo na água (5 mm de diâmetro e 21 mm de comprimento) 2.
Fonação com canudo no ar (5 mm de diâmetro e 21 mm de comprimento) 3.
Vibração de lábios e língua 4.
Sustentação de /z/, /v/, e / Ʒ/
por 10 segundos; 5.
Tempo máximo de fonação sustentado na vogal
/i/ 6.
Voz Ressonante: zumbido
prolongado em /m/ 5 vezes /m/ com vogais 5 vezes; frases com foco em /m/;
fala serial (dias da semana meses e números) |
Tempo: 30 minutos por sessão, 5 minutos para cada
técnica |
Única sessão |
Participantes
com todos os tipos, tamanho e flexibilidade de lesão têm o potencial de mudar
e melhorar as medidas de voz imediatamente após o exercício Algumas
participantes demonstraram melhora imediata em medidas da função vocal, bem
como nas características da lesão após o exercício direcionado |
P.
55
Di Natale, V et al., 202251 |
Atores
profissionais de teatro de ambos os sexos |
Investigar
os efeito de um protocolo de aquecimento ETVSO de 10 minutos na voz dos
atores |
ETVSO:
1. Lax Vox (35 cm de comprimento e 1 cm de diâmetro), com imersão em tubo de
3 cm em água. 20 vocalizações em /u/; 2.
Fonação com canudo (10 cm de comprimento e 3 mm de diâmetro), 20
repetições de /u/; 3.
Vibrações labiais, 10 repetições; 4.
Vibrações de língua, 10 repetições; 5.
Zumbidos, 10 repetições |
Tempo: 10 minutos |
Única sessão |
O
aquecimento vocal com o protocolo ETVSO foi eficaz na melhora autopercebida
no conforto de produção, qualidade vocal e potência |
Legenda: TBI = terapia breve intensiva;
ETVSO = Exercício de Trato Vocal Semiocluído; OOAFS = oscilação de alta
frequência sonorizada; EFV = exercício de função vocal; TMF = tempo máximo de
fonação
P.
56
Quadro 3-3. Exemplos de programas terapêuticos
descritos em pesquisas da literatura na área de funções orofaciais, com
intensidade e duração do tratamento
Autor
e ano |
População |
Objetivo |
Exercício |
Repetição/
duração do exercício |
Frequência/
duração tratamento |
Resultado |
Diaferia G et al., 201352 |
Indivíduos
diagnosticados com apneia obstrutiva do sono (AOS) |
Avaliar
o efeito da terapia fonoaudiológica isolada ou combinada com CPAP na
qualidade de vida de pacientes com AOS por meio de três questionários
diferentes |
Exercícios
de resistência muscular localizados para fortalecer o tônus da musculatura da
região orofaríngea |
Tempo 20 minutos 3 séries de exercícios 1 vez ao dia |
3 meses |
Melhora
de alguns domínios da QV em pacientes com AOS em comparação aos grupos
placebo e CPAP Exercícios
focados na região orofaríngea reduzem a colapsabilidade dos músculos das vias aéreas superiores, melhoram
o reposicionamento da língua durante o sono e melhoram a qualidade do sono em
pacientes com AOS moderada |
Ieto V et al., 201553 |
Indivíduos
com queixa primária de ronco e diagnóstico recente de Apneia Obstrutiva do
Sono (AOS) |
Determinar
os efeitos dos exercícios orofaríngeos no ronco em pacientes minimamente
sintomáticos, com queixa primária de ronco e diagnóstico de ronco primário ou
AOS leve à moderada |
Grupo Terapia: lavagem nasal 3 vezes ao dia
seguido de exercícios orofaríngeos Grupo-Controle: usar tiras dilatadoras nasais
durante o sono, lavafem nasal com solução salina 3 vezes ao dia e realizar
exercícios de respiração profunda pelo nariz enquanto está sentado |
Duração
dos Exercícios: 8 minutos; 3 vezes ao dia |
3 meses |
Foi
observada a presença de redução significativa da circunferência do pescoço no
grupo experimental índice de Ronco Medido Objetivamente e o Índice de Ronco
Total reduziram significativamente no grupo submetido a exercícios
orofaríngeos (experimental) |
P.
57
Diaféria G et al., 201754 |
Homens
de 25 a 65 anos com diagnóstico de Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono |
Avaliar
o efeito da terapia miofuncional na adesão à pressão positiva contínua nas
vias aéreas (CPAP) |
Grupos
de intervenção: 3x ao dia e 1x por semana supervisionado; Placebo: Alongamento do Pescoço |
Duração
de cada exercíco: 3 minutos; Duração
das sessões: 20 minutos; Repetição
diária: 3 vezes ao dia; CPAP:
no mínimo, 4h de uso por noite |
3 meses |
Terapia
Miofuncional Isolada ou em Associação ao CPAP proporciona melhoras
significativas acerca da sonolência excessiva, ronco e apneia e hipopneia A
utilização de exercícios de resistência aumenta o tônus muscular, o
reposicionamento dos tecidos moles e o impedimento do colapso dos músculos
das VAS |
Villa MP et al,. 201755 |
Crianças
com diagnósticos de distúrbios respiratório do sono (DRS) |
Investigar
a eficácia da Terapia Miofuncional (TMO) na redução dos sintomas
respiratórios em crianças com DRS por meio da modificação do tônus da língua |
Grupo de Terapia Miofuncional
(TMO):
Grupo sem Terapia Miofuncional
(TMO): lavagem nasal |
Grupo
TMO: 3
vezes ao dia, de 10 a 20 repetições de cada vez. Todos
o pacientes realizaram lavagem nasal 2 vezes ao dia, pela manhã e à noite |
Grupo TMO: 2 encontros mensais com um
terapeuta miofuncional diariamente em casa durante 2 meses Lavagem nasal: durante 2 meses |
A
TMO reduziu a respiração oral e hipotonia labia, restaurou a posição normal
de repouso da lígua e aumentou significativamente a médio da língua força,
pico de pressão da língua e resistência em crianças com distúrbios
respiratórios do sono (DRS). A saturação médio de oxigênio aumentou e o
índice de dessaturação de oxigênio diminuiu após a TMO. |
(Continua.)
P.
58
Quadro 3-3. (Cont.) Exemplos de programas
terapêuticos descritos em pesquisas da literatura na área de funções
orofaciais, com intensidade e duração do tratamento
Autor
e ano |
População |
Objetivo |
Exercício |
Repetição/
duração do exercício |
Frequência/
duração tratamento |
Resultado |
Lee KH et al., 202056 |
Indivíduos
de ambos os sexos, com e que apresentaram um Mini-Exame do Estado Mental para
triagem de demência [MMSE-DS] (pontuação >24) |
Investigar
os efeitos de dois tipos exercício lingual (deglutição de língua e
treinamento de resistência à pressão da língua) na força muscular oral, na
taxa de fluxo salivar e na saúde bucal de idosos |
Treino
de Deglutição com Contenção de Língua Treino de Pressão de língua |
Treino de Deglutição com Contenção de Língua:
repetições diárias (3 vezes ao dia); Treino de Pressão de língua: 30
repetições |
3 vezes na semana 8 semanas |
Todos
os grupos apresentarem resultados estatisticamente significativos quanto à
força anterior de língua O
grupo submetido a Treino de Deglutição com Contenção de Língua apresentou
aumento significativo da força posterior da língua |
P.
59
Brandão RAFS et al., 202057 |
Adultos, entre 18 a 60 anos com diagnóstico
de DTM segundo a versão brasileira do Research Diagnostic Criteria for
Temporomandibular Disorders (RDC) |
Comparar as características clínicas de
voluntários com disfunção temporomandibular antes e após a realização de
exercícios com as de voluntários que seguiram apenas orientações de
autocuidado |
Grupo de Intervenção: Orientação
de autocuidado e submetidos à terapia proposta (exercícios para alívio da dor
e relaxamento das estruturas relacionadas) Grupo-Controle: instruções sobre autocuidado |
1.
Massagem circular no músculo masseter: 5 minutos; 2.
Passar a porção anterior e superior da língua ao longo da região de
rugosidade palatina e papila alveolar em um movimento de vaivém: 5 minutos; 3.
Exercício de abertura e fechamento da boca com a língua tocando a papila
alveolar: 20 vezes; Movimento
lateral da mandíbula 10 vezes para cada lado |
2 vezes na semana 4 semanas |
Os exercícios isotônicos para alívio da dor
demonstraram nulidade quanto aos aspectos clínicos na intervenção em
voluntários com DTM Algumas mudanças foram encontradas nos
voluntários, como a diminuição do deslocamento do disco com redução dos casos
na observação diagnóstica, melhora do quadro depressiva e redução da dor |
P.
60
Quadro 3-3. (Cont.) Exemplos de programas
terapêuticos descritos em pesquisas da literatura na área de funções
orofaciais, com intensidade e duração do tratamento
Autor
e ano |
População |
Objetivo |
Exercício |
Repetição/
duração do exercício |
Frequência/
duração tratamento |
Resultado |
Souza LG, et al., 202158 |
Mulheres
jovens sem queixa fonoaudiológica |
Comparar
o efeito, na atividade elétrica dos músculos supra-hióideos, de duas
propostas de realização do acoplamento de língua por mulheres jovens |
Exercício
de acoplamento de língua: acoplar o ápice e o corpo da língua no palato,
sustentando a resistência por um determinado período de tempo |
G 10:
3
séries de 10 segundos. C15: 3
séries de 15 segundos |
Única sessão |
Não
foram observadas diferenças no desempenho das séries e na avaliação da atividade
elétrica dos músculos supra-hióideos entre os grupos; não houve decréscimo da
frequência mediana durante a realização das três séries |
Takano S, et al., 202159 |
Adultos
idosos portadores de próteses removíveis com edentulismo parcial |
Avaliar
se exercícios isométricos simples podem manter e melhorar a função oral e as
propriedades dos músculos mastigatórios em idosos durante a fase de
manutenção do tratamento com prótese removível |
Grupo de Intervenção: apertamento máximo Grupo-Controle: bater nos dentes em
uma velocidade arbitrária |
Gl: apertamento
máximo por 10 segundos. GC: bater
nos dentes em velocidade arbitrária por 10 segundos 5 repetições com
intervalo de 5 segundos entre cada repetição 2 vezes ao dia |
4 semanas |
Houve
melhora significativa no grupo de intervenção em relação à força oclusal
máxima, espessura do músculo masseter durante a contração e em repouso |
P. 61
Alves, ICF e Furquim RCA, 201760 |
Indivíduos
adultos idosos, identificados com risco para disfagia orofaríngea |
Verificar
se há melhora funcional do padrão de deglutição em indivíduos indentificados
com risco para disfagia orofaríngea após quatro semanas da realização de
exercícios orofaríngeos específicos com intensidade e duração predeterminados |
Protocolo
de exercícios com sessões presenciais e continuidade das atividades em
ambiente domiciliar |
Tempo: 30 minutos por sessão presencial 3 vezes ao
dia |
1 sessão na semana 4 semanas |
Observou-se
melhora importante no padrão de deglutição, demonstrada pela escala funcional |
(Continua)
P.
62
Quadro 3-3. (Cont.) Exemplos de programas
terapêuticos descritos em pesquisas da literatura na área de funções
orofaciais, com intensidade e duração do tratamento
Autor
e ano |
População |
Objetivo |
Exercício |
Repetição/
duração do exercício |
Frequência/
duração tratamento |
Resultado |
Fujiki, R. B. etal., 201961 |
Idosos
saudáveis, de ambos os sexos |
Comparar
os resultados biomecânicos de deglutição e o esforço percebido, bem como os
efeitos do destreinamento do exercício de elevação de cabeça (Shaker) e do
exercício de inclinação de cabeça em idosos saudáveis |
Grupo
de exercício de elevação de cabeça (Shaker): realizado em decúbito dorsal,
com os ombros tocando o chão: 1.
Contração isométrica: 3 levantamentos de cabeça de 1 minuto com repouso
de 1 minuto 2.
Contração isocinética: levantar a cabeça 30 vezes em movimento contínuo
sem segurar Grupo
de exercício de reclinação de cabeça: Realizado
sentado em um ângulo de 45º na região de lombar 1.
Contração isométrica: manter a cabeça reta neste ângulo de 45°,
resistindo à gravidade, por 1 min cada retenção de 1 min foi seguida por um
período de descanso de 1 minuto 2.
Contração isocinética: levar a cabeça a um ângulo de 45 º e retornar o
queixo ao toráx 30 vezes |
3 vezes ao dia (realizada em casa) |
6 semanas |
Adultos
idosos saudáveis produziram ganhos semelhantes e efeitos de destreinamento
nos resultados biomecânicos da deglutição, quando realizaram os exercícios de
elevação de cabeça (Shaker) e inclinação de cabeça O
exercício de inclinação de cabeça exigiu significativamente menos esforço.
Esses achados sugerem que o exercício de inclinação de cabeça é mais fácil de
realizar em idosos saudáveis |
P. 63
Hsiang CC et al., 201962 |
Individuos
com câncer oral e orofaríngeo submetidos à ressecção do tumor, esvaziamento
cervical e reconstrução |
Determinar
o efeito do exercício oral, além dos cuidados gerais padrão e aconselhamento
dietético na fisiologia da deglutição |
Grupo
1: Exercícios de amplitude de movimento dos lábios, mandíbula e língua Grupo
2: Exercício de resistênca para a língua Grupo-controle:
recebeu instruções quanto aos cuidados padrão, posições adequadas de
deglutição e texturas adequadas dos alimentos |
Os exercícios foram repetidos 10 vezes em uma
sessão 3 sessões ao dia |
12 semanas |
Os
pacientes que realizaram exercícios orais pós-operatórios adicionais
demonstraram melhora significativa nos escores da escala de
penetração-aspiração de Rosenbek e redução nos resíduos orais e faríngeos.
Maiores melhorias nos resíduos orais e faríngeos foram observados com bolos mais
espessos |
Park HS et al., 201963 |
Pacientes
com disfagia orofaríngea após AVC |
Investigar
os efeitos do treinamento de deglutição com esforço na força da língua e na
função de deglutição em pacientes com AVC |
Grupo
experimental: treinamento de deglutição com esforço (empurrar a língua
firmemente no palato enquanto apertar os músculos do pescoço e engolir com a
maior força possível) Grupo-controle:
deglutição de saliva |
O treino de deglutição com esforço foi
realizado 10 vezes por sessão Tempo: 30 minutos ao dia 3 sessões ao dia |
5 sessões por semana Total: 20 sessões 4 semanas |
O
grupo experimental apresentou maiores melhorias na força anterior e posterior
da língua e maior melhora nas fases orais da Escala Videofluoroscópica de
Disfagia |
(Continua)
P. 64
Quadro 3-3. (Cont.) Exemplos de programas
terapêuticos descritos em pesquisas da literatura na área de funções
orofaciais, com intensidade e duração do tratamento
Autor
e ano |
População |
Objetivo |
Exercício |
Repetição/
duração do exercício |
Frequência/
duração tratamento |
Resultado |
Park
JW, Hong HJ, Nam K 202064 |
Adultos
sadáveis |
Comparar
três exercícos diferentes para disfagia para ver se eles têm efeitos na força
da língua |
G1: exercícios isométicos (pressão de
língua) usando o Iowa Oral Performance Instrument (IOPI) (modelo 2.1: IOPI
Medical LLC, Carnation WA, EUA G2: deglutição forçada de 5 mL de
água G3: deglutição com 5 mL de
deglutição de água na postur de queixo para baixo |
G1: 24 minutos G2: 30 minutos G3: 30 minutos 1 vez ao dia |
3 sessões por semana Total: 12 sessões 4 semanas |
As
medidas de força da língua aumentaram significativamente em todos os grupos Todos
os exercícios de fortalecimento de língua tiveram bons efeitos na melhora da
função de deglutição |
Van
den Steen L et al., 202165 |
Aultos
idosos saudáveis, de ambos os sexos |
Determinar
os efeitos do treinamento e do destreinamento do fortalecimento de língua com
frequência de exercício de respectivamente 3 e 5 vezes por semana nas
pressões isométricas máximas anteriores e posteriores da língua e na força
anterior e posterior da língua durante uma deglutição de saliva com esforço |
Grupo experimental 3 e Grupo
experimental 5: treinamento
de fortalecimento de língua com o Iowa Oral Performance Instrument versão 2.3
(IOPI Medical LCC, Redmond, WA, EUA) |
Sessão de treinamento: 24 séries de 5 repetições com 30 segundos de
descanso após cada série e com o nível-alvo estabelecido em 80% de 1RM |
Grupo EX3: 3 vezes na semana Grupo EX5: 5 vezes na semana 8 semanas |
Aumentos
significativos nas pressões máximas isométricas anteriores e posteriores da
língua e na força de língua anterior e posterior durante um esforço de
deglutição de saliva foram medidos para treinamento 3 e 5 vezes por semana.
Nenhuma diferença significativa foi encontrada entre os grupos |
P.
65
Lin CH et o/., 202166 |
Adultos
saudáveis |
Examinar
o efeito do treinamento de resistência da língua ao palato na força anterior
e posterior da língua, conduzindo um estudo prospectivo, randomizado e de
alocação paralela |
Grupo experimental: treinamento
de resistência língua-palato, comprimindo um bulbo cheio de ar entre a língua
e o palato duro Grupo-controle: atividades diárias habituais |
Tempo: 30 minutos sessão |
5 sessões por semana Total: 40 sessões 8 semanas |
O
grupo experimental demonstrou mais melhorias tanto na força da língua
anterior quanto na força da língua posterior. Os efeitos positivos da
intervenção na força da língua apareceram em 8 semanas para a região anterior
e 2 semanas para a região posterior |
Turra GS et al., 202167 |
Adultos
pós-intubação orotraqueal acima de 48 horas com disfagia orofaríngea |
Verificar
a eficácia da fonoterapia no retorno precoce da via oral em pacientes com
disfagia pós-intubação orotraqueal |
Grupo tratado: 1.
Planejamento terapêutico individual 2.
Estratégias compensatórias 3.
Ajuste de fatores ambientais 4.
Estratégias terapêuticas: resposta de deglutição e dieta por via oral,
estratégias de proteção das vias aéreas e manobras de limpeza glótica,
exercícios motores e de coordenação Grupo-Controle: terapia placebo: não receberam
os procedimentos fonoaudiológicos propostos |
3 séries de 10 repetições Tempo: 30 minutos
para o grupo tratado 1 vez ao dia |
Máximo de 10 dias |
Foi
identificado melhora da disfagia orofaríngea, com retorno precoce e seguro da
ingesta oral, em pacientes internados em UTI com disfagia pós-intubação
orotraqueal, comparando os períodos antes e depois da intervenção fonoaudiológica |
P.
66
Quadro 3-3. (Cont.) Exemplos de programas
terapêuticos descritos em pesquisas da literatura na área de funções
orofaciais, com intensidade e duração do tratamento
Autor
e ano |
População |
Objetivo |
Exercício |
Repetição/
duração do exercício |
Frequência/
duração tratamento |
Resultado |
Diaféria G et al., 202268 |
Indivíduos
com ataxia espinocerebelar tipo 3 (AEC3), de ambos os sexos |
Avaliar
o impacto de um programa de reabilitação fonoaudiológica na qualidade de vida
de pacientes com ataxia espinocerebelar tipo 3 |
Grupo
de intervenção: Programa
de terapia miofuncional orofacial e vocal (A-TMOV), o programa enfoca a
reabilitação de fala e envolve resistência muscular orofaríngea e exercícios
vocais para melhorar a tonicidade muscular, mobilidade, controle postural e
função dos tecidos moles (palato mole, músculos constritores da faringe,,
músculos supra-hióideos, ponta e raiz da língua, bochechas e lábios) Grupo-controle:
não houve intervenção |
Grupo de Intervenção: 20 minutos 3 vezes ao dia em casa |
1 vez por semana com terapeuta Total: 12 sessões 3 meses |
Houve
mudanças significativas na qualidade de vida no Grupo de Intervenção em
comparação ao Grupo-Controle. A terapia ajuda a melhorar a dificuldade de
deglutição e a disartria, além de
melhorar na voz |
P.
67
Quadro
3-4. Estratégias
para a prescrição de exercícios administrados nas intervenções em voz e funções
orofaciais11
§
Considerar
criteriosamente os alvos da intervenção e a hierarquia de prioridades para o
plano de tratamento
§
Observar
e registrar o grau ou a intensidade do comprometimento apresentado pelo
paciente; observar se a condição apresentada é aguda ou crônica, pois isso pode
determinar a manipulação do ingrediente a ser ministrado
§
Selecionar
métodos, técnicas, exercícios com efeitos cientificamente reconhecidos para os
alvos estabelecidos
§
Demonstrar
a execução clara e apropriada do exercício (movimentos corretos vs. movimentos
incorretos); pedir ao paciente para que imite o exercício
§
Se
for apropriado ou realizável, guiar o paciente para o exercício desejado com
comandos verbais, apoio tátil, proprioceptivo e visual
§
Usar
comandos verbais e escritos preferencialmente positivos, claros e concisos; se
necessário ou aplicável, complementar a prescrição com desenhos/ilustrações
§
Usar
estratégias para garantir a execução adequada do exercício prescrito
§
Pedir
ao paciente que execute o exercício, enquanto o terapeuta supervisiona
atentamente e faz comentários pertinentes (fazer comentários específicos,
relacionados com a ação, e não comentários gerais não descritivos)
§
Selecionar
doses (frequência, intensidade, duração, repetições, séries) para cada
intervenção, preferencialmente recomendadas em ensaios clínicos disponíveis na
literatura, para o alvo estabelecido; estar atento aos níveis de conforto e
preferências sobre a conduta por parte do paciente
§
Estabelecer
um padrão para intervalos de descanso predeterminados
§
Monitorar
o resultado da dose selecionada a partir de testes específicos; reajuste a dose
sempre que houver piora do parâmetro avaliado; considere a progressão gradual
da dose para maximização dos ganhos
§
Respeitar
os limites pessoais do paciente e terapêuticos do caso clínico
Por fim, é importante destacar que a recomendação adequada
sobre os exercícios selecionados é fundamental para uma boa prescrição. O
alcance do alvo estabelecido requer atenção à execução adequada do exercício,
pois mesmo que o ingrediente seja selecionado corretamente, sua má execução
pode influenciar negativamente o mecanismo de ação que se deseja acionar. Dessa
forma, o olhar atento do clínico sobre o exercício realizado pelo paciente e a
ministração de todas as orientações necessárias para a execução correta da
prescrição são requisitos fundamentais nesse processo.
O Quadro 3-4 sumariza uma série de estratégias a serem
consideradas para uma melhor prescrição de exercícios no contexto das
intervenções em voz e funções orofaciais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estabelecer diretrizes ideais para a prescrição e dosagem de
exercícios em voz e funções orofaciais nas intervenções fonoaudiológicas é um
desafio crucial que nossa área enfrenta, com o objetivo de garantir que os
pacientes recebam tratamentos eficazes e personalizados. Precisamos
identificar os ingredientes ideais das intervenções fonoterápicas. Isso
significa examinar minuciosamente quais técnicas e abordagens terapêuticas que
empregamos têm o melhor impacto funcional e, consequentemente, melhores
resultados no tratamento. Essa análise detalhada nos permitirá direcionar
nossos esforços para os aspectos mais eficazes da intervenção, otimizando assim
os benefícios para os pacientes.
P. 68
É
essencial explorar o efeito de diferentes combinações de prescrição nas
intervenções. Isso envolve considerar elementos, como a frequência dos
exercícios, intensidade, tempo (duração), tipo, repetições, séries, padrão
(intervalos de descanso) e progressão. O raciocínio clínico do terapeuta
necessita envolver um estudo cuidadoso para determinar como ajustar todos estes
elementos com as necessidades de cada quadro clínico.
Para
estabelecer diretrizes ideais de prescrição e dosagem dos exercícios nas intervenções
em Fonoaudiologia, é fundamental o desenvolvimento de pesquisas que avaliem os
ingredientes eficazes das intervenções, definindo seus mecanismos de ação e
alvos terapêuticos. Pesquisas que explorem como a dose e a intensidade afetam
os resultados do tratamento, e encontrem maneiras práticas de implementar essas
diretrizes no ambiente clínico. Ao fazer isso, podemos garantir que os
pacientes recebam o tratamento mais eficaz e personalizado possível, melhorando
sua qualidade de vida e comunicação de maneira significativa.
As
diretrizes apontadas neste capítulo devem ser utilizadas como guia de orientação
geral para os raciocínios clínico e científico no processo de tomada de decisão
sobre a prescrição de exercícios na clínica fonoaudiológica. Para a
interpretação adequada do conteúdo aqui exposto, recomenda-se que as devidas
particularidades relacionadas aos aspectos anatomofisiológicos e princípios de
intervenção nas áreas Voz, Motricidade orofacial e Disfagia sejam
criteriosamente observadas e respeitadas.
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